"Me ajuda, tia. Quero água. Estou sentindo muita dor". Essas foram as últimas palavras de Izadora de Souza do Nascimento. Com apenas 8 anos, a criança teve a infância e os sonhos interrompidos pela crueldade e pela covardia. A menina estava em uma reunião familiar em casa, em Samambaia Norte, quando um homem em fúria invadiu a residência e esfaqueou cinco pessoas. A motivação, segundo as investigações, seria ciúmes da companheira, Eudicilene de Sousa Barros, 50. Adenilson Santos de Costa, 36, foi preso em flagrante pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e deve passar por audiência de custódia hoje.
As fotos e os vídeos dos momentos marcantes com a criança ficarão eternamente guardados no celular de Ana Carolina Oliveira, 27. Emocionada, a madrinha de Izadora diz não acreditar na barbárie. Ana e Izadora eram praticamente mãe e filha e costumavam sair e viajar juntas. "Peguei ela para ser minha afilhada com poucos meses de nascida. Ela costumava ficar na minha casa de segunda a sexta-feira. Era uma filha para mim", desabafou.
A barbárie aconteceu por volta das 22h45 de sábado, na QR 409 de Samambaia. As duas irmãs Ana Paula de Sousa Paraguai, 33; Adélia de Souza, 36; a tia Eunice Maria de Souza, 54; e Izadora, filha de Adélia, estavam se divertindo. Eudicilene, que trabalha como empregada doméstica em Águas Claras, morava em uma casa ao lado e foi até a residência das amigas para se encontrarem.
Testemunhas contaram à polícia que Eudicilene deixou a casa das vizinhas por um instante e foi até a residência dela, onde discutiu com Adenilson. Ao retornar, o homem a teria seguido e forçado o portão para entrar. Em fúria, ele invadiu o imóvel e foi em direção à companheira, atingindo-a com uma facada no abdômen. A amiga Adélia tentou defendê-la e acabou golpeada na barriga.
Ao ver a mãe sendo esfaqueada, Izadora, assustada, tentou correr. O agressor a alcançou e a atingiu na região inferior do abdômen. Não satisfeito, Adenilson atacou Eunice e Ana Paula, que segurava um bebê recém-nascido no colo e foi esfaqueada no braço, ao tentar se defender.
Nove militares do Corpo de Bombeiros (CBM-DF) compareceram ao local para prestar os primeiros socorros. Izadora foi encaminhada ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC), mas, na madrugada de ontem, sofreu um choque hipovolêmico e uma parada cardíaca e não resistiu. A avó dela permanece em estado grave. Eunice veio há três meses do Piauí para Brasília para um tratamento médico. "Ela está entre a vida e a morte e está tentando vaga na UTI", afirmou Ana Carolina.
Companheira de Adenilson, Eudicilene está internada em estado grave no HRC. Ana Paula e Adélia receberam alta na tarde de ontem, e estão sendo supervisionadas em casa. Segundo familiares, ao saber da morte da filha, Adélia passou mal. "Ela está transtornada, assim como nós", lamentou Ana.
Confissão
Adenilson foi contido pelo marido de Ana Paula, que estava no interior da residência e saiu ao ouvir gritos e barulho no portão. Em depoimento, o homem contou que, após Adenilson cometer o crime, tentou segurá-lo, foi mordido no braço e ouviu do agressor: "Eu vou matar". Policiais militares chegaram pouco tempo depois e encontraram o assassino sujo de sangue e com lesões na cabeça. O criminoso foi encaminhado ao hospital e, em seguida, à 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte).
Na delegacia, Adenilson confessou o crime e disse que tinha a intenção de matar a mulher. O homem alegou não se recordar de ter esfaqueado outras pessoas, pois, segundo ele, havia ingerido três litros bebidas alcoólicas destiladas. Ao ser questionado sobre a faca, Adenilson afirmou que estava com o armamento por uma suposta ameaça de um homem da região. Segundo o delegado-adjunto da 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte), Rodrigo Carbone, o criminoso foi indiciado por homicídio qualificado consumado, três tentativas de homicídio qualificado e uma tentativa de feminicídio. Ele está na carceragem da PCDF e permanece à disposição do Judiciário.
Sonhos
Inconformada com a perda da afilhada, Ana Paula se apega aos momentos inesquecíveis que passou ao lado da menina. Na galeria do telefone, ela chora ao olhar os retratos da criança viajando, indo ao shopping e ensinando tutoriais de beleza. "Ela queria muito ter o canal dela", contou Ana Carolina.
Vista como uma garota esperta, Izadora tinha o sonho em ajudar animais vítimas de maus-tratos e pessoas carentes. Na semana passada, a menina comemorou a compra dos novos materiais escolares e estava ansiosa para começar o ano letivo. "Ela era a queridinha dos professores. Era a garota número um, que só tirava notas boas e se destacava em tudo. Precisamos que a justiça seja feita. Toda a nossa família foi vítima desse monstro. Uma criança de 8 anos sofreu tanto. Isso não existe. E minha família? Isso é justo? Peço que a Justiça, por favor, mantenha esse homem preso para que ele pague pela destruição que causou nas nossas vidas", protestou a madrinha.
A cozinheira Michelle Ferreira é prima de Ana Carolina e mantinha fortes laços com Izadora. Ela conta que, no momento em que a criança foi socorrida, a menina fez um pedido. "Ela disse que queria água. Chamou pela Carol e falou que estava sentindo muita dor. Vimos todo aquele sofrimento, mas tínhamos esperança dela sair dessa. Está sendo muito doloroso", afirmou.
A família, agora, busca recursos para custear o velório de Izadora. Não há previsão para o sepultamento, uma vez que os parentes aguardam a liberação do corpo no Instituto de Medicina Legal (IML).