A cada três horas, em média, um motorista é pego dirigindo alcoolizado pelas ruas do Distrito Federal. A conduta ilegal acende o alerta para as forças de segurança, que planejam os últimos detalhes da operação para coibir o aumento de casos durante o feriadão de carnaval. Para o governo local, mesmo com a proibição da folia em locais públicos ou com cobrança de ingressos, a expectativa é de que mais pessoas se arrisquem ao volante bêbadas, aumentando o risco de acidentes e mortes no trânsito.
Os eventos festivos autorizados pelo Governo do Distrito Federal (GDF) estão mapeados. Assim como as quadras comerciais, especialmente aquelas com alta concentração de bares e restaurantes, de todas as regiões administrativas. Equipes de inteligência estão monitorando as redes sociais para descobrir onde haverá festas privadas ou folias clandestinas. O conjunto dessas informações é o ponto de partida para fechar o cerco aos infratores.
Diretor de Policiamento e Fiscalização do Departamento de Transito (Detran), Glauber Peixoto informou que as ações serão integradas, ou seja, além dos agentes de trânsito da própria autarquia; do Departamento de Estradas de Rodagem (DER); policiais do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar e da Polícia Rodoviária Federal (PRF). "A fiscalização começa nesta sexta-feira (25/2) e ocorrerá de forma integrada. A meta é abordar o maior número possível de condutores, evitando que eles dirijam alcoolizados e provoquem acidentes. Ano passado, mesmo sem a folia, tivemos aumento de alcoolemia ao volante. Por isso, vamos intensificar ainda mais este ano", reforçou.
Na avaliação de Glauber Peixoto, com o avanço da vacinação, as pessoas se sentirão mais seguras para participar de eventos, ainda que familiares, e, consequentemente, beber e dirigir. "Ano passado, o brasiliense não tinha se vacinado ainda e estava mais contido. Este ano, com o avanço da imunização, temos elementos para acreditar que haverá mais gente na rua e, os imprudentes estão entre eles", avaliou.
Portanto, enfatiza Glauber, quem está com planos de aproveitar o feriado bebendo — uma taça ou uma caixa de bebida alcoólica — se organize para não pegar o volante. "Não pense que por estar em uma festa privada vai ter impunidade. Há muitas opções para se divertir sem infringir a lei e sem colocar a própria segurança e a dos outros em risco. Tem o amigo da vez, motorista de aplicativo, ônibus ou metrô", sugere Peixoto.
Sem carteira
A proibição de dirigir alcoolizado está no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) há, pelo menos, meio século. Mas somente após a alteração da lei, em junho de 2008, é que o tema ganhou destaque e virou assunto nas mesas de bar e churrascos de família. Apesar da ampla divulgação das normas, a quantidade de brasilienses com a Carteira Nacional de Habilitação Suspensa (CNH) por dirigir alcoolizado não para de crescer.
No ano passado, 4.729 condutores foram proibidos de pegar o volante durante um ano por ter sido pego bêbado ao volante. O número é 207,8% maior do que no mesmo período de 2020, primeiro ano da pandemia. E é praticamente igual ao de 2019, anterior à crise sanitária.
Dono de uma loja de informática no Plano Piloto, Gustavo (nome fictício a pedido da fonte), 35 anos, está entre os que tiveram a licença para dirigir suspensa. "Fui a um baile de carnaval perto de Brazlândia, bebi e voltei dirigindo. Eu tenho consciência de que estava bem para pegar o volante. Eu me conheço. Mas, enfim, qualquer valor (no bafômetro) dá multa", relata.
Gustavo não recorreu do processo de suspensão, concluído em junho do ano passado. Neste período admite ter pegado o volante mesmo sem o documento. E não procurou a Escola Pública de Trânsito do Detran para fazer as aulas de reciclagem e a prova, uma exigência para reaver a permissão para pegar o carro. "É impossível ficar sem dirigir em Brasília. Sei que tenho que fazer as aulas, mas, não tenho tempo", justifica.
A multa e todas as punições previstas em lei é o que menos deveria importar. Há casos, em que o condutor alcoolizado provoca sinistros de trânsito e mata. Foi o que aconteceu em 28 de novembro do ano passado, em Taguatinga. Alcoolizado e dirigindo na contramão da via, um motorista de 23 anos matou Fábio Freire Pontes, 38. O teste do bafômetro acusou 0,57 miligramas de álcool expelido dos pulmões. Fábio era casado e deixou dois filhos órfãos.
As abordagens nas vias do DF revelam que cerca de 85% a 90% dos condutores pegos alcoolizados ao volante são do sexo masculino. Entre eles, a faixa etária mais comum é dos 25 aos 35 anos e a partir dos 50 anos. "Os jovens recém-habilitados são menos imprudentes e mais conscientes sobre o risco da mistura de álcool e volante", avalia Glauber Peixoto, do Detran, com a ressalva de que os dados do perfil dos flagrantes de alcoolemia são baseados na percepção do trabalho na rua e não estão tabulados com metodologia estatística.
Doutora em transportes e professora da Universidade de Brasília (UnB) dos cursos de engenharia civil e do Programa de Pós-Graduação em Transportes,Michele Andrade ressalta que beber e dirigir é uma questão comportamental e que há dispositivos para conscientizar a população sobre os perigos de conduzir alcoolizado um automóvel."Os pilares são pautados na educação, com o processo de formação de condutores e campanhas constantes. Trabalhar esse temos nas escolas desde os anos iniciais é importante, mas pode causar um choque geracional. Essa medida terá efeitos a longo prazo. A criança vai saber que o comportamento é incorreto e questionar os pais, mas o exemplo acaba tendo uma força muito grande. Temos que saber que o resultado é a longo prazo. A curto prazo, precisamos agir em cima dos adultos, com formação de condutores e companhas", detalha.
Michele critica a demora entre o motorista cometer a infração e receber a multa, que leva, em média, seis meses. "Esse período tem um papel fundamental na mudança comportamental. Mas o dispositivo mais forte que temos é, sem dúvida, a fiscalização e a punição", finaliza a professora.