O Tribunal do Júri de Brasília realizou, nessa quarta-feira (30/3), a primeira audiência referente ao caso do atropelamento proposital da servidora pública Tatiana Thelecildes Fernandes Machado Matsunaga, 41 anos. O advogado Paulo Ricardo Moraes Milhomem, 37, é acusado de tentar assassiná-la, em agosto último, no Lago Sul. Até hoje, a vítima permanece em estado de saúde delicado e dependente de cuidados. A sessão para as partes envolvidas prestarem depoimento terminou com um pedido de laudo das imagens feitas na cena do crime, que deverá ser apresentado à Justiça em até cinco dias úteis.
O Instituto de Criminalística (IC) deverá informar o resultado da perícia com base nas imagens das câmeras de segurança que registraram o atropelamento. Após a emissão do documento do departamento da Polícia Civil, as partes terão o mesmo prazo para fazer as alegações finais. Advogado representante de Tatiana, Frederico do Valle Abreu afirmou que a família considera o crime um "ato bárbaro" e que "aguarda apreensiva" a condenação do réu.
Frederico destaca que a vítima não tem condições de falar sobre o caso, devido a "vaivéns" e instabilidades na memória. Tatiana encontra-se em cadeira de rodas, faz uso de medicamentos, apresenta dores, tem funções biológicas comprometidas e continua com a porção superior do crânio aberta, segundo o advogado. A servidora pública deve voltar a andar, mas a família ainda não sabe se o tratamento e acompanhamento médico alcançarão todos os resultados, por causa da demora na progressão do quadro de saúde. "(Ela) perdeu boa parte da visão de ambos os olhos de forma irreversível. Mas o mais importante, agora, é cuidar do estado emocional e psíquico dela", comenta.
Durante a audiência, os advogados do réu, Afonso Lopes e Leonardo Carvalho, divulgaram um vídeo 3D que reconstitui a cena do atropelamento. As imagens dão a entender que Tatiana teria entrado na frente do carro de Paulo Ricardo no momento em que o réu acelerou. A Justiça não divulgou, na ata da sessão, as respectivas alegações das partes. A reportagem tentou contato por ligação e por mensagem com a defesa, ontem, mas não teve retorno até o fechamento desta edição.
Sequelas
Na última segunda-feira (28/3), o magistrado Frederico Ernesto Cardoso Maciel, juiz de direito substituto do Tribunal do Júri de Brasília, manteve a prisão preventiva de Paulo Ricardo. O advogado permanece em cela do Batalhão da Polícia Militar na Papuda (leia Ala especial). A decisão saiu em resposta a pedido dos advogados do acusado, que queriam a substituição da detenção por outras medidas cautelares.
Ao negar o pedido, o magistrado mencionou detalhes do laudo técnico relacionados à saúde de Tatiana. O documento destaca que a vítima sofreu sequelas neurológicas e, por isso, não tem como prestar depoimento, bem como as consequências do atropelamento, que causaram "prejuízo da manutenção da atenção e defeito de campo visual esquerdo". "A última ressonância magnética de encéfalo, realizada em serviço externo em outubro de 2021, mostrou lesões em lobos (cerebrais) temporal e frontal direito, e sinais de lesão axonal difusa (disseminada nos axônios, partes do neurônio)", diz o texto.
Ala especial
O Núcleo de Custódia da Polícia Militar faz parte do Complexo Penitenciário da Papuda e recebe detentos vinculados à corporação ou presos provisórios inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil. No caso de PMs que perdem o cargo após a condenação, há transferência dos réus para a ala de ex-policiais, no Centro de Detenção Provisória.