Em meio à guerra, mais de 350 jovens refugiados entre a fronteira da Ucrânia com a Polônia receberão, por meio de um vídeo, um pequeno gesto de carinho e conforto dos brasileiros. A iniciativa é feita pelos estudantes do ensino médio do Centro Educacional (CED) 7 de Taguatinga, que elaboram a produção audiovisual de solidariedade. O projeto surgiu a pedido da pesquisadora francesa e especialista em violência e juventude Joëlle Bordet, que trabalha com a Rede Internacional de Pesquisa-Intervenção: Jovens, Desigualdade Sociais e Periferia. Ela detalha que mantém contato diário com as crianças e os adolescentes refugiados e percebeu "o profundo medo e solidão que eles estão sentindo".
Os alunos do CED 7, durante a manhã de ontem, ouviram os relatos e a explicação da pesquisadora francesa, traduzida para o português pela professora de psicologia da Universidade de Brasília (UnB) Fátima Sudbrack, representante da Rede Internacional em Brasília. Após o momento de reflexão, os estudantes começaram a produção dos cartazes, que serão finalizados hoje, para a gravação do vídeo que será enviado aos refugiados. Letícia Vitória Ferreira, 17 anos, contribui com a iniciativa. "É muito importante participar, porque estava acompanhando a guerra desde o começo e me preocupei muito com a juventude e, principalmente, com as crianças que estão sozinhas", revela.
Letícia conta que os cartazes são uma forma de dizer que as vítimas do conflito não estão sozinhas. "É a única coisa que podemos fazer, mostrar que isso (a guerra) vai chegar a um fim. Se pudéssemos, gostaríamos de fazer muito mais", garante a jovem. O objetivo de Joëlle era causar essa reflexão aos estudantes, pois, de acordo com ela, o confronto entre Rússia e Ucrânia é um conflito "fraticida". "Ela mata irmãos, mata famílias. Por isso, o movimento pela paz é tão importante, e, por isso, a dor causada é tão grande", avalia Joëlle.
A pesquisadora francesa salienta que, até o momento, o local em que estão os jovens não recebeu bombardeios. "Mas a gente teme que, de uma hora para outra, eles podem estar envolvidos fortemente na guerra. Para mim, a vida se tornou muito difícil desde que começou o conflito, porque trabalho com pesquisadores da Ucrânia e da Rússia. Essa guerra também é uma guerra de informação, porque os ucranianos, com aparelhos militares, não podem resistir à Rússia, enquanto a população russa não tem acesso à informação completa, porque, lá, tem outro tipo de divulgação na mídia", descreve Joëlle.
Representante do projeto em Brasília, Fátima destaca que essa é uma ação de acolhimento. "Na terça-feira, recebemos esse pedido dos profissionais da Rede para que algo fosse enviado, porque os jovens estão muito tristes. Todos os países da nossa Rede vão fazer o mesmo trabalho. E vamos trabalhar em cima da frase: 'nós queremos a paz para você e todos os jovens, estamos, de coração, com você!'", detalha.
Conscientização
Supervisora pedagógica do CED 7, Viviane Calasans afirma que a escola recebeu com alegria o convite. "No Brasil, temos a luta contra a pobreza e a vulnerabilidade. E, neste momento de tamanha dor, os jovens mostrarem solidariedade é uma forma de acalento. O brasileiro é um povo que abraça. E essa atividade vai muito além de um exercício pedagógico, é uma formação cidadã", defende a servidora.
Outro estudante que participa do projeto é Matheus Melo, 17. "No começo, foi desafiador, porque queríamos fazer algo diferente. Por isso, escolhemos fazer uma frase em inglês, falando que estávamos junto com eles. Este é um momento muito delicado, e não posso nem imaginar como é estar nessa situação. Acho que faz toda diferença receber essa palavra de conforto e sentir que há esperança", opina.
Para Dafinny Abelly, 15, a ação tem um significado de união entre os povos. "Cada integrante deu uma sugestão de como produzir o cartaz, e decidimos fazer dois corações, um no Brasil e outro na Ucrânia. Não sei como seria para mim, por exemplo, estar no lugar deles", confessa a adolescente.
Outro grupo optou por escrever uma frase em ucraniano para demonstrar solidariedade. "É uma forma de enviarmos uma mensagem boa para os jovens, tanto da Rússia quanto da Ucrânia", finaliza o estudante Kauã Ferreira, 16.