Data especial

Dia de todas elas, de todas as vozes

O Correio foi às ruas e perguntou às mulheres: "O que realmente importa, para você, neste 8 de março?"

Pedro Marra
*Eduardo Fernandes
postado em 08/03/2022 00:01 / atualizado em 09/03/2022 23:25
 (crédito: Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Elas trabalham nas mais variadas funções, como vendedora, juíza de direito do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT), dona de casa, comandante da Polícia Militar do DF (PMDF), ambulante e auxiliar de limpeza. Hoje, no Dia Internacional da Mulher, o Correio traz depoimentos de mulheres com ocupações diversas para responderem à pergunta: "O que realmente importa para você neste 8 de março?".

Algumas citam a dificuldade de terem salário equiparado ao dos homens, pedem respeito pelo corpo e pela voz, um basta para violência de gênero, mas também se orgulham das conquistas e vitórias diárias que conseguem na profissão e na vida pessoal.

Há 10 anos como frentista no DF, a moradora de Planaltina Rosilene Ribeiro Santiago, 33 anos, diz que não há tanta desigualdade de oportunidades na área, mas que ainda combate o preconceito com o serviço. "Mostro que também sei trocar um pneu, olhar o motor, além de encher o tanque", afirma.

  •  07/03/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF -   Dia Internacional da mulher. Rosilene Ribeiro, frentista.
    "Mostro que sei trocar um pneu, olhar o motor, além de encher o tanque" Rosilene Ribeiro Santiago, 33, frentista Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  •  07/03/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF -   Dia Internacional da mulher. Rosilene Ribeiro, frentista.
    "Mostro que sei trocar um pneu, olhar o motor, além de encher o tanque" Rosilene Ribeiro Santiago, 33, frentista Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

Primeira mulher comandante de um Grupamento do Corpo de Bombeiros do DF, a atual tenente-coronel da corporação Fabiana Santos, 46 anos, chegou ao DF de Natal em 1995, aos 19 anos, para passar rapidamente em um concurso e ter fonte de renda. "Ainda somos poucas, e o que mais me incomoda é, apesar de a gente ter muitas conquistas e avanços, ao mesmo tempo, termos que olhar para frente e ver que há muito o que avançar", analisa.

Tenente-coronel do CBMDF, Fabiana Santos, 46, primeira mulher comandante de um Grupamento do Corpo de Bombeiros do DF
Tenente-coronel do CBMDF, Fabiana Santos, 46, primeira mulher comandante de um Grupamento do Corpo de Bombeiros do DF (foto: Arquivo pessoal)

Ela trabalha junto de aproximadamente 7 mil militares, com mil mulheres no efetivo, e se sente incomodada com a comparação e a competição na área. "No nosso meio ainda há mais competitividade e comparação do que valorização de um e de outro, e acho que isso mais prejudica do que agrega a gente enquanto sociedade e humanidade", completa a tenente-coronel do CBMDF Fabiana Santos.

Em janeiro deste ano, a Academia de Polícia Militar de Brasília ganhou a primeira comandante da história,a coronel Karla Menezes, 46, começou a trabalhar na função em janeiro deste ano. Ela destaca que a corporação dá a mesma condição de acesso para os homens e mulheres. "Não há obstáculo algum para que possamos alcançar qualquer função na polícia", assegura.

Quando se trata de obstáculo, a professora de português e literatura do CEM 01 de Planaltina, Nelda Augusto de Oliveira, 52, cita a reflexão do respeito às mulheres em sala de aula. "Esse dia tem muitos pontos positivos para mim, como mulher e professora, porque atingimos muitas meninas jovens, que buscam a conscientização", analisa.

  • Nelda Guimarães durante aula para estudantes do CEM 01 de Planaltina
    Nelda Guimarães durante aula para estudantes do CEM 01 de Planaltina Arquivo pessoal
  • Nelda Guimarães durante aula para estudantes do CEM 01 de Planaltina
    Nelda Guimarães durante aula para estudantes do CEM 01 de Planaltina Arquivo pessoal

Há 31 anos como diretora do CEM 01 de Planaltina, Nedma Guimarães destaca que o cunho de vitória pelos direitos da mulher deveria ser prioridade. "É um momento de visibilidade, mas muitas vezes encarado com muita poesia e fragilidade, quando, na verdade, precisa representar um dia de conquistas sociais", alerta.

A escola dirigida por Nedma possui 2,5 mil alunos e mais de 200 servidores, o que faz o trabalho dela desafiador a cada dia. "Meu desafio é diário, de ser melhor do que o dia anterior, de agregar valores de respeito, empatia, alteridade, principalmente em relação aos menos favorecidos", contextualiza.

A juíza do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT), Caroline Santos Lima, 45, acredita que a palavra principal é respeito. "O que mais se espera sempre, enquanto mulher, é o respeito em toda a amplitude que a palavra mulher representa, em todos os papéis, que a mulher tem que não são poucos", comenta.

Para Fabiana Costa, procuradora-geral do MPDFT, "é nosso dever, hoje e sempre, repensar o papel desempenhado pela mulher na sociedade, a ocupação dos espaços de poder de forma igualitária, a superação das dificuldades enfrentadas em todas as camadas sociais e a fomentação de políticas públicas para o enfrentamento de uma situação complexa, que demanda ação efetiva do poder público", destaca. 

Para Daise Lourenço, 70, presidente da Casa Azul — Organização da Sociedade Civil (ONG), sem fins lucrativos, com 30 anos de atuação em causas sociais — o reconhecimento do trabalho e da inteligência da mulher como fatores mais importantes nesta data. "Uma mulher empoderada vence todos os desafios e realiza todos os sonhos", opina.

Ela conta com uma equipe de trabalho composta por 106 mulheres e 31 homens. "A desigualdade de oportunidades e de reconhecimento da força de trabalho me incomoda muito", confessa. Para a representante da ONG, se pelo menos uma vez ao ano a sociedade enaltece a mulher, reforça a capacidade dela. "Creio que daqui alguns anos não haverá desigualdade de oportunidades", acredita Daise.

  • Fabiana Costa, procuradora geral do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT)
    Fabiana Costa, procuradora geral do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) Divulgação/MPDFT
  • 16/09/2014 Crédito: Antonio Cunha/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF.  Daise Lourenço Moisés, 61 anos, presidente da Assistência Social Casa Azul.
    16/09/2014 Crédito: Antonio Cunha/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Daise Lourenço Moisés, 61 anos, presidente da Assistência Social Casa Azul. Antonio Cunha/CB/D.A Press

Renda

A auxiliar de limpeza no Setor de Rádio e TV Sul (SRTVS), Marilza da Silva Martins, 55, crê numa posição de destaque diária. "Todo dia é dia da mulher, dia de trabalhar para nós, que temos uma renda", diz a moradora de Ceilândia Norte.

Gerente da BellePele Perfumaria, da 307 Sul, Roberta Oliveira, 44, diz que a data é um dia para agradecer a várias mulheres que lutaram e lutam pelos próprios direitos. "Hoje podemos votar, temos leis que protegem as mulheres, e isso é motivo de comemorar", opina.

Para Gildeci Rodrigues, 48, dona de casa e moradora de Planaltina, o Dia das Mulheres representa muito, principalmente por ser mãe. No cotidiano, apesar de tudo, a parte mais desafiadora são os afazeres dentro de casa. "Ter que sair para trabalhar, cozinhar e fazer comida para os filhos, é a experiência mais difícil", relata.

  •  07/03/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF -   Dia Internacional da mulher. Marilza da Silva Martins, auxiliar de limpeza.
    "Todo dia é dia da mulher, dia de trabalhar para nós que temos uma renda" Marilza da Silva Martins, 55, auxiliar de limpeza na Asa Sul Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  •  07/03/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF -   Dia Internacional da mulher. Marilza da Silva Martins, auxiliar de limpeza.
    "Todo dia é dia da mulher, dia de trabalhar para nós que temos uma renda" Marilza da Silva Martins, 55, auxiliar de limpeza na Asa Sul Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  •  07/03/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF -   Dia Internacional da mulher. Gildeci Rodrigues, dona de casa.
    "Essa data significa muito pra mim, principalmente por ser uma mulher e mãe guerreira" Gildeci Rodrigues, dona de casa em Planaltina (DF) Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  •  07/03/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF -   Dia Internacional da mulher. Gildeci Rodrigues, dona de casa.
    "Essa data significa muito pra mim, principalmente por ser uma mulher e mãe guerreira" Gildeci Rodrigues, 48, dona de casa em Planaltina (DF) Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • "Espero um crescimento de 50% neste ano"
Roberta Oliveira, gerente da BellePele Perfumaria  
    "Hoje podemos votar, temos leis que protegem as mulheres, e isso é motivo de comemorar" Roberta Oliveira, 44, gerente de loja de cosméticos na Asa Sul Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

Mesmo que as homenagens ao público feminino demonstrem respeito e valorização, a ambulante na Rodoviária do Plano Piloto há cerca de quatro anos, Mayara Pedrosa, 34, afirma que, as atitudes de respeito de outros homens no local ainda não mudaram. "Os homens, às vezes, abusam da nossa boa vontade, e esses são os lados mais difíceis", desabafa.

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