Com o olhar voltado para a saúde mental das mulheres no período do pós-parto, fase em que a mulher experimenta modificações físicas e psíquicas, profissionais da saúde de Brasília criaram o projeto Acolhendo o Puerpério, com o objetivo de "ressignificar" o atendimento profissional prestado a mães e bebês.
Incomodadas com a assistência oferecida atualmente para este público, Aline França (doula), Juliana Neri (nutricionista materno-infantil) e Camila Barros (psicóloga) — três amigas que acreditam "na força do feminino para tornar o mundo um lugar mais empático e pacífico" — criaram o programa Acolhendo o Puerpério.
"Ao longo de anos de atuação e em nossas experiências pessoais, vimos que o foco da assistência é voltado para o bebê e deixa de lado as especificidades da mulher-mãe, peça valiosa da equação. Viemos ressignificar o atendimento às puérperas, mudar a visão intervencionista da assistência ao pós-parto, a tornando mais empática e leve”, explica a psicóloga Camila Barros, uma das idealizadoras do projeto.
O canal funciona como um guia de boas práticas e iniciou as atividades em 2021, utilizando as redes sociais como plataforma de troca de conteúdos e reflexões sobre a conduta e o preparo de profissionais que atendem mães e bebês nas primeiras semanas de vida. O perfil do projeto no Instagram já soma quase 4 mil seguidores.
“Nossos objetivos são o absoluto respeito, acolhimento sem julgamento e oferta de técnicas e recursos atualizados e baseados em evidências científicas, dando à puérpera a oportunidade de viver sua maternidade de forma mais autônoma e segura”, diz a psicóloga.
Curso ‘Rastreando sinais de sofrimento mental materno’
Com foco na educação de profissionais que trabalham, com gestantes e puérperas para o atendimento e rastreamento de sintomas de sofrimento mental materno, o projeto Acolhendo o Puerpério vai promover um minicurso, 100% on-line, no próximo sábado (9/4).
A ideia é preparar profissionais como doulas, enfermeiras, médicos, profissionais de educação física, fisioterapeutas, terapeutas Integrativos, entre outros, para identificar os sinais do desenvolvimento e saber como encaminhar para os profissionais mais adequados.
"Esses profissionais têm o maior contato com as mães nessa fase de vulnerabilidade e a maioria não está preparada para identificar o sofrimento materno. O curso é para preparar esse profissionais para identificar e encaminhar para o atendimento especializado mais adequado", explica a psicóloga Camila Barros.
O encontro terá a duração de 4 horas e tem como público-alvo profissionais de todas as áreas de formação que atendem mulheres na fase do pós parto. A aula será mediada pela psicóloga Camila Barros e tem o custo de R$ 497. É possível garantir um desconto de 30% utilizando o cupom SAUDEMENTAL30.
As inscrições podem ser feitas na página de vendas do curso.
Diretrizes da OMS sobre o atendimento no pós-parto
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no mundo, mais de três em cada 10 mulheres e bebês não recebem cuidados pós-natais nos primeiros dias após o parto — período em que ocorrem a maioria das mortes maternas e infantis.
Neste sentido, a assistência especializada é crucial para garantir a vida e o desenvolvimento saudável do bebê, bem como a sobrevivência, a recuperação e o bem-estar físico e mental da mulher.
Na última semana, a OMS lançou diretrizes globais para apoiar mulheres e recém-nascidos no período pós-natal. Essa é a primeira vez em que a organização lança um documento com alertas específicos para a atenção à saúde mental materna. As diretrizes incluem 63 recomendações, sendo 32 já existentes e 31 novas ou atualizadas.
As intervenções pretendem prevenir o adoecimento mental no pós-part e rastrear sinais de sofrimento emocional. Confira as principais orientações da organização que ajudam a tornar a experiência pós-natal positiva para mulheres, bebês e famílias:
- Atenção de alta qualidade em unidades de saúde para todas as mulheres e bebês por pelo menos 24 horas após o nascimento, com um mínimo de três exames pós-natais adicionais nas primeiras seis semanas.
- Esses contatos adicionais devem incluir visitas domiciliares, se possível, para que o profissional de saúde possa apoiar a transição para os cuidados domiciliares. No caso de parto domiciliar, o primeiro contato pós-natal deve ocorrer o mais precocemente possível e, no máximo, 24 horas após o nascimento;
- Passos para identificar e responder aos sinais de perigo que necessitam de atenção médica urgente para a mulher ou o bebê;
- Tratamento, apoio e aconselhamento para ajudar na recuperação e gerir problemas comuns que as mulheres podem sentir após o parto, como dor perineal e ingurgitamento mamário.
Triagem de todos os recém-nascidos para anormalidades oculares e deficiência auditiva, bem como vacinação ao nascimento; - Apoio para ajudar as famílias a interagir e responder aos sinais dos bebês, proporcionando-lhes contato próximo, aconchego e conforto;
- Aconselhamento sobre aleitamento materno exclusivo, acesso à contracepção pós-natal e promoção da saúde, inclusive para atividade física;
- Incentivo ao envolvimento do parceiro, participando de consultas, por exemplo, além de dar apoio à mulher e cuidar do recém-nascido.
Triagem para depressão e ansiedade materna pós-parto, com serviços de referência e gestão quando necessário.
Além do tempo mínimo de permanência hospitalar após o nascimento, as recomendações fornecem orientações sobre os critérios de alta, observando a individualidade de cada família, contexto social, experiência de parto e quaisquer problemas de saúde.
A OMS também recomenda que as unidades de saúde façam contatos pós-natais com as mulheres e recém-nascidos saudáveis nas 48 e 72 horas seguintes ao nascimento, entre sete e 14 dias e durante a sexta semana após o nascimento.
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