DISPUTA

Eleições 2022 no DF serão marcadas por crise, segurança e pandemia

Corrida eleitoral no Distrito Federal discutirá os três temas com enfoque no combate às fake news. Polarização do cenário nacional também será explorada, conforme especialistas adiantaram ao Correio

Ana Isabel Mansur
postado em 15/04/2022 06:00 / atualizado em 15/04/2022 10:51
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Economia, saúde e segurança devem ser os eixos centrais da campanha eleitoral no Distrito Federal em 2022. Junto a esses temas, estarão o combate às notícias falsas e a corrupção entre candidatos. A previsão é de especialistas ouvidos pelo Correio. As análises apontam que a pandemia da covid-19 vai continuar comandando o debate público, mas, desta vez, com outro viés além da saúde — a crise financeira. Sob o guarda-chuva da emergência sanitária, estarão as discussões que vão permear o debate no cenário nacional e respingar sobre o DF, como a polarização, o desemprego, a alta de preços e a diminuição do poder aquisitivo da população.

André César, cientista político da Hold Assessoria Legislativa, adianta que a economia será o tema central e o coração da disputa no DF. "Tudo em torno da crise estará em voga, como desemprego e aumento da inflação e dos juros. A preocupação do eleitor nacional se reflete em cada região, e os candidatos sabem disso", observa o especialista. Para o cientista político, o cenário de dificuldades financeiras reforça a preferência do público por políticos experientes. "Diferentemente de 2018, o discurso sobre a 'nova política' se esgotou — notamos isso nas eleições municipais de 2020", aponta André César.

A ideia é reforçada por Marcelo Vitorino, consultor e professor de comunicação e marketing político, que destaca o aspecto para a disputa ao Legislativo local. "Para a CLDF (Câmara Legislativa do DF), os políticos mais conhecidos levam vantagem. Depois de momentos de crise, como uma pandemia, a população tende a escolher políticos mais experientes. Vimos isso em 2020, quando o índice de reeleição, na comparação com 2016, subiu mais de 50%. Há tendência de políticos que haviam sido estigmatizados em 2018 voltarem", analisa o comunicador.

Na avaliação de André César, porém, a suposta vantagem não se reverterá em facilidade sobre os demais postulantes. "A realidade de crise aguda econômica, a dificuldade de recuperação geral, a saúde e o significado da pandemia vão demandar dos candidatos discursos melhor conduzidos, com propostas mais factíveis. O eleitor não vai comprar tão fácil assim propostas mirabolantes. Será uma campanha interessante nesse sentido", completa.

Covid-19

Paulo Fona, ex-porta-voz do Governo do Distrito Federal e ex-secretário de Imprensa da Presidência da República, acredita que as questões sanitárias terão protagonismo durante a campanha. "Por conta da pandemia da covid-19, a saúde será um tema bastante discutido, com destaque para as dificuldades que a população encontra para ter bom atendimento médico-hospitalar", argumenta.

Para Marcelo Vitorino, a condução do DF durante a crise do coronavírus será avaliada pela população e explorada pela oposição. "A eleição para governador será plebiscitária, ou seja, o eleitor vai, basicamente, decidir se aprova ou desaprova a gestão de Ibaneis Rocha (MDB), e não escolher, de fato, entre o atual governador e outro candidato. São coisas diferentes", avalia o especialista. Nessa discussão, as pautas, segundo Vitorino, vão incluir combate à pandemia, aspectos sociais, educação e manutenção do Estado, isto é, questões não ideológicas. "A tendência dos adversários de Ibaneis é olhar para assuntos sociais, culturais, de esporte, de lazer e de cidadania, que podem ter ficado de lado durante o mandato. O contraponto do governador será o combate à pandemia, que acabou orientando o governo", completa.

André César aponta que a importância das argumentações sobre a saúde foi reforçada pela pandemia e suscitou a conversa sobre assuntos adjacentes. "Haverá questionamento quanto a novas ondas e novas cepas, será um debate permanente. O DF sentiu o fechamento de empresas, comércios e serviços, então são temas inevitáveis", analisa.

Mentiras

Leticia Medeiros, diretora da ONG Elas no Poder, crê que o pano de fundo das campanhas deste ano não será diferente daquele visto em 2018. "Independentemente dos temas, o que podemos esperar destas eleições é, mais uma vez, uma batalha contra a violência política e as fake news", prevê. Para a cientista política, a atuação da população nesse combate é essencial. "Vai ser muito importante o próprio eleitorado atuar como um balizador dessas questões. Enquanto o próprio eleitor for conivente com essas práticas criminosas, não veremos mudanças na nossa cultura política", pontua.

O ex-porta-voz Paulo Fona liga as notícias falsas ao debate sobre crimes políticos e impunidade. "A corrupção ainda será debatida, por conta do fim da Operação Lava Jato e o retorno de políticos cassados. Será tratada, mas não com a ênfase de 2018. As fake news serão motivo de discussões — quais agentes produzem, qual é a versão verdadeira", adianta.

Complementando o colega, André César associa a corrupção e as informações mentirosas ao tema da segurança pública, que, na opinião dele, também será uma questão sensível até outubro. "É um fenômeno que pegou todos os estados, e a Câmara dos Deputados reflete bem isso, a discussão sobre 'nova política' em cima do discurso de combate à corrupção. Não vai se repetir com força como em 2018, porque é a menor preocupação da população nas pesquisas, mas ainda é uma preocupação", analisa o cientista político.

Ele chama a atenção para as dificuldades de combater as fake news. "Por mais que órgãos, plataformas digitais e sociedade civil tentem contê-las, as mentiras em cascata sempre existiram. A tecnologia permite disseminação em tempo real e imediata, e o dano que causa é quase impossível de ser revertido, então será um desafio. Para este ano, vejo uma onda de informações falsas mais forte do que em 2018. É inevitável, vai ser um instrumento muito utilizado", espera.

Leticia Medeiros lamenta o protagonismo das notícias não verdadeiras. "Quem perde com isso somos todos nós. Afinal, as pessoas que poderiam realmente fazer a diferença acabam desistindo de se candidatar, justamente pelo fato de o processo eleitoral ser violento e contar com certa conivência da sociedade", critica.

Polarização

Paulo Fona acredita que o antagonismo será visto nas campanhas da capital federal. "A polarização vai se reproduzir aqui e vai provocar discussões. Tudo que uma turma falar ou defender vai ser questionado pela outra turma, e vice-versa", prevê. O ex-secretário de imprensa também menciona a influência de outros aspectos nacionais no clima distrital. "Uma novidade do período pós-Bolsonaro é que questões culturais e comportamentais, como o armamento da população e o aborto, que não costumavam ser pautas de discussão, estão mais em evidência. Vários candidatos a deputado federal são defensores disso, então esses assuntos vão voltar", espera.

Em contrapartida, André César não crava a reprodução da disputa nacional entre lados antagonistas no Distrito Federal. "Não dá para aferir ainda com certeza, mas acho que a polarização também será uma tendência no DF. Vejo o DF, hoje, como um terreno fértil para o reforço da polarização. Quem tiver um discurso mais ou menos buscando uma terceira via pode ter menos espaço e menos chances no grande jogo", supõe o cientista político.

Para Marcelo Vitorino, as disputas de lados claramente opostos não serão, necessariamente, a tônica da polarização. "Os candidatos terão dificuldade na hora de apresentar as ideias para a população, que está com a atenção diversificada em vários meios e só consome conteúdos que interessam — e, via de regra, não são sobre política", analisa o comunicador. "Ao mesmo tempo, há uma escassez muito grande de profissionais de comunicação. Não basta ter diferenças em relação aos concorrentes, é preciso saber comunicá-las de formas interessantes para os eleitores", finaliza.


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Calendário eleitoral

Saiba os principais prazo definidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para as eleições de 2022

  • De 20 de julho a 5 de agosto: convenções partidárias e registros de candidaturas.
  • Até 12 de agosto: divisão do tempo de propaganda eleitoral gratuita nos meios de comunicação.
  • A partir de 16 de agosto: comícios, distribuição de material gráfico, caminhadas e propagandas na internet.
  • Até 12 de setembro: julgamento de registros aos cargos de presidente e vice-presidente.

Fonte: TSE

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