Colorida em tons de roxo e lilás, a Kombativa se destaca nos lugares que chega como um centro de resistência e apoio para mulheres. A iniciativa ganhou força em 2020 devido à crise sanitária causada pelo novo coronavírus e as consequências econômicas que atingiram diversas famílias. Desde então, o coletivo Mais de Nós, responsável pela Kombi, promove diversos debates sobre violência doméstica e suporte psicológico. Atualmente, o projeto auxilia cerca de 250 famílias com cestas mensais em diversas regiões da capital do país, além de atuar com doações de roupas e materiais escolares.
Uma das coordenadoras do movimento, Talita Victor, conta que o sonho do projeto começou quando ela era criança. "Sou do interior de Minas Gerais, onde vivia com os meus avós. Achava legal a cultura de ter um carro de som e levar música e entretenimento para as pessoas. A kombi tem muito isso, de caber muitas pessoas e de ter um sistema de alto falante, para fazer barulho e chamar atenção. Com a covid-19, percebemos o alto número de pessoas desempregadas e com fome e calculamos quantas cestas básicas caberiam nela. No entanto, não levamos apenas alimento, levamos debate político", destaca.
Outras iniciativas são o Vizinha você não está sozinha, que aborda a violência doméstica e as orientações sobre a ginecologia natural. Mona Nascimento, gestora da Kombativa, destaca que o foco é levar informações. "Temos famílias que tiveram as casas incendiadas pelos companheiros, então reunimos ajuda e doamos móveis para a residência. Temos mulheres trans, outras que precisam de assistência psicológica. Batemos muito na tecla, principalmente, da necessidade de as mulheres ocuparem cargos de liderança", reforça.
Fim de ciclo
É graças ao movimento que a autônoma Ana Paula (nome fictício), 42 anos, atribui o fato de ter escapado de um relacionamento de 10 anos marcado pela violência. "Aguentei o que ele fazia comigo por causa dos meus filhos. Ele me ameaçava, dizendo que se eu o denunciasse, ele faria mal para as crianças", conta. Ana é mãe de seis filhos, três do primeiro relacionamento, e três do último companheiro. "Teve uma vez que me bateu quando eu estava grávida com um pedaço de pau. Outras duas vezes, jogou álcool em mim e tentou atear fogo", detalha.
A mulher se emociona ao lembrar das feridas emocionais deixadas pelo agressor. "A principal violência que eu sofria era sexual, porque ele me forçava a ter relações. Mas quando conheci o coletivo, tive coragem de pedir o divorcio e recomeçar minha vida. Elas me mostraram que eu poderia sair daquela situação. Por isso, qualquer mulher que passe o que eu passei, digo para não retirar as queixas prestadas (na delegacia) e nem aceitar eles de volta. Aguentei ele por dez anos, e ele nunca mudou", afirma.
Suporte
O diferencial da Kombativa é o acompanhamento familiar realizado para cada família. A avaliação é de Rhaiza Moreira, gestora do coletivo. “Desde o começo sabíamos que não bastava sair entregando cesta para qualquer família, era preciso dar um auxílio diferenciado. Por isso, até mesmo a nossa cesta tem alimentos que são destacados, e primamos também pelas cestas verdes, por causa da questão nutricional. Acompanhamos, além disso, diversas mulheres grávidas, e por isso, arrecadamos enxovais para essas mães”, detalha.
A manicure Cristiane Gonçalves, 28 anos e moradora de Santa Maria foi ajudada pelo grupo a encontrar um emprego. “Tinha meu próprio salão de beleza, mas, com a pandemia, eu tive que fechar. Estava passando por uma situação muito difícil, de desespero, porque tenho um filho de três anos e não sabia o que fazer. Então o coletivo ficou sabendo da vaga de manicure e me mandou. Agora estou empregada”, destaca.
Mãe de três filhos, Caroline Vieira, 26 anos e moradora de Ocidental também sofre com o desemprego causado pelo Sars-CoV-2. “Perdi meu emprego na pandemia e se não fosse eles para me ajudar não sei o que faria. Porque meu esposo também trabalha, mas o meu trabalho era um importante complemento de renda”, diz.
Mulheres trans também têm espaço para serem acolhidas pelo projeto. Moradora de Samambaia, Joyce Pabllynne da Silva, 43, é uma delas. "O projeto é maravilhoso, principalmente, porque temos uma situação de muitas mulheres sendo vítimas de violência. O poder de juntar todas elas para lutar contra as agressões, ajudá-las a falar sobre o que acontece e a se defender, é essencial. O coletivo mostra isso, de todas se unirem para vencer a batalha", avalia.
Adriana Zaide, 49 anos, também moradora de Samambaia e diarista é outra abraçada pelo projeto. “O negro e o homossexual são muito discriminados, principalmente na questão da seuxalidade, raça e cor, e o coletivo trabalha muito sobre isso. Para mim, seria importante que o coletivo se expandisse não só aqui no DF, mas para todos os lugares, porque muita gente precisa”, finaliza.
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