Vicente Pires existe há mais de 30 anos, no entanto, a história da cidade sempre foi envolta em dificuldades. No novo capítulo dessa narrativa, os moradores da Região Administrativa 30 parecem ter uma esperança mais concreta a respeito da regularização dos terrenos. Na sexta-feira (25.3), está previsto o ato de assinatura da transferência de propriedade das terras da União para a Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap), acordo que possibilitará a regularização de 22 mil lotes em todo o Distrito Federal, sendo mais de 15 mil na R.A. O evento ocorrerá no Palácio do Planalto.
Alda Maria Alves, 66 anos, é proprietária de um colégio na região. A Escola Montesquieu está na ativa há praticamente 24 anos — começou a funcionar em 1999. Ainda hoje, no entanto, há incertezas sobre a propriedade do terreno. Quando questionada pela reportagem do Correio sobre o medo de perder o lote, ela admite que o sentimento é de insegurança.
"Desde 1990, sou proprietária, aqui era uma área só de chácaras, hoje, é uma cidade. Quando iniciei a construção, a Agefis quis derrubar", relata. À época, a proprietária comprou o lote por 10 milhões de cruzados, o que corresponderia a R$ 10 mil.
Era um evento que todos esperavam, segundo Alda. "A expectativa, agora, é a melhor possível. Agora, só há a preocupação se vamos poder vender a área toda", pondera. A diretora administrativa da escola conta que, quando se mudou, o local era totalmente ruralizado, por isso, não era valorizado.
Maria relata que há uma especulação de que só podem ser vendidos 2.500 m², o restante irá para a licitação, caso esse cenário se concretize. "Em contrapartida, regularizando, as pessoas vão ficar mais seguras com o destino que podem dar a esses terrenos", diz.
O pedaço de terra é de extrema importância para a diretora, uma vez que no mesmo terreno da escola fica sua moradia, que divide com os dois filhos, Yury e Gladstone Maciel, 24 e 30 anos, respectivamente. Além disso, a família trabalha junta na escola. Yury, formando de administração, faz estágio na escola, e seu irmão trabalha na parte de TI.
"De 30 anos para cá, a vida se resume a isso. Meu trabalho e minha casa são aqui, não me vejo fora desse lugar", afirma. "Meu desejo é permanecer com a área toda, nas melhores condições possíveis", completa.
Compra da terra
A regularização é ambiental, urbanística e fundiária. Essa é a explicação de Dirsomar Ferreira, 61, presidente da Associação Comunitária de Vicente Pires (Arvips). "Está tudo certo com as primeiras duas partes. Mas a União não consegue vender a terra e passar para o comprador, porque a demanda é muito alta", informa.
"Essa passagem do controle para a Terracap nos alegra", conta. Segundo ele, com o órgão brasiliense será mais fácil negociar, pois o diálogo é mais rápido e eficiente. Os representantes terão também a oportunidade de negociar e conversar diretamente com o presidente da República e o governador do Distrito Federal para definir preços.
Agora, conta Dirsomar, é possível vislumbrar uma solução final com a Terracap, que é terminar os últimos processos técnicos e passar para os proprietários as definições. "A casa é da pessoa, a terra é da União", esclarece.
Ele considera, no entanto, que não será possível para esses proprietários comprarem a terra em 2022. Segundo o presidente da Arvips, não é concebível fazer indicativo de venda esse ano. "Mas nós nos esforçamos para isso", avisa.
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Herança
Com alguns parcelamentos de chácaras, Maria Farias, 64 anos, aproveitou para adquirir seu espaço em 1998. Logo foi acionada a associação de moradores, e começou a trabalhar junto com eles para averiguar como seria feita a regularização de uma cidade tão grande. "Essa luta não é de agora", diz.
Maria, que é aposentada, diz que viu a cidade se estruturar. Atualmente, conforme seu relato, o comércio é grande e as moradias cresceram muito. "Buscamos equipamentos necessários para a regularização, bem como posto de saúde, administração regional, delegacia, entre outros", lembra.
Sua maior preocupação era "o dia de amanhã". "Hoje estamos morando bem, mas o dia de amanhã somente a Deus pertence. Temos família, isso aqui ficará como herança. Não sei como seria se não tivéssemos conseguido essa transferência", afirma. Maria sempre pensou em passar a escritura de sua casa para as filhas, e a certeza de que isso de fato ocorrerá se aproxima.
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