Ao escutar Léo Maravilha falando da própria vida, alguém um pouco mais desatento pode achar que se trata da história de Ceilândia. Filho e neto de candangos vindos de Minas Gerais, ele nasceu em 1961, na extinta Vila do IAPI. Dez anos mais tarde, a família estava no grupo de moradores, considerados invasores, que foi removido do local para irem morar onde hoje está situada a maior cidade do DF.
Léo viveu a Ceilândia na poeira vermelha, sem qualquer infraestrutura básica, como água, eletricidade, asfalto e um transporte público bastante limitado, e viu a cidade crescer desde o tempo em que não existiam o Setor O e nem o Sol Nascente, quando o mapa da cidade parecia um "barril", apenas com as ceilândias Norte e Sul.
Autêntico filho de Ceilândia, sua própria trajetória o inspirou a contar a história da cidade (que já foi contada em rap, cordel e filme) de uma forma inédita: em quadrinhos. Ceilândia: da Vila do IAPI ao Metrô, parceria com o desenhista Neftaly Vieira e roteiro assinado por Léo, se passa em uma viagem de Metrô do Terminal Ceilândia até a estação Central, durante a qual a história da cidade é narrada, desde os tempos da Vila IAPI até a chegada do metrô à cidade, em 2008. "A obra foi feita na base da 'escrevivência'", conta o ceilandense.
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Além de quadrinista, Léo é músico, compositor e foi fundador, em 1984, da Águia Imperial, escola de samba "100% Ceilândia", como ele mesmo define. "A Águia Imperial tem uma importância primordial para a cidade. Em 1985, ela saiu no grupo especial e nunca mais caiu. Teve uma época que o carnaval ocorria no Ceilambódromo, que foi quando o carnaval de Brasília teve o seu maior público. Hoje, estou trabalhando em um projeto audiovisual para falar, em formato de documentário, sobre esse período", afirma Léo, que também é ocupante da cadeira 35 da Academia Ceilandense de Letras e Artes Populares (Aclap).
É inegável que Ceilândia passou por intensos processos de transformação desde a sua fundação, mas algumas carências atravessaram gerações e se perpetuam até os dias atuais. "Ainda desejo uma melhoria na infraestrutura, como iluminação pública, mais espaços culturais e um transporte mais eficiente", confessa Léo, que também lembra da ausência de salas de cinema na cidade. "Ceilândia é a minha vida, sou um grande defensor. Aqui, eu aprendi tudo o que sei". (NG)
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira
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