Um lugar de histórias, valores e afeto. A Praça do DI é um marco e patrimônio cultural para os moradores de Taguatinga. Mas, nos últimos dias, a comunidade vive um dilema em relação ao espaço público. Parte do terreno, com aproximadamente 800 m² — medida que corresponde a um terço do local — foi vendida pelos Correios para uma instituição de iniciativa privada que, segundo populares, construirá um posto de gasolina. Inconformados, os moradores se organizaram para protestar contra a venda do lote, às 10h, deste sábado (2/4).
O espaço que mobiliza e desperta paixões na comunidade sofre a contradição do abandono. No retângulo cercado por bares e restaurantes, as mesas e bancos de concreto atraem amantes do carteado, jogos de xadrez e dominó. Meio-fio e concreto estão danificados, o que dificulta a circulação de pessoas com mobilidade reduzida. Entulho e lixo completam o cenário de um dos locais mais tradicionais da cidade.
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Além de lutar contra a venda do lote, quem desfruta do espaço reivindica a reforma da praça. Uma das idealizadoras do ato que ocorre neste sábado, Leda Gonçalves, 57 anos, faz um apelo para que a população de todo o Distrito Federal se sensibilize com a luta e participe da manifestação. “Nós temos que abraçar esta praça, ela é nossa. A comunidade tem que vir, ocupar e sair dessa cultura fechada. Temos que sair para a praça com os nossos amores e amigos. Precisamos viver a praça”, diz.
Outro lado
O Correio procurou a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) para entender o motivo da venda de parte da praça. A pasta informou que o lote em questão é propriedade privada dos Correios. E acrescentou que a Praça do DI, é um equipamento público. Isto significa que a mudança de destinação do terreno, deve, antes, passar pela análise dos técnicos da pasta, assim como ser submetida a uma audiência pública para receber o aval da população.
Ainda de acordo com a Seduh, é necessário um aval prévio do Conselho de Planejamento Territorial e Urbano do DF (Conplan) antes que a proposta seja votada na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Até o momento, a empresa que comprou o lote não fez contato com a Seduh para formalizar a proposta de ocupação do espaço.
Os Correios esclareceram à reportagem que o imóvel localizado no Setor A Norte PCA CNA, em Taguatinga Norte, com área de 800 m² foi alienado, por meio de licitação pública, em 19 de janeiro de 2021. O terreno foi vendido por R$ 2,3 milhões, conforme disposto na Escritura Pública de Compra e Venda. A destinação da área será definida pelo atual proprietário do imóvel. O nome dos compradores não foi informado.
Cinco décadas
Com os olhos marejados e voz embargada, Eloy Barbosa, 76 anos, descreve, apontando para cada espacinho da praça, momentos marcantes que viveu ali em mais de cinco décadas ao lado de amigos e também dos filhos. O passatempo incluía jogos, apresentações culturais, práticas esportivas e brincadeiras. “Eu vinha com a minha esposa na praça, depois com os meus três filhos, para andar de skate e de bicicleta. Em seguida, também levei meus netos para passear e jogar bola”, relata.
Uma das melhores histórias contadas pelo aposentado é sobre seu filho, Tiago Barbosa, que, indo regularmente à praça praticar skate, se tornou um atleta. Atualmente, a Praça do DI não possui mais a pista para a prática. Ela foi retirada pela administração sob a alegação de que o local era usado por pessoas em situação de rua. A pista se foi, mas os menos favorecidos, continuam tendo na praça do DI, um ponto de abrigo. “Fiquei sem a praça”, afirma Eloy. “Para nós, que somos idosos, é como se eles tivessem arrancado um pedaço da gente. É como se eu tivesse perdido alguém da família”, desabafa.
Cultura
O presidente do celeiro literário brasiliense e escritor, Ismar Lemes foi responsável por idealizar diversos encontros culturais na Praça. Além disso, destaca que a poesia encontrou muitos corações durante esses eventos, principalmente aqueles que passaram diariamente pelo local. “A praça é nossa, a praça é do povo e não vendemos a praça. Nós ocupamos a praça culturalmente”, pondera.
Ele defende que a praça seja usada para saraus poéticos, lançamentos de livros e cesta de poesia, que oferece obras poéticas à poupulação em troca de abraços. Ao comentar sobre seu sentimento em relação à venda do espaço, Ismar é incisivo no que diz respeito à posse da comunidade sobre o local. Para ele, a praça é dos cidadãos e não um lugar para uso particular. Ele aguarda com esperança um desfecho positivo para a polêmica em relação à praça. “Os frequentadores e vizinhos estão incorporados nessa luta dizendo não para a venda”, garante.
*Estagiário sob a supervisão de Layrce de Lima
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