O Distrito Federal tem 9.764 adolescentes de 16 e 17 anos habilitados a votar este ano. Mas esse número pode aumentar, uma vez que há cerca de 37 mil pessoas dessa faixa etária que podem tirar o título de eleitor, e alcançar o patamar de eleições anteriores — 14.538, em 2018; e 21.975, em 2014. Inclusive, brasilienses que completem 16 anos até 2 de outubro conseguem o documento, caso façam a emissão até 4 de maio. Na direção contrária, o total de idosos a partir de 70 anos votantes aumentou desde 2014, quando o DF tinha 76.984, e passou para 113.297, em 2018. Atualmente são 146,7 mil. Os números são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Tribunal Regional Eleitoral do DF (TRE-DF).
Assessor e porta-voz do TRE-DF, Fernando Velloso explica que o número de adolescentes aptos a votar caiu em 2022, devido ao curto espaço que os divide do voto obrigatório. Ele atribui a queda aos jovens que completaram 18 anos de 2018 para cá. "Ainda não houve uma adesão grande de novos eleitores menores de idade, o que deve acontecer mais próximo da data de fechamento do cadastro eleitoral", adianta.
O prazo para emitir e regularizar o título de eleitor é até 4 de maio, e os serviços podem ser feitos on-line. Para Fernando, a diminuição dos adolescentes entre os votantes de 2014 para 2018 pode ter sido por desinteresse ou falta de conhecimento da possibilidade de alistamento eleitoral. "Por isso, neste ano, a Justiça Eleitoral está ampliando as campanhas para o jovem eleitor, tentando atrair o interesse desse público", acrescenta. O crescimento dos idosos acima de 70 anos aptos a votar, para o assessor, tem a ver com o envelhecimento da população do DF.
Em um grupo de amigos, é possível encontrar diferentes visões. Davi Gonzaga, 17 anos, afirma que pretende votar neste ano, mesmo sem ser obrigatório. "Vou tirar o título e acompanhar a eleição. Para mim, é importante participar, porque isso vai decidir quem será o nosso futuro presidente e os políticos que vão comandar o país", opina o morador do Itapoã.
A moradora de Samambaia Maria Eduarda Mariano, 17, confessa, contudo, que prefere não ir às urnas. "Não sendo obrigatório, eu não quero votar. Mas vou fazer 18 anos perto das eleições, então não tenho escolha. Mas se pudesse, não votaria", garante. Amiga de Maria, Emillen Cristina Sousa, 16, tem uma posição contrária. "Pretendo tirar o título de eleitor porque eu gosto de política e acompanho o que acontece. Reconheço a importância que o meu voto tem e a consciência que eu preciso ter", afirma a estudante.
Saiba Mais
Decepção
Apesar de serem numericamente inferiores ao público com mais de 70 anos, as escolhas dos adolescentes podem ter mais impacto no cenário eleitoral. Isso, porque o interesse político do grupo tem crescido nos últimos anos, explica a cientista política Camila dos Santos. "Os jovens, hoje, estão muito mais politizados. Por conta das redes sociais, eles têm se tornado um público estratégico para os políticos, que tentam conquistá-los. Esses jovens espalham posicionamentos, não só nas redes sociais, mas nos grupos de contato e nas famílias", observa a especialista. Ela destaca que o mesmo comportamento não é observado entre os idosos. "São uma parcela significativa da população, mas sem tanto peso, porque demonstram falta de interesse na política, além de falta de vontade de participar e descrença com os candidatos", completa Camila.
Essa é a sensação do aposentado Jair Paiva Arnaldo, conhecido como Jair do Apito, 82. "Ainda não sei se vou votar, vou decidir quando estiver mais perto, dependendo se tiver algum candidato que apoio ou não. Votei a vida toda, mas preciso ver como vai ser a campanha. Vou de acordo com a minha autocrítica, se tem alguém que se propõe a fazer algo realmente bom pela cidade ou que, em mandatos anteriores, realmente conseguiu entregar boas obras", argumenta o morador do Cruzeiro Novo.
Já o aposentado Ítalo Pasini, 81, não vai deixar passar em branco a oportunidade de exercer a democracia. "Temos que participar, mesmo já sendo mais velhos, porque continuamos vivendo no país", avalia. O morador do Park Way garante que vai analisar os candidatos e as propostas. "É um exercício de cidadão. Preciso colocar o meu voto lá (na urna) para escolher um camarada bacana, porque o Brasil é um país impressionante, e Brasília tem muito potencial. Por isso, precisamos escolher alguém que vai fazer alguma coisa e não um político que apenas possa prometer sem cumprir nem realizar obra nenhuma. No fim, tudo na vida envolve política", reflete.
Impacto
Cientista político e advogado, Valdir Pucci avalia que o peso do voto facultativo depende do momento político. "Em uma campanha polarizada, como teremos neste ano, talvez até mais (polarizada) do que em 2018, cada voto conta. Por isso, hoje, temos um movimento entre os grupos políticos para incentivar a participação dessas pessoas no processo eleitoral, porque cada voto vai ser significativo, e quanto mais pessoas participarem melhor. Nesse caso, não só o voto facultativo, mas os votos nulos e brancos também desempenham um papel importante", pondera.
Em relação aos votos dos jovens, Valdir informa que as pesquisas indicam que este público tende a ter uma postura de contestação. "Não significa que todos eles votem assim, mas na maior parte, os jovens têm uma tendência a votarem de forma contrária à ordem estabelecida", explica. O cientista político salienta que as ações de estímulo ao envolvimento político devem ir além dos jovens e dos idosos. "Temos índices de abstenção altos, por isso, as campanhas devem incentivar a participação dos eleitores como um todo, e não de um público específico", defende.
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores.