Apaixonado por política, ex-colunista do Correio Braziliense por anos e com passagem por veículos como O Globo, Tribuna da Imprensa, Jornal Brasil e outros, o jornalista Walter Gomes morreu, aos 82 anos, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Ele deixa para a comunidade um legado de paixão pela profissão e compromisso com a informação.
Em coma há nove dias, desde 4 de março, o jornalista não resistiu às sequelas do AVC. O estado de saúde do jornalista era irreversível, segundo os médicos que acompanharam o quadro clínico. Durante os dias que ficou internado no Hospital Brasília, ele passou por duas traqueostomias, que não obtiveram sucesso.
Abalado, mas orgulhoso da trajetória do pai, o primogênito Luís Carlos Alcoforado contou que Walter sempre teve uma saúde sólida, por isso sua morte causou estranhamento. "Nós achamos que foi algo sintomático, em decorrência da covid-19. Meu pai sempre foi um homem saudável e não possuía doenças relacionadas a cardiopatia", explicou.
Em 2021, o jornalista ficou internado por 29 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) após contrair o novo coronavírus. Em coma, o homem lutou para continuar vivendo. Recuperou-se da doença, voltou para perto da família e seguiu.
"Ele conseguiu se recuperar e, agora, surpreendentemente, desmaiou. Por sorte, meu irmão não tinha saído ainda. Assim que ele me ligou, fui correndo para casa e com, a ajuda do SAMU, transportamos ele para o Hospital Brasília. É como os médicos dizem, ele está passando por uma transição humanitária", contou Luís. O jornalista estava em casa quando passou mal.
Carreira
Crítico, dedicado e apegado à realidade governista, entre impressões de páginas jornalísticas e publicações no formato digital, Walter Gomes terminou a carreira sustentando argumentos no blog Walgom — referência às iniciais do nome. Na sua passagem pelo Correio, nos anos 1990, ele assinou a Coluna Brasília/DF.
O drama da jovem senhora, a coação irresistível, o gesto dos necessitados, uma casa sob vigilância, os parceiros da agonia, a crônica do desalento, entre outros, trouxeram o olhar apurado do comunicador para leitores da época. Segundo Luís, o pai amava ser repórter.
"Uma das primeiras colunas do meu pai se chamava Walter Gomes: o repórter. Ele era curioso em relação à política, pela notícia política, pela análise, ele tinha um conhecimento histórico muito profundo sobre a realidade política do Brasil, incluindo todas as regiões. Ele adorava falar sobre os partidos e suas composições", ressaltou. Walter Gomes deixa quatro filhos e a esposa, Emiliana Brandão.
Homenagem
“Um homem íntegro, cuidava da família, apaixonado pelos filhos, pela leitura e um admirador de bons vinhos. Sua vida era escrever. Deliciava-se em dar títulos às matérias, e as fotos para ilustrá-las eram escolhidas a dedo. Às vezes ouvia suas gargalhadas quando encontrava imagens que ilustravam perfeitamente os textos que escrevia”, afirma Emiliana Brandão, sua esposa. Segundo ela, Walter jamais brigava com os fatos, era amigo fiel dos acontecimentos concretos. Não discutia sobre os fatos políticos, expunha-os em forma sintética. “Era um colunista maravilhoso. Um homem de caráter”, complementa.
O filho Luís Roberto Alcoforado, advogado, afirma que Walter Gomes era sinônimo de informação. Apaixonado pelo saber, sempre incentivou à busca contínua pelo conhecimento. “Entre tantos aprendizados, deixou de legado dois nobres ensinamentos: a paixão pela leitura e o principal valor de um homem, a palavra. Papai ficará eternamente em nossas memórias”, diz.
Claudio Cohen, maestro titular da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, era muito amigo da família, sempre comparecia às reuniões, jantares e almoços nos últimos 10 anos. Ele diz que “lastima profundamente a sua partida”.
O deputado distrital Chico Vigilante (PT) também lamentou a morte do jornalista. “Foi uma das pessoas mais extraordinárias que conheci no Distrito Federal. No movimento sindical, ele sempre me dava muito espaço nas matérias dele”, relata. O último contato que tiveram foi num jantar. “Mas a gente sempre se falava por telefone e conversava muito”, lembra.
“Lamento profundamente a passagem de Walter. Foi realmente um grande profissional da imprensa, um democrata, um homem que sempre sonhou com um Brasil diferente e uma sociedade justa”, afirma. Para Chico, Walter parte em um momento em que ainda precisava-se muito de um profissional como ele. “Vou guardar a memória que eu tenho do Valter, do homem alegre, expansivo, conversador. Gostava de tomar um bom vinho”, comenta.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.