O homem que invadiu o terreiro Ilê Axé Omò Orã Xaxará de Prata/Ofa de Prata, na zona rural de Planaltina, e depredou imagens sagradas do local foi preso na tarde desta quarta-feira (23/3), horas após o crime — que ocorreu de manhã. O detido, munido de facão e marreta, destruiu esculturas de orixás.
A prisão foi feita pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), na unidade básica de saúde do Vale do Amanhecer, conforme informou ao Correio a yalorixá Suely Gama, responsável pelo terreiro, que existe há 10 anos. Técnicos da PCDF periciaram a cena no fim desta tarde. A corporação confirmou a prisão à reportagem.
"Familiares levaram-no para o hospital porque ele estava tendo algum tipo de surto. Ele foi imobilizado e levado pela polícia para a delegacia", relatou Suely. A ocorrência foi registrada na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Religiosa (Decrin).
As imagens destruídas fazem parte do chamado Vale dos Orixás e foram desenvolvidas por meio de um projeto da comunidade que durou seis meses e contou com a ajuda de crianças da região e um escultor que possui deficiência visual, irmão da yalorixá. Ao todo, são 18 imagens, além do Cruzeiro das Almas.
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Violência
"Já fomos assaltados e passamos por várias outras situações de intolerância religiosa. Já sofremos ameaças, pessoas já destruíram nosso portão, mas tudo tinha se acalmado, até o acontecido de hoje", lamenta Suely.
A líder espiritual relatou à reportagem ouvir dizer que o invasor mora perto do terreiro. "Mas eu nunca o tinha visto. Ontem à noite ele veio, do outro lado do rio, e começou a gritar e xingar, dizendo que ia derrubar as imagens. Disse que era pastor, e que o Deus dele estava mandando exterminar as esculturas", descreveu. "Hoje de manhã ele apareceu novamente", continuou Suely.
De acordo com a yalorixá, no momento da invasão, havia apenas mulheres, crianças, idosos e pessoas com deficiência no local. "Depois de destruir tudo, ele fugiu para a mata. Chegamos a ir atrás, mas ele conseguiu atravessar o rio. Seguimos, e vimos ele entrando em um ônibus, mas não sabemos onde desceu. Pedimos apoio da polícia militar, que nos atendeu. A orientação foi ir até a Decrin, uma vez que o homem tinha depredado imagens religiosas", completou.
Manifestação
A Secretaria de Justiça e Cidadania do DF (Sejus) repudiou o crime. Em nota, a pasta, por meio do Conselho Distrital de Promoção da Igualdade Racial (Codipir), classificou o episódio "como ofensa, hostilização, perseguição, preconceito e discriminação", destacando a tentativa de "impor a materialização da figura do demônio em templos de religiões de matriz africana, o que é inadmissível."
A Sejus afirmou que vai acompanhar o caso. "O fato será acompanhado não somente até a identificação da pessoa, mas na aplicação também da Lei Federal nº 7.716/89, que “define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor”. A Secretaria de Justiça e Cidadania oferta, desde já, escuta psicológica especializada às vítimas dessa situação e que fazem parte do terreiro covardemente invadido", completou a pasta.
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