Morador de Ceilândia há 45 anos, Clemilton Saraiva, presidente da Associação Comercial de Ceilândia (Acic), chegou ainda pequeno na cidade, em 1976. Ele conta que tudo era barraco e terra. Nas casas não tinha caixa d'água, as famílias usavam tonéis. "Quem tinha casa não tinha muro e quem tinha muro não tinha casa, foi tudo construído devagar e aos poucos", relembra.
Apesar do começo ter sido lento e difícil, o crescimento da cidade nos últimos anos surpreendeu. De acordo com Clemilton, os moradores se identificaram e criaram carinho por Ceilândia. "As pessoas começaram a ver que aqui era mesmo para fincar raízes", aponta. Ele destaca que depois de muito preconceito, os ceilandenses vivem uma fase de orgulho. "Estamos na fase de falar do orgulho que as pessoas têm de Ceilândia."
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O empreendedorismo na Ceilândia nasceu naturalmente. Segundo Clemilton, as pessoas trabalhavam na construção de Brasília durante a semana e, nos finais de semana, faziam feirinhas que viraram tradição. Muitas se transformaram em lojas e funcionam até hoje na cidade. "Foram o embrião dos grandes empreendimentos que temos hoje. Nasceu no primeiro momento que as pessoas viram na cidade uma oportunidade. Depois, novos empreendedores surgiram, porque o desemprego cresceu e as pessoas tiveram que se reinventar", explica.
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Oportunidade virou negócio
A empresária Nair Ambrósio dos Reis, 45, é uma das pessoas que integra as estatísticas do empreendedorismo em Ceilândia. Nascida e criada na cidade, ela conta que desde criança tinha um espírito empreendedor. "Eu sempre sonhei em ter meu próprio comércio. E, desde pequena, tive esse espírito empreendedor. Em casa, tinha vários pés de fruta e a gente vendia em uma feira perto de casa", recorda.
Na adolescência surgiu a oportunidade de mexer com cabelo afro, quando uma mulher de fora apresentou a técnica para ela. "Comecei a trabalhar no salão dela e fui aprimorando", conta. Com apenas 23 anos ela conseguiu montar o próprio salão, que hoje é reconhecido na cidade.
Orgulhosa em ser ceilandense, não planeja se mudar e garante que escolheu o lugar certo para abrir a empresa. "Todo mundo tem sua história, e Ceilândia veio transformar a vida das pessoas", afirma. Ela e os irmãos foram a primeira geração de crianças na cidade e nunca moraram em outro lugar. "Ceilândia guarda o arquivo da minha família, minha infância. Tenho a Ceilândia como minha irmã mais velha."
Recordando os momentos da infância, Nair diz que pegou as melhores fases de Ceilândia. "Tinha aquele calor humano. Os vizinhos eram muito próximos. Hoje em dia, não tem tanto disso. Eu lembro que todo mundo brincava junto na rua. Quando era aniversário de alguém, eram aqueles bolos enormes para todas as crianças. E hoje a maioria das crianças não brincam na rua. O que me fez criar amor a essa cidade foi isto, poder brincar e conhecer cada ponto", relata.