Em meio à disparada do preço da gasolina em todo o país, os brasilienses têm se virado nos 30 e buscado alternativas econômicas para equilibrar as contas no fim do mês. No Distrito Federal, o litro do combustível pode ser encontrado por até R$ 7,99, de acordo com a plataforma Gaspass. Entre as opções, está a troca por álcool no abastecimento dos veículos — o litro do etanol pode custar cerca de R$ 2,25 a menos do que o da gasolina. No entanto, especialistas explicam que o uso de álcool nem sempre é vantajoso.
"Em regra, basta dividir o valor do litro do etanol pelo valor do litro da gasolina. Se a conta passar de 0,70, o combustível que compensa mais é a gasolina", ensina o coordenador do curso de economia do Iesb, Riezo Almeida. "Além desse cálculo, recomenda-se acompanhar a performance do outro combustível no seu carro, e a quilometragem que o veículo consegue alcançar estando com álcool", acrescenta o economista. Ele destaca que a busca por postos com preços menores não deve ser distante da rota diária, a fim de evitar consumo desnecessário.
Emanoel Câmara, 64 anos, fez as contas e decidiu trocar a gasolina por álcool. O motorista de aplicativo precisou adaptar a escolha do combustível à realidade salarial. "Depois que mudei, passei a ter lucro um pouco maior. Com etanol no tanque, faturo cerca de 40% a mais. Apesar da diferença de rendimento do etanol para a gasolina (1,5km/L a menos), está sendo bem mais rentável para mim", observa o morador de Vicente Pires.
Atenção na mudança
Assim como Emanoel, Edno Santos, 56, optou pelo combustível mais em conta. "Verifiquei que o álcool estava custando cerca de R$ 2 a menos do que a gasolina e, em razão disso, achei que era mais viável colocar o etanol. Geralmente, eu avalio se vale a pena ou não. Quando a diferença está acima de R$ 1,10, opto pelo álcool", resumi o servidor público. O morador de Sobradinho admite, porém, que o rendimento não é o mesmo. "Obviamente, a autonomia da gasolina é muito melhor do que a do álcool. Só que, com o preço alto, não tem como", argumenta.
A troca, contudo, não é indicada por Paulo Tavares, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Distrito Federal (Sindicombustíveis-DF). "Hoje, o preço do etanol não é competitivo com o da gasolina, porque a divisão entre os valores do litro está entre 0,79 e 0,83", ressalta. Ele adverte que não há perspectiva de melhora no custo dos combustíveis. "A Petrobras diz que não vai mudar a política de precificação, e o barril do petróleo está custando em torno de US$ 115. Como a guerra entre Rússia e Ucrânia, deve se prolongar, e o barril do petróleo continuará caro", analisa Paulo Tavares. O presidente afirma que uma constante queda no valor do dólar pode mudar o cenário. "Mas não o suficiente para baixar o preço, apenas para evitar novos aumentos", pondera.
O mecânico Raimundo de Jesus, 46, diz que se tornou comum consertar veículos que estão com defeitos derivados da troca da gasolina pelo álcool. "Muitos carros começaram a aparecer com problema de bico ou com algum falhamento, depois de terem mudado de combustível", descreve. Há uma explicação para isso. "Por estar parado há certo tempo no tanque dos postos e ser relativamente orgânico — pela derivação da cana de açúcar —, o etanol acaba criando uma quantidade maior de água, que contamina o combustível e, quando abastecido no veículo, causa esses problemas", descreve Raimundo.
Gás natural
Outro tipo de combustível também é opção, porém, em menor escala. O gás natural veicular (GNV) ainda é pouco utilizado no DF e, de acordo com o Detran-DF, existem 2.890 veículos adaptados para o uso do GVN. O presidente do Sindicombustíveis afirma que os tributos são uma das principais causas para o pouco investimento. "O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o gás, no DF, é muito alto. Com isso, a margem de lucro sobre esse produto ficaria baixa, fazendo com que os empresários não invistam recursos para adquirir ou montar um posto para vender o GNV", critica Paulo Tavares. Ele complemente que há somente um local que comercializa o combustível e fica no Núcleo Bandeirante.