Depois de 679 dias, os brasilienses não são mais obrigados a usar máscaras de proteção facial para prevenção da covid-19. O governador Ibaneis Rocha (MDB) assinou um decreto ontem, e o texto com a medida foi publicado em edição extra do Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) no mesmo dia. Ao anunciar a revogação, no Palácio do Buriti, o chefe do Executivo local defendeu, porém, que a população mantenha os cuidados contra a pandemia. "Quem quiser continuar usando máscara, que continue, sem problema nenhum", afirmou, ressaltando que a medida não exige o fim do uso, apenas o torna facultativo. "Temos de aproveitar o momento com responsabilidade. Chegou a hora de tentar voltar a ter uma vida normal", completou Ibaneis. A decisão vale, inclusive, dentro dos transportes públicos.
Especialistas ouvidos pelo Correio avaliam que a liberação das máscaras em ambientes fechados ocorreu prematuramente e alertam para a responsabilidade individual de cada cidadão com a própria segurança e a dos outros. As máscaras não eram mais exigidas em locais abertos há uma semana, quando a taxa de transmissão atingiu os menores números desde o início da medição. Ontem, o índice se manteve em 0,6 — quando 100 infectados passam o vírus para 60 pessoas.
A taxa de ocupação das unidades de terapia intensiva (UTIs) da rede pública do DF estava em 62,38%% ontem. Na particular, o índice fechou em 64,54%. No total, há 2.482.163 pessoas vacinadas com a primeira dose, o que corresponde a 81,31% da população total do DF (3.052.546). Com o ciclo de imunização completo, são 2.287.888 moradores da capital do país (74,95%).
Cenário
Integrante de um grupo de pesquisadores que acompanha a evolução da pandemia no país, o professor da Universidade de Brasília (UnB) Tarcísio Marciano defende que não é momento de retirar a obrigatoriedade da proteção facial em locais fechados. "É totalmente inapropriado. Ainda estamos com número razoável de casos diários, e pessoas ainda estão morrendo, não é uma situação de conforto", critica o pesquisador, questionando como será o cenário nas escolas do DF. "A maioria das crianças não está vacinada. É uma medida completamente inconsequente, equivocada e sem base científica, que vai expor uma parcela razoável da população, principalmente nos transportes públicos. Embora a taxa de transmissão esteja caindo, o vírus ainda está circulando muito", afirma Tarcísio. Ele explica que o contágio está em queda porque muitas pessoas foram infectadas.
Maurício de Melo, 62 anos, também discorda da decisão. O morador de Sobradinho 2 vai continuar usando a máscara, mesmo que o item não seja mais obrigatório. "A maior parte da população está vacinada, e a mortalidade caiu, porém a contaminação ainda é muito alta", reflete o servidor público.
A infectologista Ana Helena Germoglio destaca que os dados da pandemia no DF devem continuar sob constante monitoramento. "Retirar a máscara em todos os ambientes é algo desejado por todos, mas, para que isso aconteça com segurança, é importante avaliação contínua do percentual de imunização em adultos e crianças e, além disso, a quantidade diária de casos novos, de hospitalização e de leitos disponíveis. Ainda existem dados a serem melhorados", pondera a médica. "A máscara é um equipamento de proteção individual (EPI), então, cada um deve avaliar a situação a que se expõe e utilizar conforme seu risco, independentemente da liberação", completa.
O estudante e servidor público Marcelo Henrique Ponte, 21, pretende manter o uso da máscara em alguns locais. "O andamento da vacinação possibilita a liberação em certos locais mais arejados, porém naqueles mais fechados, o ar não circula tanto, e, em muitas vezes, não se sabe quem ali está vacinado ou não", observa o morador da Asa Sul.
Por outro lado, Raquel de Jesus Moreira Alcanfôr, 42, pretende parar de usar. “Incomoda no rosto e para respirar. Eu sinto um pouco de agonia em ficar de máscara. Além disso, já está em uma fase melhor, a maioria das pessoas estão vacinadas, inclusive eu. Por isso, acho que é hora de liberar”, conta a dona de casa, moradora do Entre Lagos.
Breno Adaid, pesquisador especialista pela Universidade de Brasília (UnB) em ciência do comportamento, acompanha diariamente o cenário pandêmico desde o início da crise sanitária. Ele projeta que os casos da doença devem subir um pouco com o fim da obrigatoriedade das máscaras. "O mais provável é que ocorra uma oscilação para cima, não assustadora, mas interrompendo o caminho de queda, sem dúvida alguma", pontua o professor.
Colaborou Rafaela Martins
*Estagiário sob a supervisão de Guilherme Marinho
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