O mercado de trabalho sempre foi mais desafiador para as mulheres — não por despreparo delas, mas em razão de preconceitos ainda presentes em 2022. Para entender a extensão desse problema social, o Observatório Febraban (Federação Brasileira de Bancos) elaborou uma pesquisa inédita, realizada de 19 de fevereiro a 2 de março, apenas com mulheres. O estudo revelou que 82% das brasileiras acreditam que a remuneração é muito desigual entre elas e os homens.
Os dados do levantamento — que ouviu 3 mil mulheres nas cinco regiões do país — apontam para uma realidade de inferiorização profissional da mulher, agravada pelo elevado número de casos de assédios em locais de trabalho. De acordo com o estudo, 40% das trabalhadoras já sofreram ou conhecem vítimas de abuso moral. Outras 38% relatam o mesmo cenário em situações de assédio sexual. Do total, apenas 33% denunciaram as agressões.
Além de revelar um cotidiano de agressões, as mulheres opinam sobre o lugar delas no ambiente corporativo. Segundo o estudo, 81% das respondentes defendem que as empresas tenham mais mulheres nos conselhos. Enquanto 55% avaliam que uma cota para elas nesses espaços deveria ser estabelecida, 40% acreditam que pessoas do sexo feminino devem conquistar os cargos por critérios de competência e merecimento, e não por cotas.
Fora do ambiente corporativo, o relato é mais desolador. O percentual de mulheres que sofrem, em silêncio, violência sexual é de 51%. "Se esse quadro, por si só, já evidencia a situação de vulnerabilidade a que as mulheres estão expostas, ele se agrava quando metade declara que as vítimas não procuram ajuda ou não denunciam. E isso acontece em função do medo, principalmente de represália ou perseguição, e também de serem desacreditadas", aponta o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, presidente do Conselho Científico do Ipespe.
"A pesquisa nos faz um sério alerta de que, mesmo com os avanços dos últimos anos, as mulheres no Brasil ainda são, com frequência, vítimas de violência, assédio, preconceito e discriminação e de que precisamos de políticas e ações afirmativas que enfrentem esse grave problema social", defende Isaac Sidney, presidente da Febraban. Segundo ele, não se pode pensar em desenvolvimento e crescimento social e econômico sem combater essa realidade.
Apesar dos problemas, mais da metade das brasileiras acredita na melhoria da questão da igualdade de gênero nos últimos 10 anos. Para sete em cada 10 respondentes, as mudanças na legislação, como o surgimento da Lei Maria da Penha, têm contribuído para a igualdade e o combate à violência contra a mulher.
A conquista de direito ao voto e o maior acesso ao mercado de trabalho também entram no rol de conquistas. A pesquisa destaca que há amplo reconhecimento do feminismo como fator de impacto positivo na busca pela igualdade de direitos e oportunidades para as mulheres.
*Estagiárias sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza