Referência no atendimento e acolhimento às pessoas autistas no Distrito Federal, a Associação dos Amigos dos Autistas (AMA-DF) vai encerrar as suas atividades em 1º de abril. O motivo é uma ordem de despejo encaminhada pela Secretaria de Saúde para que a Instituição desocupe as duas casas localizadas dentro do Instituto de Saúde Mental, no Riacho Fundo, que servem como sede da entidade.
Desde 2017 que Gisele Montenegro, presidente da AMA-DF, luta para continuar no espaço cedido pela Secretaria de Saúde há 35 anos em um convênio firmado. A parceria com o governo tinha se encerrado e a pasta não renovou o contrato com a ONG. Sem ter para onde ir, a entidade permaneceu. O governo entrou com uma ação judicial para a desocupação do espaço e o prazo se encerrou em 2019.
“Foram anos tentando negociar com o governo, batendo de porta em porta. Mas ninguém nos atendeu. O trabalho que a gente faz no AMA é único em Brasília. Quem tem filho autista sabe da dificuldade que é. É preciso cuidado integral e muitas das famílias que a gente atende são autônomas e precisam de um espaço para deixar o filho em segurança”, ressalta Gisele.
“Sou mãe de um autista severo, com quase 30 anos, e que depende de mim até para comer. Todo o avanço obtido durante a maior parte do tempo de vida do meu filho, e de outros autistas foi conquistado com a ajuda da AMA-DF. Lugar que identificamos como a nossa segunda casa, nosso porto seguro e que vai deixar de existir”, relata a presidente do instituto que lembra que só após o trabalho dos educadores na entidade que ela conseguiu, enfim, abraçar e beijar o filho sem ele a agredi-la devido aos surtos do autismo.
Nas redes sociais, deputados demonstraram apoio a instituição e afirmaram que cobraram do governo resposta sobre o despejo e que disponibilize outro local para que o trabalho continue. “Sou grata por esses apoios, mas que não fique só porque é ano de eleição. Todos eles estão cientes da situação há muito tempo”, pontua Gisele.
A AMA-DF atualmente atende cerca de seis pessoas autistas. Em anos anteriores, esse número chegou a 67 acolhidos. “Muitos saíram após a situação do despejo. Quem teve condição saiu, mas temos muitas famílias que não conseguem pagar um especialista para atender o seu filho. Todos os dias recebemos solicitações para vaga, são mais de 250 nomes na lista de espera”, conta.
Resposta
Em nota, a Secretaria de Saúde informou que não há um convênio que regularize a permanência da Associação dos Amigos dos Autistas no local em que funcionava. No entanto, a pasta informou que está aberto “um novo instrumento de convênio, que resguarde os interesses dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), respeitando a legislação e que alcance os objetivos da AMA, necessitando que a associação apresente um plano de trabalho que atenda à legislação vigente”, destacou.