A alta taxa de mortalidade da covid-19 impactou negativamente na expectativa de vida dos brasilienses e ocasionou redução entre 1 e 3 anos. De acordo com o estudo elaborado pela Universidade de Brasília (UnB), o Observar DF, a emergência sanitária ampliou mais o abismo entre as classes sociais na capital do país. Mulheres com maior poder aquisitivo no Distrito Federal passaram a ter expectativa média de vida de 83 anos, em 2021. Enquanto as de baixa renda, aproximadamente, 76 anos. Em relação aos homens residentes em regiões mais pobres, o indicativo é ainda menor, com expectativa de 69 anos — oito anos a menos do que aqueles que moram em áreas nobres.
"Mais de 13 anos separam mulheres de alta renda dos homens que moram em regiões de baixa renda. O indicador resume essa enorme desigualdade que vemos no DF", afirma a professora Ana Maria Nogales, da UnB, uma das autoras da pesquisa. O estudo aponta que, em 2020, a taxa de mortalidade por covid-19 nas regiões de médio e baixo poder aquisitivo foi 4,5 vezes maior que nos locais de alta renda para as idades entre 20 e 39 anos.
Em 2021, essa diferença caiu para 2,7 vezes. O mesmo ocorreu para os demais grupos etários: de 3,8 para 2,4 vezes entre as idades de 40 a 59 anos; e de 3,3 para 1,7 entre as idades de 60 a 79 anos. "O risco de morte foi muito mais elevado nas regiões de baixa renda do que nas de alta. Houve uma maior mortalidade entre a população jovem adulta nessas condições. Isso é um reflexo da maior exposição desse grupo. São pessoas que não puderam ficar em casa. Tiveram que sair para trabalhar, enfrentaram transporte público lotado", enumera Nogales.
Outro aspecto que aumenta as desigualdades refere-se ao acesso a serviços de atenção à saúde de qualidade. De acordo com dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD-2018) divulgado pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), 64% da população residente não têm planos de saúde e, nas regiões administrativas de mais baixa renda, esse percentual é de 90%. "Quem não tem plano de saúde é totalmente dependente do SUS (sistema único de saúde). Essa população enfrenta hospitais superlotados, falta de leitos de UTI-Covid, e muitos ainda sofrem sem acesso a testagem (do novo coronavírus)", completa a especialista.
Ômicron
Entre março de 2020 e dezembro de 2021, duas ondas marcaram a evolução da morbidade e da mortalidade por covid-19 no Distrito Federal. Com pico entre março e maio do ano passado, a capital atingiu a marca de 120 óbitos diários. No final do ano passado, uma terceira onda de casos surgiu na capital devido à variante ômicron. No entanto, diferentemente das anteriores, o aumento das infecções por Sars-Cov-2 não tem sido acompanhado pela alta expressiva de mortes ocasionadas por complicações do vírus.
De acordo com os especialistas, esse fato pode ser atribuído à elevada proporção de cobertura vacinal, com mais de 70% da população adulta com a segunda dose da vacina. Nogales destaca que grande parte dos que estão com complicações mais graves são pessoas não vacinadas ou com apenas a primeira dose dos imunizantes. "Com isso, a gente já pode respirar um pouco. Parece que estamos encontrando o caminho para conviver com a pandemia. Com a vacinação, o número de complicações tem diminuído, apesar das variantes", pondera.
Atualmente, a taxa de transmissão da covid-19 está em 1,26. Ou seja, cada grupo de 100 infectados pelo novo coronavírus pode infectar outras 126 pessoas. O último balanço, divulgado nessa terça-feira (8/2) pela Secretaria de Saúde, registra mais 4.620 casos da doença no Distrito Federal. Desde o início da pandemia, houve 644.626 notificações positivas do novo coronavírus na capital. Desse quantitativo, 11.243 morreram por complicações da doença. A taxa de ocupação das unidades de terapia intensiva (UTI) na rede pública estava em 91,18%, nessa terça, com nove leitos vagos.
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500 mil não tomaram a dose de reforço
Levantamento feito pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES) alerta que, aproximadamente, 500 mil brasilienses acima dos 18 anos não procuraram os postos de saúde para tomar a dose de reforço da vacina contra a covid-19. O número divulgado pela pasta na última sexta-feira é preocupante, pois a imunização é uma das medidas mais efetivas para evitar o agravamento da doença e o aumento das internações em unidades de terapia intensiva (UTI) por complicações do novo coronavírus.
Na avaliação do secretário de Saúde, general Manuel Pafiadache, a vacina salva vidas. "Cerca de 90% dos nossos pacientes internados não se vacinaram ou estão com a vacinação incompleta. Por isso, é importante que as pessoas completem o ciclo vacinal", destacou o titular da pasta. De acordo com a secretaria, 200 mil pessoas sequer iniciaram a imunização contra a covid-19. E, aproximadamente, 113 mil brasilienses acima dos 12 anos estão aptos para receber a segunda dose e não procuraram os postos de aplicação.
De acordo com as recomendações do Ministério da Saúde, o intervalo para cada fase da imunização pode variar a depender de cada caso. Em geral, quem recebeu a segunda dose dos imunizantes AstraZeneca, Pfizer ou CoronaVac há pelo menos quatro meses pode receber a dose de reforço. Para grávidas e puérperas, o intervalo é de cinco meses. Em relação a Janssen, que é dose única, a espera é de dois meses.
Anticorpos
Infectologista do Hospital das Forças Armadas, Hemerson Luz destaca a importância das três doses neste momento da crise sanitária. "A variante ômicron tem como característica principal a capacidade de maior transmissão. Ela também consegue enganar o sistema imunológico das pessoas, inclusive dos vacinados. Estudos indicam que a dose de reforço da vacina melhora a resposta imunológica, aumenta o nível de anticorpos neutralizantes fazendo com que diminua o risco de apresentar um quadro mais grave", ressalta o médico.
Hemerson Luz frisa que a imunização atua na diminuição da circulação do novo coronavírus. "Sabemos que o vírus pode ser transmitido por pessoas assintomáticas e pessoas vacinadas também, só que as vacinadas vão transmitir por um menor tempo e com a menor importância clínica", finaliza.