"Os casos de planejamento de atentados não possuem uma única causa. Às vezes, temos o desejo de encontrar uma fórmula pronta para sinalizar se tem algo errado com os jovens antes que o pior aconteça, mas, quando se fala de violência e agressividade, é difícil estabelecer somente um fator (de causa e efeito). É importante entendermos o cenário maior que vivemos, como o da pandemia, em que as válvulas de escape que existiam, os espaços de brincadeiras e trocas de grupos ficaram limitados e trouxeram impactos psíquicos e sociais. Como temos visto, a escola se tornou um espaço onde o jovem vem extravasando a violência, mas isso faz parte de um contexto maior que precisa ser debatido, não podemos colocar isso somente no jovem, mas inserir um diálogo com a sociedade como um todo, para enfrentar essas situações, para o acolhimento dessas pessoas. A escola representa aos adolescentes um local de aceitação que pode ser impactado pelo bullying, por isso, o espaço de acolhimento e de diversidade no ambiente de ensino, com foco no diálogo é tão importante.
Aos pais e às pessoas próximas, alguns sinais de atenção são: a mudança brusca de comportamento, de adolescentes que ficam excessivamente agressivos e reativos ou introvertidos e isolados. A extroversão excessiva também pode ser um sinal. Qualquer mudança radical de comportamento indica algo preocupante. São sinais de que o jovem precisa de ajuda e não consegue verbalizar. A criação de espaços de colaboração, em que a escola se torne não apenas um local de ensino formal, mas relacional e vivencial para os estudantes pode ser uma medida de intervenção eficaz. Contando com a ajuda dos pais e dos familiares nesse processo durante todas as etapas de ensino, mesmo quando se chega ao ensino médio, no qual, devido à idade dos alunos, costuma-se pensar que esse acompanhamento não se faz necessário."
Ana Cristina de Alencar,
coordenadora do curso de
psicologia da Universidade
Católica (UCB)