Familiares do homem de 46 anos que invadiu o terreiro Ilê Axé Omò Orã Xaxará de Prata/Ofa de Prata, na zona rural de Planaltina, na quarta-feira (23/3), ofereceram ajuda para reconstruir o centro de candomblé. Thais Afonso, 24 anos, e Rafael Mendes, 31, sobrinha e ex-cunhado do invasor, foram ao local na manhã desta quinta-feira (24/3) e conversaram com representantes do terreiro, entre eles a yalorixá Suely Gama, responsável pelo centro. A líder religiosa confirmou a visita ao Correio. "Eles vieram e pediram desculpas. Disseram que, quando começarmos a reconstruir, eles querem ajudar também", conta Sueli.
Thais e Rafael relataram à reportagem que o homem, que terá a identidade preservada, sofre de distúrbios psiquiátricos há anos. Os parentes procuraram o Correio e encaminharam laudos médicos. "Ele tem histórico de transtorno mental, que não é de agora. Entendemos a revolta do pessoal, mas não se preocuparam em pensar no que poderia estar por trás do surto dele. Queremos dar nossa explicação", desabafou Thais, afirmando que o homem foi exposto. A família teme pela segurança do paciente.
Em um dos documentos enviados à reportagem, assinado por uma profissional do Centro de Atenção Psicossocial (Caps 2) de Planaltina, é informado que ele "participou de acompanhamento psiquiátrico e terapêutico" entre 22 de abril de 2020 e 23 de fevereiro de 2021, data do relatório.
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Saúde
A profissional cita que, à época do início do acolhimento, ele apresentava "sintomas de déficit cognitivo associado a delírios", chegando a quebrar objetos em casa, rolar na grama, gritar e a demonstrar agressividade, risos imotivados e isolamento social. O texto prossegue, ressaltando que, em fevereiro do ano passado, no momento da liberação, o paciente estava com "humor eutímico (dentro do padrão de normalidade), discurso coerente, sem alterações sensoperceptivas, com boa aparência, padrão de sono e alimentação regulares." Ele negava ter pensamentos suicidas e estava medicado com Risperidona, Prometazina e Biperideno.
A profissional conclui, então, que o acompanhamento do paciente deveria continuar fora do Caps, uma vez que o centro é "um local de passagem, pois é um serviço especializado." Ela entregou receitas médicas para aquisição dos medicamentos por dois meses e pediu a continuidade do tratamento na atenção básica — o que, segundo os familiares, não ocorreu.
Rafael relatou ao Correio que, na quarta-feira (23/3), após o episódio no terreiro, o homem foi levado para o hospital pela polícia, antes de ser detido. "Não encaminharam ele para um psiquiatra, apenas deram medicamento para controlá-lo e liberaram. Ele foi para o Departamento de Polícia Especializada (DPE), da Polícia Civil, passou por audiência de custódia e foi solto hoje. Mas está em surto novamente", conta o ex-cunhado.
Retorno
Nesta quinta-feira (24/3), os parentes levaram o paciente para a Unidade Básica de Saúde (UBS) do Vale do Amanhecer. O médico que assinou a guia pediu avaliação e internação hospitalar para o Hospital Regional de Planaltina (HRPL), "considerando limitações da família (mora apenas com pais idosos) e riscos de violência da comunidade contra o paciente. Se apresenta colaborativo e deseja tratamento."
Segundo o médico, a internação era necessária porque ele apresentava "ideias delirantes, agitação, agressividade, insônia e isolamento social, progressivamente mais graves há um mês", com risco de agressão. O profissional destaca que o paciente estava sem tomar a medicação há quatro meses.
Depois do encaminhamento, ele foi levado ao HRPL por uma viatura do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A família aguarda liberação de atendimento psiquiátrico do Hospital de Base. Enquanto isso, o paciente ficará internado na unidade hospitalar de Planaltina. "Ficamos à mercê da saúde pública, que não está ajudando", desabafou o ex-cunhado.
Outro lado
O Correio questionou a Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) quanto ao acolhimento na rede pública. A pasta informou que o paciente "recebeu toda assistência necessária." Confira a nota na íntegra.
A Secretaria de Saúde esclarece que a Diretoria de Atenção à Saúde Mental não pode fornecer nenhuma informação de pacientes internados, ou que realizam qualquer tratamento nos Centros de Atenção Psicossociais (Caps) da rede de saúde. Os dados de prontuário são acessíveis apenas ao paciente, ou aos familiares, nos casos em que o paciente é menor de idade ou inimputável.
A Direção de Atenção Primária da Região de Saúde (Diraps) da região Norte informa que o paciente deu entrada na unidade nessa quarta-feira (23), apresentando sintomas de surto psicótico. Na oportunidade, foi acolhido pela equipe multiprofissional e recebeu toda assistência necessária para o controle do quadro apresentado.
A Pasta destaca que pacientes que já foram atendidos nos Caps e passam por alguma nova crise, podem procurar o serviço novamente, sem necessidade de entrar em fila de espera.
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