Nem no Mês da Mulher, a brutalidade e a ignorância dão trégua. O Distrito Federal perdeu ontem mais uma vítima para o feminicídio. Joana Santana Pereira dos Santos, 41 anos, foi a quarta mulher morta em 2022 em razão do gênero. Mãe de quatro filhos, entre seis e 17 anos, ela foi assassinada pelo marido, Silvestre Pereira, 44, no Arapoanga, setor habitacional de Planaltina. Após receber uma denúncia de tentativa de suicídio, a Polícia Civil foi à Quadra 9 da região para averiguar o caso. Como ninguém respondeu aos chamados, os policiais tiveram que arrombar o portão para entrar.
De acordo com informações preliminares da 31ª Delegacia de Polícia, em Planaltina, ao entrar na casa, os agentes encontraram três crianças dormindo e o casal desacordado em uma cama, com uma faca ao lado dos dois. Joana apresentava sinais de esganadura e Silvestre Pereira estava com o pescoço cortado. A investigação aponta que ele matou a companheira e depois tentou suicídio. Segundo os policiais, depois de assassinar a mulher, Silvestre ligou para a família ameaçando tirar a própria vida. Mas os bombeiros do DF conseguiram chegar a tempo de evitar mais uma violência.
Silvestre Pereira estava com dívidas e devendo a agiotas. A 31ª DP informou, preliminarmente, que o motivo da briga do casal e do assassinato pode estar relacionado aos problemas financeiros. Os agiotas estavam ameaçando matar a família de Silvestre, caso o pagamento não fosse feito. A crise provocou uma briga entre o casal.
No Hospital Regional de Planaltina, Silvestre foi preso e está sendo escoltado por policiais durante o tempo em que permanece na unidade hospitalar.
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Vida normal
Há duas semanas, Lucirene Batista, 48 anos, viu Joana Santana Pereira, sua vizinha, pela última vez. Na ocasião, ela a convidou para o culto de jovens na Assembleia de Deus, no Arapoanga. Joana foi acompanhada do marido.
Mesmo sendo uma pessoa discreta, Joana chegou a compartilhar com a conhecida que enfrentava problemas e disse que precisava fortalecer sua fé em Deus. Segundo vizinhos, não havia indícios aparentes de que o casal vivia uma relação conturbada, com brigas ou violência. Segundo Lucirene, eles eram vistos como um "casal normal". A moradora da Quadra 9 do Arapoanga conta que a rua é muito tranquila e, em relação à família de Joana, nunca houve nenhuma ocorrência policial.
Marido de Lucirene, Claudeci Mendes, 48, relata que a convivência com os vizinhos sempre foi muito boa. "Os meus meninos sempre brincavam com os meninos deles", conta. Nos sábados, de acordo com ele, Silvestre cuidava dos filhos enquanto eles se divertiam perto de casa. "Ela (Joana) dizia que o amava", afirma Lucirene. "Estou muito triste e chocada com o que está acontecendo", disse ao Correio.
Outra vizinha do casal, Ila Maria, 59, conta que a surpresa foi grande porque a família era tranquila e Joana parecia ser uma mulher calma, que não gosta de confusão. "Ela não se estendia muito em nenhum assunto", descreve. A dona de casa, que mora com a irmã, explica que nenhuma das duas tinham muito contato com ela, apesar de terem frequentado a mesma igreja.