Investigação

O fenômeno do YouTube que foi para a cadeia: veja a trajetória de Klebim

Um esquema milionário mascarado pela venda de rifas ilegais virou alvo da Polícia Civil do DF. O youtuber Klebim e outros três suspeitos foram presos temporariamente. Grupo teria movimentado, em dois anos, cerca de R$ 20 milhões

Darcianne Diogo
Pedro Marra
postado em 22/03/2022 06:00
Entre veículos apreendidos havia marcas como Mercedes, Ferrari e Lamborghini -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
Entre veículos apreendidos havia marcas como Mercedes, Ferrari e Lamborghini - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

A vida luxuosa e deslumbrante do youtuber Kleber Moraes, mais conhecido como Klebim, 27 anos, foi interrompida pela operação Huracán da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Por trás dos carros e da mansão, havia um esquema milionário de jogos de azar, por meio de rifas ilegais, e lavagem de dinheiro em nome de empresas de fachada. Além de Klebim, foram presos temporariamente, nessa segunda-feira (21/3) Vinícius Couto Farago, 30, sócio dele; Pedro Henrique Barroso Neiva, 37; e Alex Bruno da Silva, 28. Em dois anos, o grupo movimentou cerca de R$ 20 milhões.

Considerado um "estouro" nas redes sociais, Klebim acumula mais de 4 milhões de seguidores (no Instagram e no YouTube) na conta pessoal e em páginas administradas por ele, como a EstiloDUB Consultoria e Publicidade, a Guich DUB, a DUB Shop e a DUB House, e fez sucesso com a promoção de carros esportivos e veículos preparados com rodas, suspensão e som especiais. O influencer fazia rifas em que os automóveis eram os prêmios. Devido ao alcance das postagens, rapidamente as cotas, que variavam de R$ 6 a R$ 20, eram comercializadas.

As investigações da PCDF começaram em dezembro do ano passado e revelaram que o youtuber utilizava as redes sociais para fazer divulgação dos automóveis. Visto por muitos como um "realizador de sonhos", Klebim mostrava os detalhes dos veículos para atrair os seguidores e vender milhares de rifas. Em um vídeo publicado nos stories do Instagram um dia antes de ser preso, o influencer filmou uma F250. "Amanhã. Último dia! Você de 250! Pode ser de um de vocês", disse.

O sorteio mais recente ocorreu no domingo (20/3). No Instagram, Klebim fala sobre uma "entrega surpresa" de um carro de luxo, em que o ganhador iria saber apenas com a chegada do veículo. O automóvel seria uma BMW Z4, uma caminhonete Amarok ou uma Mercedes C200. Em 11 de março, uma Montana foi entregue a um ganhador em Cocalzinho de Goiás.

Empresas de fachada

Com base na Lei nº 3.688/41, a rifa é considerada modalidade de jogo de azar, tipificado, no Brasil, como contravenção penal. Kleber e os outros integrantes da associação criminosa não tinham autorização do Ministério da Economia para promover os sorteios nem se encaixavam em ações filantrópicas. De acordo com as investigações conduzidas pela Divisão de Repressão a Roubos e Furtos (DRF), Kleber lavava o dinheiro adquirido nas rifas em empresas de fachada. Diretor da DRF, o delegado Fernando Cocito explica que o dinheiro das vendas ia para uma conta do Mercado Pago. "Ao invés dele mandar o valor para a própria conta, em que não estaria escondendo nada, ele cria uma empresa de fachada, uma PJ, e manda o valor para lá. Aí que está a lavagem, porque ele tenta dar uma aparência de que os veículos foram adquiridos fruto da atividade de publicidade, quando, na verdade, não existe isso. Mas, sim, jogos de azar", detalha.

"Ele era o 01 do DF. Todo mundo o via faturando muito dinheiro, e começou uma enxurrada de rifas ilegais em todo o país. A rifa é o menor problema, é uma contravenção penal. Mas é o que permite a engrenagem da lavagem funcionar. Em várias oportunidades, percebemos que eles tinham ciência de que seriam descobertos e presos. Havia um esforço do grupo em terminar logo a loja de carros, para que as rifas ficassem com menos evidência", frisa o delegado Fernando Cocito.

Com base no site Socialblade, que faz medição da monetização de canais e redes sociais, o canal EstiloDUB no YouTube, empresa de Klebim, fatura mensalmente de U$ 163 (R$ 804) a U$ 2 mil (R$ 9.873), levando em consideração o número de visualizações, inscritos, compartilhamentos, entre outros. Esse valor é incompatível com a movimentação nas contas de Klebim, segundo a polícia. A corporação destaca que entre novembro de 2020 e maio de 2021, foram movimentados mais de R$ 3 milhões.

Na operação Huracán, os policiais civis cumpriram quatro mandados de prisões temporárias e sete de busca e apreensão no Plano Piloto, no Guará, em Águas Claras e em Samambaia. A PCDF sequestrou nove carros, incluindo uma Lamborghini Huracan e uma Ferrar/458 Spider, uma motocicleta e um jet-ski. Cada um deles avaliado em R$ 3 milhões. A polícia também pediu o bloqueio de R$ 10 milhões das contas dos envolvidos e confiscou a mansão milionária de Klebim, no Park Way.

O imóvel de 2,5 mil metros quadrados esbanja glamour. São cinco quartos, cinco suítes, três salas, nove banheiros e nove vagas para carros, um espaço de lazer completo com direito a piscina aquecida em três níveis, churrasqueira, sauna, espaço para fogueira, ofurô e sala de jogos. O projeto de fino acabamento tem um escritório reservado com acesso direto ao jardim do terreno e uma cozinha integrada à sala e área de lazer. Das cinco suítes, três delas têm closet e porcelanato. Um mirante possibilita a vista para o Plano Piloto.

Em nota, o advogado de Klebim, José Sousa de Lima, ressalta que a prisão foi completamente arbitrária, desproporcional e ilegal. "Fruto de uma pirotecnia para criar constrangimentos e fatos midiáticos", argumentou. O advogado acrescenta que confia "que o poder judiciário corrigirá essa arbitrariedade revogando imediatamente essa Prisão", finalizou.

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  • Em apenas dois anos, esquema criminoso movimento R$20 milhões, segundo apuração da PCDF.
    Em apenas dois anos, esquema criminoso movimento R$20 milhões, segundo apuração da PCDF. Foto: Reprodução/Redes Sociais
  • A Polícia Civil cumpriu oito mandados de busca no DF, com o sequestro de nove veículos. Alguns deles, com o valor médio de R$ 3 milhões, de acordo com a corporação. Keber Moraes, 27 anos, foi detido ontem
    A Polícia Civil cumpriu oito mandados de busca no DF, com o sequestro de nove veículos. Alguns deles, com o valor médio de R$ 3 milhões, de acordo com a corporação. Keber Moraes, 27 anos, foi detido ontem Foto: Reprodução/Redes Sociais
  • Kleber ostentava veículos de luxo nas redes sociais e rifava automóveis tunados
    Kleber ostentava veículos de luxo nas redes sociais e rifava automóveis tunados Foto: Ed Alves/CB
  • Operação foi deflagrada ontem, pela Polícia Civil do DF
    Operação foi deflagrada ontem, pela Polícia Civil do DF Foto: Ed Alves/CB
  • O titular da DRF, Fernando Cocito, revelou que a lavagem de dinheiro era feita por empresas de fachada
    O titular da DRF, Fernando Cocito, revelou que a lavagem de dinheiro era feita por empresas de fachada Foto: Ed Alves/CB/D.A Press
  • Vinícius (de óculos) abandonou o New Beetle branco após atropelar e matar Matheus
    Vinícius (de óculos) abandonou o New Beetle branco após atropelar e matar Matheus Foto: Reprodução/Redes sociais

Matou, mas foi preso por lavagem de dinheiro

Vinícius abandonou o carro após atropelar e matar Matheus -  (crédito: Reprodução/Redes sociais)
crédito: Reprodução/Redes sociais

Vinícius Couto Farago, indiciado por homicídio doloso por atropelar e matar Matheus Menezes, 25, no Guará 2, em 16 de janeiro, é um dos presos na operação Huracán. Familiares da vítima só souberam da morte seis dias depois. Investigações da 4ª Delegacia de Polícia (Guará) comprovaram que Vinícius havia ingerido bebida alcoólica minutos antes de dirigir. Os investigadores conseguiram coletar imagens que em que o acusado aparecia em um bar da região. Um vídeo gravado por uma testemunha depois do acidente mostrou o criminoso deixando o local com uma garrafa de cerveja na mão. Para a polícia, isso foi uma estratégia para, caso alguém o abordasse, ele falaria que havia bebido depois do ocorrido. Vinícius respondia em liberdade pelo homicídio, mas, agora, é investigado pelos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa.

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