"Tinha de ter partido nazista, reconhecido pela lei", afirmou o influenciador digital Monark, no Flow podcast, na segunda-feira. O fato de um podcast deste nível ter mais de 3 milhões de inscritos é assustador.
A certa altura, o influencer pergunta à deputada Tábata do Amaral: "Então, se alguém quiser ser um idiota, não pode?" E eu respondo: sim, pode, desde que não afete a vida dos outros. Mas quem faz apologia do nazismo comete um crime, mesmo se for por ignorância. Porque esse movimento construiu câmaras de gás, matou cerca de 6 milhões de judeus e provocou uma guerra mundial. É o momento de maior horror da humanidade.
Com todo respeito a meus colegas jornalistas, que vêm fazendo um trabalho crucial de defesa da ciência e da vida, neste pandemia, não dá para continuar chamando apologia ao nazismo de "declaração polêmica". É crime mesmo, tipificado na Constituição, passível de punição e de cadeia.
É preciso dizer que é crime e citar o artigo 20º, caput, da Lei nº 7.716/1989, da Constituição que tipifica como delito: "Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa".
A crítica mais aguda à internet foi feita pelo escritor e semiólogo italiano Umberto Eco. Segundo ele, antes, aquele sujeito que tomava um porre e dizia asnices ficava confinado ao boteco de sua aldeia. Mas, com as novas tecnologias de comunicação, esse idiota de aldeia ganhou um poder imensurável. Goebbels, o ministro da comunicação nazista, dizia que era preciso repetir uma mentira mil vezes para que ela se tornasse verdade.
Pois bem, com as novas tecnologias de comunicação, a distopia de Goebbels se tornou uma realidade. Basta acionar robôs para multiplicar a mentira ou a burrice. Por isso, a estupidez se propaga com uma velocidade e com uma empáfia nunca vistas antes pela humanidade. Consegue fazer com que as pessoas tenham medo de vacina, e não do vírus.
Não se trata de demonizar a internet. Mas o fato é que as redes sociais não podem continuar a ser uma terra de ninguém, pois elas ameaçam a democracia, a civilidade, a cultura e a liberdade. Ela tem um poder tão grande que chegou a conquistar algo inimaginável: a servidão voluntária. Os tiranos não precisam mais impor a subserviência pela força. São os cidadãos que clamam para ser escravos.
Todos os argumentos do youtuber são ridículos. Depois de fazer apologia ao nazismo, o influenciador digital renegou o que disse, pois todo nazista e fascista é, antes de tudo, um covarde. Ao liderar SS, a polícia de elite nazista, Himmel bancava o machão. No entanto, quando ele chefiou uma divisão na frente de combate, durante a Segunda Guerra Mundial, fracassou retumbantemente, pois percebeu que enfrentar os Aliados não era a mesma coisa do que exercer a violência contra idosos, mulheres e crianças judias.
O influencer alega que estava bêbado quando falou todas aquelas asneiras. Como se isso o eximisse da responsabilidade. Ora, então se alguém estiver bêbado pode atropelar um pedestre, fechar o STF, fazer declarações racistas, roubar, praticar peculato, desviar dinheiro público, fazer rachadinha e apologia do nazismo?
Ainda bem que houve uma reação da sociedade civil e a apologia da barbárie foi barrada pelas empresas patrocinadoras. Que esse episódio grotesco do nazismo jeca sirva de alerta para o parlamento, para os políticos, para as empresas, para o Ministério Público, para o Judiciário e para a sociedade civil. Nazismo é crime e não pode ficar impune.
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