Sem bonecos gigantes, fantasias ou trios elétricos nas ruas, mais uma vez, o carnaval será sem clima de folia. Apesar de representantes de blocos e escolas de samba locais considerarem a decisão acertada, devido ao aumento de casos da covid-19 — impulsionado pela variante ômicron —, o setor lamenta um 2022 sem as festividades. A esperança, agora, fica por conta da possibilidade de haver comemorações fora de época, para compensar as perdas.
Eleito Rei Momo sete vezes no DF, Antônio Jorge Sales lamenta o cenário nacional de desvalorização da cultura e acredita que, na crise sanitária, parte da população percebeu a importância das artes para ajudar a enfrentar momentos difíceis. "E, como o DF representa todas as unidades da Federação, temos um diferencial aqui, que é reunir todas as expressões: o samba, o frevo, o caboclinhos, o bumba meu boi. Somos esse misto", destaca.
Rainha de Carnaval em 2013, Annalice Patrocínio vê com tristeza mais um ano sem festas, mas acredita em uma comemoração próxima. "Sou cria do carnaval de Brasília, e minha história é da folia na rua. Meu pai era supervisor técnico e montava trio elétrico. Aos 3 anos, eu já participava do carnaval. Em Brasília, não temos muitos apoiadores e, depois de 2015, não tivemos mais apresentações das escolas (de samba). Por isso, ficamos prejudicados", observa.
Ainda assim, a paixão pela folia move quem costumava tornar o carnaval realidade por aqui. Aline Nel, 32 anos, é a atual rainha do Reinado de Momo, eleita em 2015. Moradora de Taguatinga, ela aguarda o próximo ano de folia para passar a faixa à sucessora. "É por amor mesmo. Comecei como musa (do reinado), em 2013, e ganhei a coroa dois anos depois. (Na pandemia,) percebemos a falta que a cultura faz. Mas, realmente, não é a melhor (época para liberar a festa). Para não deixar o samba morrer, temos apresentado lives, que estão ocorrendo todos os fins de semana, nos canais das escolas nas redes", diz.
Expectativas
Vice-presidente da Liga dos Blocos Tradicionais de Brasília e diretor-fundador do bloco Raparigueiros, Jean Costa confirma que o setor apresentou à Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secult) propostas para movimentar o setor. "A ideia é promover atividades que mantenham vivas as programações, porque elas não se resumem só ao carnaval. Fazemos várias oficinas, festas juninas, participamos dos aniversários das cidades onde os blocos têm origem. Essa matriz cultural é forte em todo o país, e mantê-la viva no DF é muito importante. Agora, o Raparigueiros estaria completando 30 anos (nas ruas), e imaginávamos ter uma comemoração especial. Mas, com certeza, teremos nossa celebração no momento certo", comenta Jean.
Outro ponto que prejudica o segmento, além da pandemia em si, é o fato de as agremiações não desfilarem há oito anos no DF. Diretor de Carnaval da Liga das Escolas de Samba Tradicionais, Moacyr Oliveira Filho conta que sente falta do barracão a pleno vapor, da correria para montar os equipamentos, dos ensaios e da pressa para finalizar a decoração dos carros alegóricos. "As atividades ocorrem 365 dias, desde a escolha do enredo até o processo coletivo de criação de tudo que envolve a apresentação. Vamos torcer para que, em 2023, a pandemia acabe ou, ao menos, diminua, para retornarmos às ruas com calma e planejamento", ressalta.
A Secult informou que, em 2020 — primeiro ano da pandemia —, houve aporte de R$ 4 milhões, por meio de edital, para fomentar as atividades de blocos do DF. "A estimativa era de 1 milhão de foliões nas ruas de todo o DF", comunicou a pasta. Presidente do Grêmio Recreativo da Expressão Nordestina Galinho de Brasília, Romildo de Carvalho explica que, por enquanto, os coletivos promovem eventos patrocinados pelo órgão.
Um deles é o projeto Brasília tem cultura carnavalesca: Atividades permanentes nas escolas de samba, que promove lives em diversos dias com integrantes de blocos e agremiações. "Essas iniciativas diminuem os impactos da falta de carnaval. Mas muitos profissionais dependem muito desse período. Nossa expectativa é de que, em 2023, possamos retomar as atividades. E que, na primeira oportunidade possível, as comemorações explodam com muito mais gosto, com a típica paixão brasileira e com o gosto pelo frevo", acredita Romildo.
De multa a interdição por descumprimento
O carnaval de 2022 no Distrito Federal seguirá regras rigorosas para combate às festas clandestinas. Entre sexta (25/2) e terça-feira (1º/3), o Executivo local promoverá uma força-tarefa para inspecionar eventos ilegais e o descumprimento das normas de segurança. Estão proibidas festas carnavalescas, em locais públicos ou privados, com cobrança de ingresso ou de qualquer tipo de contribuição por parte dos frequentadores. Além disso, não têm autorização para ocorrer: bailes, shows, blocos ou desfiles nas ruas. Comércios também estão proibidos de disponibilizar espaço para dança. A multa por descumprimento começa em R$ 4 mil e pode resultar em interdição.
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