Vaidosa e de longos cabelos castanhos, Sarah Duarte viu sua vida e autoestima virarem de ponta-cabeça do dia para a noite. Aos 16 anos, a estudante descobriu um nódulo na região lombar. Após exames, o diagnóstico: sarcoma de Ewing, um tipo de câncer que começa nas pernas, ossos da pelve e braços.
"Eu e minha família não suspeitamos de câncer. Eu sentia muita dor na perna, na panturrilha. Era uma dor constante que parecia comum. Até achei que era por eu brincar muito, pular cordas e fazer brincadeiras de adolescente. Mas a dor foi ficando constante, subia para a coxa e ficava na na panturrilha. Comecei a sentir uma queimação com o tempo, o que foi só piorando", conta a estudante, hoje com 23 anos.
O câncer infantojuvenil é a doença que mais mata crianças e adolescentes de 1 a 19 anos no Brasil, respondendo por cerca de 8% das mortes infantis, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). A cada três minutos, uma criança morre vítima de câncer no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa é a primeira causa de óbitos entre crianças e adolescentes entre 0 e 19 anos. O dia 15 de fevereiro é marcado como o Dia Internacional do Câncer Infantil para enfatizar a importância da participação comunitária e o apoio na luta contra a doença em todos os países.
Com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, as chances de cura podem chegar a 80%. Porém, o Inca estima que, anualmente, 3.800 crianças não conseguem sequer chegar ao tratamento. Felizmente, não foi o caso de Sarah. A estudante conta que precisou fazer várias consultas e tomar fortes medicamentos para dor até descobrir a doença.
"Eu estava deitada de bruços na cama da minha mãe quando ela viu um nódulo ao lado da coluna. Depois de vários exames, conseguimos fazer uma ressonância que confirmou a suspeita do médico: eu estava com câncer", conta. Encaminhada para o Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB), Sarah fez uma biópsia e descobriu que o nódulo avistado pela mãe era maligno. A boa notícia era que a patologia estava no início e ainda havia tempo para a realização de um tratamento eficaz.
Para os especialistas, não há dúvidas: o diagnóstico precoce aumenta a possibilidade de cura e sobrevida dos pacientes. O Inca estima que, no Brasil, o número de casos novos de câncer infantojuvenil, para cada ano do triênio, será de 137,87 novos casos por milhão no sexo masculino e 139,04 por milhão para o sexo feminino. Segundo a diretora técnica do HCB, Isis Magalhães, o câncer infantojuvenil pode ocorrer na criança "independentemente de sua idade, sexo, cor ou etnia, condição nutricional ou socioeconômica". A especialista ressalta que metade dos casos ocorre antes dos cinco anos de idade, 25% entre 5 e 10 anos e os outros 25% na adolescência.
Segundo a Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace), os tumores mais frequentes na infância e na adolescência são linfomas (sistema linfático), os do sistema nervoso central e as leucemias. Para a instituição, o câncer infantojuvenil é cada vez mais curável. "Hoje, em torno de 70% das crianças e adolescentes acometidos de câncer podem ser curados, se diagnosticados precocemente e tratados em centros especializados", afirma.
Inspiração
Sarah conta que a descoberta teve um início doloroso. "Minha autoestima ficou prejudicada porque eu tinha um cabelo muito grande, eu era muito vaidosa com ele. Quando começou a cair, eu fiquei um pouco abalada. Mas em questão de dias eu raspei a cabeça e voltei a ser como eu era antes", afirma a estudante, ao ressaltar que, ao se olhar no espelho, dizia para si que continuava linda como sempre foi.
"Eu não deixei isso afetar porque poderia atrapalhar o meu tratamento. A autoestima baixa, a tristeza, tudo isso atrapalha o tratamento. Então, eu preferi pensar que o cabelo ia nascer de novo, que ia crescer da mesma forma, nascer mais bonito. E aquilo ali foi me ajudando muito", relembra emocionada.
Outro fator que marcou a história de Sarah foi o tratamento que recebeu no HCB. "O hospital me acolheu, me ajudou. Ajudou a mim e a minha mãe. E eles estavam muito preparados para cuidar do meu caso", afirma a jovem. Ela afirma que ninguém da família havia tido câncer, portanto, no primeiro momento, ela e a mãe ficaram assustadas, pois não sabiam como lidar com a doença, até chegarem à instituição.
"Nos momentos de fraqueza, eles me davam apoio e carinho. Faziam com que eu acreditasse que ia dar tudo certo. Diziam para eu ter fé que eu ia conseguir. Eles estavam sempre de braços abertos para atender todas as nossas dúvidas e angústias", lembra.
Toda a dedicação dos profissionais de saúde não foi em vão. Sarah decidiu retribuir a atenção que recebeu se dedicando a cuidar da saúde da sociedade. A jovem está prestes a concluir o curso técnico em enfermagem e pretende atuar na área. "A forma como fui tratada, o carinho e o amor que eu recebi, agora, vou retribui-los e passar tudo isso para as outras pessoas. Não quero deixar apenas para mim esse amor. É um dos meus maiores sonhos", revela Sarah, que se prepara para ingressar em um concurso público para exercer a profissão na rede pública.
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