Que me desculpe o leitor em busca de algum tema ameno para devanear ou sorrir, mas estou muito precupado com a volta às aulas. O que vejo em programas de tevê e o que leio em jornais e sites é perturbador: as UTIs estão lotadas, com filas de espera de mais de 30 pessoas em busca de uma vaga. O número de mortes sobe rapidamente, desmentindo a versão de que a variante ômicron seria menos letal.
A decisão de retomar as aulas presenciais foi tomada em outro cenário, anterior ao da variante ômicron, que tem um poder de transmissão cinco vezes maior. Mantê-la é uma aposta arriscada e sem fundamento na ciência. Como é que alguém pode dizer que retornar às aulas presenciais é seguro em um cenário como esse?
Seria muito mais sensato e responsável adiar em duas semanas ou em um mês a volta às aulas e vacinar todas as crianças. E foi o que fez o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Calil, contrariando, inclusive, recomendação do Ministério Público. Eu espero essa atitude responsável de quem está no comando da gestão sobre a pandemia. As que se encontram em estado de maior vulnerabilidade são as crianças.
Para elas, a ômicron pode ser letal ou pode deixar sequelas irreparáveis. A maioria ainda não está vacinada ou tomou apenas a primeira dose. Uma nota técnica assinada por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade do Estado da Bahia (UNEB), entre outras, alerta para a necessidade de adiar a volta às aulas, ante a escalada crescente de contaminação.
O que acontecerá se uma criança for contaminada e precisar de um leito de UTI? Parece uma pergunta sinistra, mas é uma possibilidade real. Ela precisa ser considerada pelas excelências que comandam gestão da pandemia. Nenhuma pode alegar o desconhecimento e se eximir da responsabilidade pelo que pode acontecer às vidas das pessoas que transitam na comunidade escolar.
Percebo que os efeitos da contaminação com a variante ômicron estão sendo minimizados. Tenho várias amigas, amigos e colegas que pegaram a doença e sofreram transtornos com a doença, principalmente se têm crianças em casa, pois o risco de transmissão é alto e é dificil se isolar da família.
Enquanto isso, em meio à maior tragédia sanitária do país, o ministro da Saúde faz a seguinte recomendação aos pais: "Vacinem os seus filhos, mas não é obrigatório." Imaginem que, nos tempos em que sua excelência era criança, grassasse um surto de poliomelite, e o ministro da Saúde de plantão declarasse para os pais: "Vacine seu filho, mas não é obrigatório".
Ou se o ministro dos Transportes determinasse: "Senhores motoristas, obedeçam aos semáforos, mas não é obrigatório, todos têm direito à sua liberdade". Em vez de declarações ociosas, o ministro deveria se empenhar em comprar vacinas com a maior urgência para imunizar as crianças. A obrigatoriedade do passaporte vacinal é uma medida imprescindível para ampliar a vacinação. Não se vê uma imunização em massa para as crianças, como exige a urgência desse momento dramático.
O Ministério Público, o Senado e, principalmente, a Câmara, não podem permanecer omissos. A Câmara está só preocupada com o orçamento secreto, o fundão e a PEC do veneno. Só tivemos vacina por causa da pressão. Se dependesse do governo, teríamos cloroquina. Em meio ao caos, a vacina continua salvando nossas vidas. Se você é um verdadeiro cristão e um verdadeiro patriota, vacine-se, proteja a sua vida, proteja a vida das crianças e a vida de todos.
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