O governador Ibaneis Rocha (MDB) comentou, nesta quarta-feira (9/2), as declarações do apresentador Marcos Mion, que pediu para que a Associação dos Amigos dos Autistas do Distrito Federal (AMA-DF) não feche. Em coletiva, o chefe do executivo informou que as medidas já estão sendo adotadas para que uma nova solução seja encontrada e que não pretende entrar em contato com o apresentador, que se colocou à disposição para ajudar, uma vez que tem um filho diagnosticado com autismo e é ativo no movimento.
O vídeo do apresentador foi ao ar após ser noticiado que a AMA-DF recebeu, em janeiro, da Secretaria de Saúde, uma intimação de despejo. Com isso, a partir de 1º de abril, véspera do Dia Mundial de Conscientização do Autismo, a associação não terá mais onde funcionar e milhares de autistas e familiares ficarão sem assistência. “A questão da AMA vem desde o governo Rollemberg, a ação é de 2017 e, agora, eu determinei ao general (Pafiadache, secretário da pasta de saúde do DF) que se reunisse com a AMA, e o Ministério Público (MPDFT), tendo em vista que existe uma decisão transitada injulgada”, informou o governador.
De acordo com Ibaneis, a reunião será feita ainda nesta quinta-feira (10/2). “Nós vamos encontrar uma solução para que não saiam de lá, ou então que vão para outro local que possa dar o atendimento à comunidade. Eles vão analisar isso nessa reunião, que deve ser feita amanhã”, reiterou. Questionado se pretende entrar em contato com o apresentador, o governador informou que não há “nenhuma necessidade”. “A reunião já havia sido determinada, o ofício já havia sido expedido, a reunião já está marcada. A gente agradece a participação dele como um profissional da comunicação, mas as medidas já estão sendo adotadas”, pontuou.
Apelo nas redes sociais
O vídeo comovente publicado por Mion fala sobre os motivos apresentados pela Secretaria de Saúde para o despejo e fechamento da AMA-DF. “A justificativa do governo para o despejo é de que o espaço vai ser utilizado agora para abrigar ex-detentos com problemas psiquiátricos”, explicou o apresentador.
“Essa é outra causa que merece sim atenção do Estado, mas porque não manter a AMA-DF no lugar que ela está instalada há mais de 30 anos e criar um novo espaço para atender os ex-detentos?”, questionou Mion. Como o apresentador do Caldeirão falou, a AMA presta atendimento especializado de tratamento e diagnóstico de autismo de nível 3, que é o mais severo, há cerca de 35 anos.
“Perder a AMA-DF, que realiza um trabalho voluntário e único em Brasília, não pode ser uma opção!”, exclamou. Mion tem forte atuação na luta para melhora da qualidade de vida e conscientização acerca do autismo. O apresentador tem um filho diagnosticado com autismo.
Para tentar reverter a situação, o apresentador apelou pelo apoio do Poder Executivo do Distrito Federal e do Governador Ibaneis, para que a decisão seja revista. “Que vocês conheçam o trabalho da AMA-DF, para entender o quanto essa instituição é necessária na vida de muitos autistas e de muitas famílias. Eles contam com esse atendimento. Nós da comunidade autista estamos aqui aguardando uma resposta”, disse.
Expectativas
Ao Correio, Fernando Cotta, presidente do Movimento Orgulho Austista Brasil (MOAB), conta que entrou em contato com o apresentador para solicitar o vídeo. “É a única associação que atende autistas severos adultos. Essa é a dificuldade, infelizmente durante muitos anos o governo negligenciou no sentido de não procurar, independente de partido político, uma forma de atendimento a essas pessoas. Então os autistas são colocados de lado dentro do mundo”, diz.
De acordo com Fernando, a decisão de entrar em contato com o apresentador surgiu após a intimação de despejo. “A AMA tinha convênio com as secretarias de mobilidade, de educação e de saúde. E eles foram cortando isso ao longo do anos. Em 2017 resolveram pedir para a associação sair do espaço. Mas aí, para onde essas pessoas vão? Não destinaram nenhum lugar e esse foi um grande problema”, diz. “Nós resolvemos chamar pessoas para nos ajudarem na causa. Eu conheci o apresentador devido às ações do movimento austista e conversei com ele sobre a possibilidade de gravar um vídeo”, completa.
O presidente é pai de Fernando, 24 anos, que foi diagnosticado com autismo severo aos 3 anos, e conta que a comunidade sempre precisa recorrer a pessoas públicas para reverter situações que prejudicam o movimento. “Graças a Deus temos essas pessoas que são sensíveis, que nos ajudam, que reconhecem que essa causa merece a atenção da sociedade, é uma causa justa e não tem partido político. Os pais pagam impostos como todos os outros, e merecem essa atenção. O secretário de saúde, o governador do DF poderiam ter se sensibilizado antes. Outras pessoas já gravaram vídeos mas só depois que o Marcos Mion gravou é que conseguimos uma resposta. É lamentável, mas ainda bem que conseguimos”, conta.
Fernando diz que espera que o governo ofereça a oportunidade de atendimento qualificado para o público autista do DF. “Espero que consigamos construir um convênio com o GDF para que eles atendam essas pessoas. Não só em relação ao espaço com a AMA, mas que proporcionem todo um atendimento, com terapeutas, neurologistas e psicólogos. A minha expectativa é que a promessa de campanha do governador Ibaneis, em transformar a residência oficial de Águas Claras em um centro de atendimento para pessoas autistas, por exemplo, se cumpra”, completa.
Outros apelos
No perfil do Instagram da AMA-DF, é possível ver uma mobilização em prol da associação. O ex-lutador de kickboxing e atual técnico da Seleção de Brasília de kickboxing, Marcelo Pirica, também falou, em vídeo, sobre o despejo. “Estou fazendo esse vídeo para expressar minha indignação com o Governo do Distrito Federal que está despejando a AMA, eles deram 60 dias para saírem do local onde estão. A única associação que cuida de autistas de grau severo, não vai ter onde ficar”, disse o lutador.
Relatos de pais que têm filhos assistidos pela associação também foram publicados em vídeos nos quais mostram a situação dos filhos e falam sobre a importância da AMA. “Nós estamos passando por uma grande injustiça”, alegou um dos pais. Depois da mobilização, a Câmara legislativa do DF registrou ofício para revisar a ordem de despejo.
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