Sem máscara, DF inicia nova fase da pandemia

Equipamento facial deixou de ser obrigatório, também, em locais fechados do DF, desde ontem. Medida divide especialistas. Vacinação, disponibilidade de leitos de UTI e queda na taxa de contágio do vírus podem ter motivado a determinação

Correio Braziliense
postado em 11/03/2022 00:01 / atualizado em 11/03/2022 16:09

Depois de 679 dias, os brasilienses não são mais obrigados a usar máscaras de proteção facial para prevenção da covid-19. O governador Ibaneis Rocha (MDB) assinou um decreto ontem, e o texto com a medida foi publicado em edição extra do Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) no mesmo dia. Ao anunciar a revogação, no Palácio do Buriti, o chefe do Executivo local defendeu, porém, que a população mantenha os cuidados contra a pandemia. "Quem quiser continuar usando máscara, que continue, sem problema nenhum", afirmou, ressaltando que a medida não exige o fim do uso, apenas o torna facultativo. "Temos de aproveitar o momento com responsabilidade. Chegou a hora de tentar voltar a ter uma vida normal", completou Ibaneis. A decisão vale, inclusive, dentro dos transportes públicos.

Especialistas ouvidos pelo Correio avaliam que a liberação das máscaras em ambientes fechados ocorreu prematuramente e alertam para a responsabilidade individual de cada cidadão com a própria segurança e a dos outros. As máscaras não eram mais exigidas em locais abertos há uma semana, quando a taxa de transmissão atingiu os menores números desde o início da medição. Ontem, o índice se manteve em 0,6 — quando 100 infectados passam o vírus para 60 pessoas. 

A taxa de ocupação das unidades de terapia intensiva (UTIs) da rede pública do DF estava em 62,38%% ontem. Na particular, o índice fechou em 64,54%. No total, há 2.482.163 pessoas vacinadas com a primeira dose, o que corresponde a 81,31% da população total do DF (3.052.546). Com o ciclo de imunização completo, são 2.287.888 moradores da capital do país (74,95%).

Cenário

Integrante de um grupo de pesquisadores que acompanha a evolução da pandemia no país, o professor da Universidade de Brasília (UnB) Tarcísio Marciano defende que não é momento de retirar a obrigatoriedade da proteção facial em locais fechados. "É totalmente inapropriado. Ainda estamos com número razoável de casos diários, e pessoas ainda estão morrendo, não é uma situação de conforto", critica o pesquisador, questionando como será o cenário nas escolas do DF. "A maioria das crianças não está vacinada. É uma medida completamente inconsequente, equivocada e sem base científica, que vai expor uma parcela razoável da população, principalmente nos transportes públicos. Embora a taxa de transmissão esteja caindo, o vírus ainda está circulando muito", afirma Tarcísio. Ele explica que o contágio está em queda porque muitas pessoas foram infectadas.

Maurício de Melo, 62 anos, também discorda da decisão. O morador de Sobradinho 2 vai continuar usando a máscara, mesmo que o item não seja mais obrigatório. "A maior parte da população está vacinada, e a mortalidade caiu, porém a contaminação ainda é muito alta", reflete o servidor público.

A infectologista Ana Helena Germoglio destaca que os dados da pandemia no DF devem continuar sob constante monitoramento. "Retirar a máscara em todos os ambientes é algo desejado por todos, mas, para que isso aconteça com segurança, é importante avaliação contínua do percentual de imunização em adultos e crianças e, além disso, a quantidade diária de casos novos, de hospitalização e de leitos disponíveis. Ainda existem dados a serem melhorados", pondera a médica. "A máscara é um equipamento de proteção individual (EPI), então, cada um deve avaliar a situação a que se expõe e utilizar conforme seu risco, independentemente da liberação", completa.

O estudante e servidor público Marcelo Henrique Ponte, 21, pretende manter o uso da máscara em alguns locais. "O andamento da vacinação possibilita a liberação em certos locais mais arejados, porém naqueles mais fechados, o ar não circula tanto, e, em muitas vezes, não se sabe quem ali está vacinado ou não", observa o morador da Asa Sul.

Por outro lado, Raquel de Jesus Moreira Alcanfôr, 42, pretende parar de usar. “Incomoda no rosto e para respirar. Eu sinto um pouco de agonia em ficar de máscara. Além disso, já está em uma fase melhor, a maioria das pessoas estão vacinadas, inclusive eu. Por isso, acho que é hora de liberar”, conta a dona de casa, moradora do Entre Lagos.

Breno Adaid, pesquisador especialista pela Universidade de Brasília (UnB) em ciência do comportamento, acompanha diariamente o cenário pandêmico desde o início da crise sanitária. Ele projeta que os casos da doença devem subir um pouco com o fim da obrigatoriedade das máscaras. "O mais provável é que ocorra uma oscilação para cima, não assustadora, mas interrompendo o caminho de queda, sem dúvida alguma", pontua o professor.

Colaborou Rafaela Martins

*Estagiário sob a supervisão de Guilherme Marinho 

 

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