As sequelas da covid-19 são, certamente, uma das principais preocupações de especialistas em relação à infecção causada pelo novo coronavírus. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que 60% dos pacientes serão comprometidos após terem a infecção mais agressiva. Em entrevista à jornalista Carmen Souza, a médica infectologista e professora da Universidade de Brasília (UnB) Valéria Paes ponderou que a evolução do quadro varia de pessoa a pessoa. "O paciente que tem a doença mais grave, pode ficar com sequelas respiratórias importantes, sequelas motoras — por passar muito tempo na UTI (unidades de terapia intensiva) —, também lesões de pressão", destacou, ontem, no programa CB.Saúde — parceria do Correio com a TV Brasília.
No DF, temos quase 1 milhão de pessoas que não estão totalmente vacinadas ou não tomaram o reforço. O que fazer para convencê-las a se imunizarem?
Ocorreram pesquisas científicas e, no mundo, mais de 10 bilhões de doses de vacinas foram aplicadas. Acredito que precisaríamos de uma comunicação mais direta com essas pessoas, para convencê-las de que não é uma vacina experimental e que, nessas doses aplicadas, não tivemos alterações graves. Pelo contrário, muitas vidas foram salvas pelas vacinas. Deveríamos realizar esse trabalho, para deixar as pessoas mais próximas e tirarmos qualquer dúvida. Há a possibilidade de escolher qual vacina tomar. Tenho pacientes com receio de tomar a vacina, o que faço é segurar na mão deles e dizer que, mesmo havendo algum efeito colateral, eu estou com você. É isso que poderia ser feito de uma forma mais ampla.
Qual a sua opinião sobre a quarta dose para idosos? Vamos continuar tomando reforço?
Não sei se vamos precisar de seis, oito ou 10 doses da vacina. Isso precisa ser monitorado o tempo todo. No momento, há, sim, o benefício de uma próxima dose. Vimos que os mais vulneráveis, como idosos ou pessoas com comorbidades, podem ser beneficiados com a chegada de uma quarta dose. Isso está sendo oferecido, e começou, ontem, para os idosos acima de 80 anos. Vamos utilizar esse recurso, estamos em uma batalha contra um vírus.
Alguns estados começam a identificar um aumento na internação de idosos. Como é o cenário no DF?
Estamos em um momento mais favorável com relação ao número absoluto de casos. Porém, é evidente que os casos que chegam a internar são de pessoas com comorbidades, já identificados com riscos de evoluções mais graves, sendo idoso ou imunossuprimido. Essas são as pessoas, hoje, nos hospitais ou nas unidades de terapia intensiva (UTI). Para nós, profissionais da saúde, é triste olhar para uma pessoa e pensar que ela poderia não adoecer se tivesse feito o uso da vacina. Por isso falamos sobre a importância de usar máscaras, higienizar as mãos e tomar vacinas. É um discurso que parece repetitivo, mas ainda é necessário.
Tem uma estimativa média, que ao menos 60% dos infectados terão algum tipo de sequela. Quais são as principais?
Isso depende da gravidade da doença. O paciente que tem a doença mais grave, pode ficar com sequelas respiratórias importantes, sequelas motoras — por ficar muito tempo na UTI —, também lesões de pressão, isso é um aspecto. Então, essa reabilitação, ela é no longo prazo. Depende de muitos estímulos, de fisioterapia, de fonoaudiologia e de um atendimento multiprofissional. É muito importante, frisarmos agora, como está a nossa rede de apoio, de todas essas áreas de assistência à saúde. Agora, mesmo na doença leve, ficam descritas sequelas importantes. Muitas vezes, sequelas de memória, olfato e paladar, que demoram um pouco mais para recuperar. Novamente, se eu posso prevenir, por que eu vou correr o risco de ter sequelas?
Na sua opinião, como as pessoas devem se comportar com o uso das máscaras?
Quero deixar claro que a máscara ainda é um recurso importantíssimo para a proteção contra covid-19 e outras doenças virais. Eu penso que, conforme as coisas ocorreram, os governos estão retirando a obrigatoriedade do uso da máscara. Porém, a pessoa pode optar por manter. É importante que as pessoas entendam que a máscara é relevante em alguns ambientes de risco. Locais fechados, principalmente com aglomeração, onde as pessoas possam ter contato próximo, é um ambiente de risco.
O público infantil segue como um desafio na imunização?
No começo da pandemia, identificamos, erroneamente, que esse público não teria tanto risco. No entanto, à medida que a crise foi avançando, em que vacinamos os adultos, as crianças ficaram mais vulneráveis. Temos acompanhado casos graves e óbitos de crianças. Os estudos comprovam que as vacinas são seguras para essa faixa etária. Infelizmente, muitas fake news comprometeram a adesão.
*Estagiário sob a supervisão de Guilherme Marinho
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