Com um público avaliado entre 700 e 800 mil pessoas circulando diariamente, a Rodoviária do Plano Piloto pode ser considerada uma cidade à parte dentro do Distrito Federal. Os dados são da administração do terminal. O número de ônibus que transitam pelo local é de 3,8 mil, embarcando e desembarcando passageiros nas estações. De acordo com a tenente-coronel Kelly Cezário, comandante do 6º Batalhão de Polícia Militar (Esplanada) — responsável pelo policiamento na região da Rodoviária —, somente este ano, a PMDF registrou 416 ocorrências na área. "Os altos números de pessoas circulando na Rodoviária, podem facilitar a ação da criminalidade. A maior parte das ocorrências atendidas no terminal são de roubo e furto, com uma estimativa de que, mais da metade, são dessa natureza", destaca.
A comandante do 6º Batalhão ressalta que entre 2020 e 2021, houve aumento na taxa de criminalidade no terminal, passando de 1.563 para 2.295. "Os dados de 2020 são menores, por conta da restrição de circulação causada pela pandemia. Estávamos em lockdown, por isso, menos pessoas passaram pela Rodoviária. A partir do ano passado, a circulação voltou a aumentar, refletindo nos números de ocorrências registradas", explica Kelly.
A PMDF atua no local 24h por dia, na tentativa de conter a criminalidade, com um contingente de 60 militares, em média, por turno de 12 horas, cada. "Temos uma base móvel situada no centro da Rodoviária, policiais que trabalham de moto, equipes de rádio-patrulhamento e o policiamento a pé. Além disso, quando a gente percebe um aumento nos índices criminais, intensificamos o policiamento com o apoio do Batalhão de Cães, para fazer frente ao tráfico de drogas", detalha. Dentro da base móvel, a comandante alerta que há um canal de disque-denúncia para que a comunidade possa indicar locais onde a PM possa intensificar a atuação. "A população é parte importante no combate à criminalidade. Com os dados do disque-denúncia, nós podemos controlar melhor os locais onde as viaturas e os militares fazem as rondas", conta.
Contudo, a comandante avalia que algumas situações atrapalham a atuação da polícia. "A desordem causada pelo comércio ambulante, que está espalhado pelos corredores da Rodoviária, causa grande dificuldade no atendimento às ocorrências", argumenta.
Receio
Quem passa pela Rodoviária do Plano Piloto revela que não se sente seguro. O estudante Luis Fernando, 16 anos, conta que a situação "é de dar pena". "A segurança, aqui, é muito pouca, quase nenhuma. Quando vou para casa de algum parente, preciso passar por aqui a noite, e a sensação de insegurança é maior ainda", afirma. Luis frisa que nunca sofreu um assalto ou foi vítima de furto no terminal, no entanto presenciou algumas situações. "Meu padrasto teve o celular furtado em dezembro do ano passado. Ele estava subindo no ônibus, e aí vieram por trás dele e puxaram do bolso. Chegamos a fazer um boletim de ocorrência, mas foi o mesmo que nada, é difícil recuperar", lembra o estudante.
Luis considera que qualquer um que transite por lá corre risco de ser vítima de crimes. Para ele, falta policiamento. "Durante o dia e à noite. Para os bandidos não tem hora. Eles agem o tempo todo. É difícil observar a presença de polícia aqui. De vez em quando, a gente vê, mas é raro. Eu não me sinto seguro aqui", desabafa o morador de Planaltina.
Elisângela de Abreu, 42, relata sentimento de medo quando precisa passar pela Rodoviária. "A segurança aqui é precária, você precisa ficar atento aos seus pertences o tempo todo, caso contrário, passam e levam sua bolsa ou o que estiver ao alcance, e nem sabe quem foi", protesta. "Eu não me sinto segura. Apesar de nunca ter passado por um momento como esse, presenciei alguns e, mesmo quando não é com você, a sensação é de agonia. Eu não frequento aqui durante a noite, justamente pelo medo de acontecer algo comigo, tenho muito receio", ressalta Elisângela.
Comerciantes relatam que precisam ter cuidado redobrado. O técnico da Blumenau Celulares Edmilson Ribeiro, 32, diz que, antes das 8h, é difícil encontrar qualquer militar em patrulhamento. "Durante a manhã na Rodoviária, no horário de pico, o que você mais ouve são gritos de 'assalto!', 'olha o ladrão!'. Também já observei pessoas batendo na mão de outras, tentando tirar o celular, e você não acha polícia", retruca. "Até existe um policiamento que prende, mas não adianta nada. Uma ou duas semanas depois, a mesma pessoa aparece, com a tornozeleira (eletrônica), andando dentro da Rodoviária", reclama o técnico.