Maria Carmen Germano Braga partiu hoje, aos 73 anos, depois de muitas batalhas vencidas. Foi uma guerreira. Tão forte que os familiares e amigos acreditavam até o fim que o duro momento que ela vivia seria apenas mais um de tantos obstáculos que ela conseguiu derrubar. Afinal, ela superou vários, com personalidade, garra e obstinação. “Vou vencer”, dizia sempre.
E venceu muitas vezes. Nos estudos, na vida pessoal e nas adversidades da saúde. Colecionou vitórias. Ela dizia ser realizada em todos os sentidos, como filha, mãe, mulher e profissional e foi exemplo para muitas mulheres ao quebrar rótulos de sua geração.
Tati, como era carinhosamente chamada pelos mais próximos, tinha orgulho de dizer que estudou no Ciem, a escola com projeto pedagógico inovador idealizado por Darcy Ribeiro e Anisio Teixeira. Ela chegou como caloura em 1966, nos anos de chumbo. Tempos de mudança nos comportamentos, no modo de se vestir, nas relações humanas, numa escola de ensino médio que formava alunos com capacidade criativa e pensamento crítico.
Formou-se em engenharia civil quando era raro encontrar mulheres nas salas de aula do curso na Universidade de Brasília (UnB). Adorava uma obra. Fez muitas. Ideias pipocavam na sua cabeça. “Vamos quebrar aqui, abrir ali...”
Mas era uma obra sempre escondida que mais despertava seu interesse: o saneamento básico. Como engenheira da Caesb e depois em consultorias, ela executou muitos projetos que deram dignidade a famílias até então sem rede de esgoto no Brasil inteiro.
Ela também amava literatura, arte e pintava quadros, louças, cerâmicas. Gostava de viajar pelo mundo, mas suas maiores paixões eram Paris e o Rio de Janeiro, com sol, mar e toda a sua poesia.
Na Caesb, ela conheceu seu companheiro de vida, o também engenheiro Roberto Mauricio Pires Campos. Juntos tiveram a caçula Roberta, mas formaram uma família com sete filhos, uma deles, três dela e três dele, todos unidos como irmãos.
Era a luz da família. Seus sonhos eram abraçados por todos. Foi assim que depois de décadas morando em Brasília, Tati decidiu viver no Leblon. O casal se mudou para um apartamento com uma vista para o mar, onde era possível admirar as ondas e as ilhas Cagarras da janela da sala. E ela suspirava toda vez que via o Cristo Redentor de braços abertos... Para ela.
Nasceu em Muriaé, mas tinha alma carioca - dizia que sentia a brisa do Rio de Janeiro na cidade mineira. Fez a vida e criou os filhos em Brasília, mas era na praia, com sol e uma cerveja gelada, que sentia a felicidade plena. Gostava de se sentar de frente para o mar, conversar com os vários amigos, desde a turma do inglês aos que ela fez ali mesmo, como Aguiar, dono da barraca instalada em frente à rua Carlos Góis.
Vaidosa, ela estava sempre bronzeada, maquiada e usando salto alto. Foi uma apaixonada por carnaval. Adorava desfilar na Marquês de Sapucaí e durante quase 20 anos escolhia as suas fantasias para a escola do coração, a Imperatriz Leopoldinense. Na véspera do carnaval, partiu. E o Rio chorou.
Pouco antes do Natal, ela se submeteu a um transplante de medula como parte do tratamento de uma leucemia. Voltou para casa, viu o mar e curtiu os últimos dias com os filhos e seu grande companheiro. Mas, fragilizada pela doença, não resistiu. Tati ainda queria conhecer muitos lugares no mundo: México, Egito, mais da Rússia, entre outros. Queria mostrar tudo para as suas netas.
Era filha única de Dona Mocinha, com cinco irmãos, Edmundo, Milton Rui, que já se foram, Raul e Geraldo. Além dos dois irmãos, ela deixa o marido, Roberto, os filhos, Mariana, André, Mila e Roberta, os enteados, Flávia, Tharsis e Ana Maria, genros, netos de consideração e os cinco netos de sangue, sua maior obra dos últimos tempos: Valentina, Catarina, Maya, Beatriz e Renato.
Maria Carmen será cremada nesta sexta-feira (25/2), no Cemitério da Penitência, no Caju, Rio de Janeiro.
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