Acidente

Marinha vai investigar causas de afundamento de lancha no Lago Paranoá

Além do piloto, embarcação transportava quatro integrantes de uma família e um pet. Causas do afundamento ainda são desconhecidas. Marinha informou que vai instaurar processo de investigação

Uma tarde de lazer no Lago Paranoá quase acabou em tragédia na manhã de ontem. Por volta das 11h, uma lancha com quatro pessoas e um cachorro de estimação naufragou. De acordo com testemunhas, a embarcação de pouco mais de quatro metros — considerada de pequeno porte, segundo a legislação — saiu do píer, percorreu uns 50 metros e, gradativamente, afundou, próximo à Ponte das Garças.

A operadora de caixa Lucilene Lacerda, 42 anos, viu o momento do acidente. "Eu achei estranho o barulho do motor quando eles saíram. Eles navegaram um pouco e a lancha virou. Vi uma senhora que estava na ponta da embarcação e chegou a se afogar. A família entrou em desespero", lembrou Lucilene.

Felizmente, a idosa, identificada como Maria do Socorro, 62 anos, foi resgatada a tempo. Segundo informações do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), que atendeu a ocorrência, a idosa estava orientada, mas precisou ser encaminhada de helicóptero para o Hospital de Base, pois estava com água no pulmão e pressão alta. As outras vítimas estavam bem e foram atendidas no local.

Na hora do acidente, cerca de 10 pessoas estavam à beira do lago. O montador de elevador Raniel Dantas, 36, não imaginava que seria salva-vidas por um dia. "O que aconteceu foi que o barco afundou, o pessoal começou a se desesperar e automaticamente meu cunhado e eu entramos com o caiaque para ajudar. Nós também levamos coletes para as pessoas que estavam sem", contou.

Raniel estava com a família no momento e avalia como sorte o caiaque estar posicionado em direção à embarcação. "Eu coloquei o colete e fui resgatar um rapaz. Deu um desespero porque eles estavam gritando que iam morrer, mas graças a Deus nada aconteceu e ninguém veio a óbito", disse.

O grupo de busca e salvamento aquático do Corpo de Bombeiros retirou a lancha do fundo do lago, após uma hora de trabalho. A equipe utilizou boias infláveis para levantar a embarcação que, depois, foi rebocada até a margem e puxada por uma viatura militar. Três integrantes da família aguardaram a liberação do barco, que só foi possível após perícia da Marinha.

Perícia

A embarcação era conduzida por um jovem identificado como Gustavo, 26 anos. Conforme apurado pelos bombeiros, ele possuía a categoria de navegação Arrais Amador, que significa que ele é apto para conduzir embarcações nos limites da navegação interior, exceto moto aquática. Dos quatro passageiros, somente dois utilizavam colete salva-vidas.

A causa do acidente ainda é desconhecida. Por meio de nota, o Comando do 7º Distrito Naval da Marinha disse que um inquérito será instaurado com objetivo de investigar os motivos do episódio. A corporação realizou o teste de alcoolemia no piloto e o resultado foi negativo.

A força militar reforçou seu compromisso de "zelar pela salvaguarda da vida humana e a segurança da navegação, nas águas jurisdicionais brasileiras e a prevenir a poluição hídrica oriunda de embarcações e relembra que existe um telefone disponível, ininterruptamente, para atender a emergências marítimas e fluviais: 185", diz o comunicado.

Segurança

Marinheiro e guia turístico há dois anos, David Guimarães Melo preparava o barco Mar de Almirante para o quinto passeio do dia na tarde de ontem. Com dois tripulantes, a embarcação comporta 54 passageiros. O movimento dos passeios é mais frequente aos fins de semana e durante os feriados, por isso, segundo o marinheiro, há incremento nos quesitos de segurança nas embarcações que deixam o Pontão. "A fiscalização da Marinha é reconhecidamente das mais atuantes em Brasília. Além de cobrarem toda a documentação, há rigor na contagem dos coletes reservados aos passageiros e na análise das condições dos extintores", observa David.

Segundo o marinheiro, um bote e um jet ski da Marinha costumam fazer rondas sem sobreaviso. Nas atividades de ontem, ele comentou ter visto agentes da fiscalização tanto pela manhã quanto à tarde. "Eles cobram até mesmo o ensinamento dos passageiros. Perguntam se foram explicados os trâmites de segurança", comentou.

O passeio previsto para o Mar de Almirante era de 30 minutos (a R$ 20) e atraiu as amigas Valéria Diamile, 29 anos, nascida em Brasília, e a maranhense Rafysa Assunção, 28. Foi a primeira vez que elas encararam o passeio no lago. Tanto a personal trainer Valéria quanto a sua amiga, que é pedagoga estavam cientes do acidente ocorrido pela manhã, mas estavam confiantes quanto à segurança do passeio. "A gente percebeu a estabilidade e vimos que não há traços que acusassem mau uso do barco", comentou Rafysa. Ela complementou: "Tenho mais medo de voo de avião — só assusta mesmo é saber que a profundidade do lago é de 38 metros". "Viemos pela paisagem do pôr-do-sol. É diferente ver no Lago Paranoá, dá outra sensação", completou Valéria.

O que diz a Lei?

A Legislação Marítima Brasileira prevê que, para dirigir uma embarcação, seja ela um jet ski ou um barco, é preciso ter autorização da Marinha Brasileira. A carteira de Arrais amador é concedida pela Capitania dos Portos de cada estado ou unidade da federação.

O documento dá o direito a navegar a até aproximadamente 926 metros de profundidade. O único pré-requisito é ter mais de 18 anos. A permissão deve ser renovada a cada 10 anos. O teste dispõe de 40 questões de múltipla escolha e o candidato tem de acertar metade para ser aprovado. Entre as matérias cobradas estão estabilidade em correntes marítimas, manobras e noções de sobrevivência.

Após a concessão, o piloto deve manter o documento da embarcação em dia e a bordo. Durante a condução, o cidadão deve portar a habilitação e não pode fazer uso de bebida alcoólica. Os extintores de incêndio têm que estar dentro do prazo de validade e em local de fácil acesso. Toda embarcação deve transportar material de salvatagem, tais como coletes e bóias de acordo com a lotação da embarcação.

O Capitão dos Portos de Brasília, Fragata Gúbio de Oliveira, afirma que a Capitania Fluvial de Brasília realiza inspeções no Lago Paranoá e em toda a sua área de jurisdição, durante os fins de semana e em dias aleatórios, inclusive nos feriados. Segundo o responsável, existem equipes de prontidão 24 horas para ajudar em qualquer eventualidade.