A trajetória do jogador de vôlei Aboubacar Dramé, 28 anos, não é diferente de muitos atletas do Distrito Federal: início na infância, dedicação e, finalmente, a profissionalização. Entretanto, um continente o separa de suas raízes. A família é natural do Malé, noroeste da África, os pais chegaram a Brasília na década de 1980. O pai do esportista, Moussa, trabalhava como cozinheiro na embaixada da Costa do Marfim e foi transferido para o Brasil junto com a esposa, Koumba.
Na capital federal, mais exatamente em São Sebastião, passaram a levar vida, tiveram filhos. Não demorou para a vizinhança incorporar a família à comunidade. Mais do que amigos de porta, muitos acabaram ocupando o papel de família, parentes brasileiros e brasilienses para os imigrantes.
Medalhista de bronze nos jogos Pan-Americanos de 2019, em Lima, durante a faculdade Aboubacar chegou a defender o Minas Tênis Clube, disputou o Campeonato Mundial de Clubes de 2016, em Betim, além de participar dos Jogos Universitários Sul-Americanos, em Buenos Aires. Uma trajetória acompanhada e comemorada de perto pela família de sangue e a afetiva, como define o técnico de laboratório Luís Fernando Claudino Couto, 30.
A amizade nasceu quando ambos tinham três anos de idade. Eles lembram que cresceram brincando nas ruas de São Sebastião. "Ele também chegou a jogar vôlei durante um período e depois foi para o futebol, foi quando eu tentei acompanhar", recorda Aboubacar. "Era muito legal na época do esporte porque era uma brincadeira para a gente. Voltávamos nos divertindo, tocávamos a campainha da casa dos outros e saíamos correndo, coisa bem típica de criança", brinca Luís. Aboubacar começou a jogar vôlei aos oito anos, por influência das irmãs Mariam, Fatoumata e Aminata. Fernando também tem um irmão mais velho.
No bairro, a 23km, do Plano Piloto, as crianças das duas famílias estavam sempre brincando juntas. Churrasco nos fins de semana e confraternizações compõem as memórias dos adultos de hoje.
Irmãos que se escolheram
A afinidade era tanta que Aboubacar e Fernando escolheram a mesma faculdade, mas com campos distintos. Enquanto Dramé jogava e cursava uma graduação em tecnologia, Fernando foi para a área da saúde, mas nada que os afastasse. "Sempre apoiamos um ao outro, eu estava em todos os jogos e ele me apoiando nas minhas escolhas também. É uma relação de irmão mesmo", diz Nando, como é chamado pelo amigo.
Embora a vida adulta tenha levado os amigos a não compartilharem mais a vizinhança, a família segue unida. "Toda vez que volto para Brasília eu vou para a casa dele, relembramos o tempo de infância. Ele é um cara que é praticamente um irmão", garante o jogador, que atualmente mora na França. "Nossos pais até hoje moram na mesma casa e quase todo final de semana tem almoço em família. É como se nada tivesse mudado", admira o técnico de laboratório.
Em 2020, Luís Fernando se casou e o padrinho não poderia ser outra pessoa senão Aboubacar. A festa de enlace precisou ser adiada por conta da pandemia de covid-19 e, quando foi marcada, o jogador estava fora do Brasil. Mas isso não foi um empecilho, mesmo on-line lá estava Aboubacar comemorando com o amigo. "Sinto falta dele por aqui, mas mesmo longe ele não deixa de participar de nada", confessa Nando.
A distância não rompeu com os laços, e sim fortaleceu o sentimento de carinho e irmandade entre os amigos. Pouco tempo depois de chegar na França, Dramé teve uma lesão séria, a ruptura do tendão de Aquiles e precisou ficar sem jogar. "Até nos momentos mais difíceis, sempre estivemos presentes um para o outro. Ele ficou parado, eu sempre falei que iria dar tudo certo e deu."
Apaixonado por Brasília, Dramé só saiu da capital quando se tornou atleta profissional. "Minhas raízes são de Brasília. Quando me aposentar, é onde irei morar", garante. O jogador afirma que não se vê morando em outro lugar que não o Distrito Federal. "É minha casa, não me sinto tão bem quando estou fora do Brasil. E esse é nosso objetivo, quando me aposentar, viver em Brasília, fazer outras coisas quando minha família", completa.
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