Literatura

'O papel do jornalismo sem papel', de Carlos Monforte, discute a profissão

Em "O papel do jornalismo sem papel", escritor reflete sobre a função dos profissionais enquanto pondera sobre a mudança para o mundo digital

Pedro Almeida*
postado em 26/03/2022 15:50 / atualizado em 26/03/2022 15:51
 (crédito: LC Agência/Divulgação)
(crédito: LC Agência/Divulgação)

O escritor e jornalista Carlos Monforte promove, em conjunção com a Matrix editora, uma noite de autógrafos do novo livro O papel do jornalista sem papel. O evento ocorre na próxima segunda-feira, das 18h30 às 21h30, na Livraria da Travessa, no shopping CasaPark. À porta de um grande jornal norte-americano, um imenso painel fazia a projeção: por volta de 2043, os jornais sairiam de circulação. Acima do gráfico, havia a frase "o jornal está morrendo"; logo abaixo, grafado pelos jornalistas, lia-se "mas o jornalismo não". Com essa anedota, presente na obra, Carlos Monforte reflete sobre a importância desse ofício, que extrapola mídias e plataformas, e pondera sobre o futuro digital.

Há, no escritor, propriedade para tais reflexões. Nos quase cinquenta anos de carreira, Monforte foi testemunha da transmutação do fazer jornalístico. Da poeira e do cheiro de tinta na redação do A Tribuna, em Santos, às matérias on-line, passando pelos links ao vivo na televisão, ele viu a notícia se adaptar e se reinventar, mas sem nunca perder o valor. Carlos resolveu, então, reavivar o lado escritor, o mesmo que o levou à faculdade de jornalismo em Santos nos anos 1960, para editar o livro, que não é uma autobiografia, mas se aproveita da vasta experiência de vida do autor. Como bom repórter, ele apresenta, além dos relatos pessoais, diversas fontes reunidas em uma ampla bibliografia.

O jornalista é um ser conservador por natureza, de acordo com Monforte. Houve, à época do surgimento da tevê, uma relutância em trocar as laudas e o papel carbono pelas câmeras e pelos microfones. Pioneiro na televisão como um dos primeiros âncoras da história do Brasil, ele relata a dificuldade de adaptação à nova realidade. Além das novas ferramentas, era preciso batalhar contra o tradicionalismo, que julgava o formato como superficial. Assim que o telejornalismo provou conseguir entregar os fatos com agilidade, logo se estabeleceu e ganhou força com profissionais de qualidade que migraram para a plataforma. Para o autor, a transição entre a telinha no centro da sala de estar e as telas on-line de bolso foi menos brusca, afinal o jornalismo televisivo já contava com a produção veloz e ininterrupta e pôde, por inércia, imprimir tal aceleração na internet.

Afinal, se os profissionais dos canais de notícias ao vivo conheciam o modus operandi de passar os fatos com rapidez, o que muda com a chegada da internet? Para Monforte, o panorama atual, em que cada pessoa é um canal de conteúdo, faz com que a credibilidade seja o lastro dos veículos de notícias. Em um mundo de pós-verdades, no qual todos contam tudo a todo tempo, é preciso escolher em quem confiar. Por isso, o jornalista precisa bater no peito e reafirma o compromisso com a apuração da verdade.

* Estagiário sob a supervisão de Guilherme Marinho

 

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