Imunizadão

Li no Correio que exercitar-se logo após tomar a vacina contra a covid-19 aumenta a produção de anticorpos. Foi o que descobriu uma pesquisa da Universidade Estadual de Iowa, nos Estados Unidos. Inicialmente, me senti mega imunizado.

Há 20 dias tomei a terceira dose. Ao contrário da testagem, quando penei por mais de sete horas na fila para saber se estava ou não com covid, a vacinação foi tranquila, todas as três vezes. Tomei a dose de reforço na UBS da Praça do Bicalho, em Taguatinga. Fiquei menos de 20 minutos na fila para completar o ciclo vacinal.

Era uma segunda-feira de folga, o clima estava agradável e o preço do carro por aplicativo nas alturas. Pensei: "Quer saber? Vou dar uma caminhada". Vindo de uma pessoa sedentária, essa escolha merecia ser acompanhada por aquela musiquinha que anuncia uma notícia bombástica na tevê (Tam-tam-tam-tam-tam, tantam-tantam... "Estamos aqui com Adson Boaventura, que deixou de chamar um carro por aplicativo para, acreditem, caminhar", noticiaria o repórter).

E fui caminhando em direção ao Pistão Norte. A missão era percorrer praticamente toda a via, em direção ao centro de Taguatinga. Passei por vários trechos arborizados, o que tornou a experiência mais prazerosa e menos cansativa. Não lembrava que aquela parte da cidade era tão verde e agradável. Pessoas corriam ou caminhavam no calçadão, outras andavam de bicicleta. Enquanto isso, no asfalto, os carros estavam em um longo engarrafamento. Realmente, foi uma boa ideia caminhar.

Estava nublado, não fazia calor e nem senti que havia caminhado por 30 minutos. Me dei conta do tempo de exercício quando decidi mudar a rota e passar pelas quadras residenciais de Taguatinga Norte. E eis que no meio do caminho tinha um boteco. Tinha um boteco no meio do caminho. Pensei: "pô, deu uma sede essa caminhada, heim? E eu todo imunizadão, bonitão. Merece uma cervejinha, né?". E todo o meu momento saudável seria anulado. Em questão de minutos, ganharia as calorias que havia perdido na caminhada.

Obviamente, ainda na primeira dose (da vacina), havia pesquisado na internet: "pode beber depois de tomar vacina?". Essa, por sinal, foi uma das perguntas mais feitas pelos brasileiros ao Google durante a pandemia. Como não há restrição, fui tomar umas geladas.

Graças ao esforço físico, pelo menos eu estava com mais anticorpos contra o coronavírus. Bacana... Só que não. Relendo a matéria sobre a pesquisa norte-americana, reparei um pequeno detalhe: eu teria de ter caminhado por, pelo menos, 90 minutos, e não 40 como eu havia feito. Poxa vida, por 50 minutos eu não me tornei um mega imunizado. Era isso mesmo? Será que os anticorpos não dão um desconto pelo meu sedentarismo e levam em conta a caminhada, mesmo finalizada com uma cervejinha?

Mas tudo bem. Pelo menos eu completei o ciclo vacinal, fiz uma caminhada bucólica e economizei a grana do carro por aplicativo. Grande dia. Brinquem o carnaval com moderação e sem aglomeração, com a 'responsa' de que a pandemia ainda está na área. E a crônica até dá marchinha em ritmo de funk: "Esse é o bonde do imunizadão/Bora tomar vacina e dar um corridão..." Credo, meu Deus. Não. Enfim, pelo menos vacinem-se e não se aglomerem. E bebam água.