Projetada de asas abertas por Oscar Niemeyer, a capital do país abre os braços também para acolher o público LGBTQIA em uma Rota da Diversidade. Ela conta com 33 pontos entre restaurantes, bares, lojas e atrativos turísticos. Para a comunidade que luta para ocupar seu espaço, a iniciativa garante respeito e representatividade. Uma das mais antigas drags queen atuantes no Distrito Federal, Allice Bombom garante que o roteiro é "maravilhoso" para os LGBTQIA .
"A iniciativa muda o cenário que vivemos, porque fortalece a nossa história aqui em Brasília. E, quando se agrega gestores e empreendedores de vários segmentos que acreditam na nossa força, na nossa existência, ficamos muito felizes. Essa Rota vai dar visibilidade aos projetos que ainda não possuem destaque e fortalecer outros que já existem", destaca a artista. A drag conta que a personagem Allice Bombom nasceu no DF. "Quem decidiu o nome Bombom foi até mesmo o público, porque eu vendia chocolate em diversos pontos, aí eu somente escolhi o Allice. E isso é tão importante, porque muitas vezes se falam de outras drags, de outros países, mas se esquecem da gente, que vivemos aqui, que resistimos aqui, e que precisamos desse olhar para as nossas lutas", salienta.
Além dos benefícios de acolhimento, a Rota da Diversidade tem papel econômico. A secretária de Turismo, Vanessa Mendonça, afirma "a importância de atender esse público que muitas vezes não tem um espaço que o receba". "A comunidade LGBTQIA viaja o mundo inteiro e procura destinos que a acolha com qualidade e carinho, por isso procuramos os locais que pudessem oferecer essa experiência. Com muita alegria, em agosto do ano passado, conseguimos despertar o interesse de 33 empresários de 10 regiões administrativas para participar da primeira Feira de Economia Criativa e da elaboração do Guia da Diversidade", detalha.
Os pontos escolhidos no roteiro passaram pela curadoria da pasta. "Estamos oferecendo uma experiência para o turista absolutamente diferenciada. E além da inclusão, existe o retorno da geração de emprego e renda. É uma forma de fomentar o empresário que investiu para oferecer melhor experiência ao público LGBTQIA . É uma requalificação dos nossos serviços", avalia.
Acolhimento
Na Rota da Diversidade, a Cidade de Refúgio, uma igreja que acolhe a comunidade LGBTQIA , é um dos destaques. Diaconisa Bilia, 43 anos, bancária e moradora do Vicente Pires, atua há 8 anos na filial de Brasília. "A igreja foi um divisor de águas na minha vida, porque eu fui criada em um lar evangélico e não era incluída e aceita. Mas, na Cidade de Refúgio, somos aceitos do jeito que a gente é, e entendemos que tem como seguirmos os preceitos bíblicos. Inclusive, seguimos regras como em qualquer outra igreja", conta. Diaconisa afirma que a maioria dos participantes chegam a Cidade de Refúgio depois do abandono da família. "Muitos estão machucados emocionalmente depois de terem sido expulsos pela família e pela igreja em que tentaram participar", relata.
Justamente devido aos desafios do preconceito que a titular da pasta de Justiça e Cidadania, Marcela Passamani, pontua que a diversidade precisa ser sempre debatida. "As nossas ações são voltadas para isso, para mostrar que Brasília é um lugar de todos. A gente trabalha para a garantia de direitos das pessoas e que elas possam exercer em plenitude a sua cidadania", defende. Passamani também destaca que, desde 2019, o GDF atua com um protocolo de atendimento às ocorrências da comunidade LGBTQIA .
"Percebemos que era necessário essa orientação de como os profissionais deveriam agir ao atender as demandas dessa comunidade. Por isso, produzimos esse protocolo e orientamos os vigilantes, para que eles soubessem como abordar esse público e tivessem uma preparação de como acolher essas pessoas", finaliza.