Privados do convívio social e até do meio familiar, os idosos têm sido alvos fáceis de violência e maus-tratos no DF. De janeiro a outubro de 2021, a Central do Idoso do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT) recebeu 324 denúncias envolvendo pessoas idosas. Em 2020, foram 230 registros. Ontem, uma situação de agressão a uma mulher de 70 anos gerou revolta na capital. Vítima de sessão de torturas, a mulher era mantida em cativeiro pelo próprio filho, de 28 anos. O homem foi preso pela Polícia Civil (PCDF).
Walefy Thalles de Souza agredia verbalmente a mãe, e espalhava anzóis e agulhas na cama para torturá-la. As investigações conduzidas pela 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho), constataram que o filho torturava a mãe para colocá-la para fora de casa. "Ele a machucava, jogava fora os alimentos e chegou a colocar anzóis na cama para que ela se ferisse, considerando que ela não enxergava bem", afirmou o delegado Hudson Maldonado, chefe da 13° DP.
As agressões chegaram ao conhecimento da família em 17 de janeiro. Os parentes decidiram a expulsar o rapaz, que foi morar com uma prima e passou a ameaçá-la. A mulher, então, solicitou medida protetiva, o que resultou na prisão em flagrante. "Ele foi diagnosticado com esquizofrenia e está em surto e apresenta esse quadro desde os 8 anos. Nesse período, teve muitas internações quando surtava, mas voltava para casa. Dessa última vez ele prendeu minha tia, que perdeu a visão em virtude da diabetes, em casa", relatou a prima ao Correio, sob a condição de ter a identidade preservada.
A família acredita que a idosa chegou a ser dopada pelo filho com os medicamentos que ela usava para controlar a doença. "Ela (vítima) ficou dois dias deitada sobre esses anzóis e isso a lesionou bastante. Ela ficou dois dias sem comer", relatou. Os parentes ficaram sabendo das agressões por meio de uma vizinha, que acionou a família.
Walefy foi indiciado por tortura e lesão corporal contra idoso, ameaça e descumprimento de medidas protetivas. Ele está preso na carceragem da PCDF e deve passar por audiência de custódia hoje. Caso seja condenado, pode pegar de 5 a 15 anos de prisão.
Números
Dados do TJDFT obtidos pelo Correio mostram que, das 324 denúncias de violência contra idosos registradas entre janeiro e outubro de 2021, 106 foram por tortura psicológica, 70 por danos patrimoniais, 64 por negligência, 51 por agressão física, 28 por abandono, 4 por auto negligência e 1 por abuso sexual. Em 2020, 125 denúncias foram feitas pela internet e 105 (de janeiro a março) referem-se a acolhimentos presenciais.
Ângela Santos, delegada-chefe da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa, ou por Orientação Sexual, ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin) afirma que os crimes contra a pessoa idosa assemelham-se aos de violência doméstica. "Não fomos preparados para lidar com a população idosa e há falta de cultura em incluir esse idoso na vida social e familiar."
Segundo ela, a pessoa idosa é "desumanizada" e, na maioria dos casos, o agressor tenta tirar a autonomia da vítima. "A partir do momento que você tira a autonomia do idoso, abre-se a porta para outro tipo de violência, como a sexual e física, mesmo sendo em um ambiente familiar", finalizou.
Em 2021, em menos de cinco meses, o DF registrou duas mortes de idosas vítimas de maus-tratos. O caso mais recente aconteceu em outubro. Eulina Bispo de Freitas, 84, era tetraplégica e sofria agressões do filho há cerca de cinco anos. Cadeirante, a vítima foi jogada no chão com força pelo filho, Luciano Bispo de Freitas, 47, o que a levou à morte. O homem foi preso preventivamente pela PCDF.
O outro caso aconteceu no Sudoeste. Aos 80 anos, uma alemã foi maltratada até a morte pelo filho de 57 anos, dentro do apartamento, na quadra 300.
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