"Lembrança boa é assim mesmo, um sorriso no começo e uma saudade no fim", estampava um banner com a foto do bombeiro civil e ciclista Joelson Fernandes em homenagem feita pelos amigos. O atleta, de 38 anos, morreu atropelado na Estrutural na última quinta-feira, e seu enterro atraiu dezenas de pessoas na manhã de ontem. Familiares, amigos e ciclistas profissionais e amadores, fizeram uma procissão pela região de Vicente Pires até o Cemitério Campo da Esperança de Taguatinga, onde foi realizado o sepultamento.
O grupo seguiu o caminhão do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBMDF) que levava o caixão com o corpo de Joelson. Os esportistas carregavam balões brancos e subiram a via Estrutural pedalando até o local do acidente. No canteiro central posicionaram a tradicional bicicleta branca "Ghost Bike" usada em casos semelhantes para manter viva a memória da vítima. Do local, o grupo seguiu para o cemitério, onde um cordão de bicicletas saudou a passagem do caminhão de bombeiros, que levava o caixão, e da família.
"Muito triste, a gente fica até sem palavras", afirma Fábia Cristina, bombeira civil e colega de trabalho de Joelson. "Ele era muito humano, um grande amigo, companheiro, e um filho exemplar. Cuidava de toda a família", adiciona a amiga. De acordo com ela, o ciclista era a alegria em pessoa nos lugares que frequentava. Para a amiga, só uma pessoa como Joelson seria capaz de comover um grupo tão grande.
"Joelson contagiava o lugar e era uma das pessoas mais colaborativas que eu já conheci", conta Anderson Lima, amigo e companheiro do mesmo grupo de ciclistas Monster. Anderson e Joelson disputavam as provas na mesma categoria. Ele recorda que, no momento da competição, eram rivais, mas sempre comemoravam abraçados os resultados um do outro. "Ele era uma criança que iluminava os lugares e se entregava. Era muito divertido e brincalhão", lembra o amigo.
A família demonstrou passar por um momento de muita tristeza. As falas embargadas no final do ato exaltavam o filho, irmão e amigo Joelson Fernandes. "Meu filho vai ser enterrado como um guerreiro, como um rei" gritou a mãe, Maria Hilda dos Santos, enquanto acompanhava o caixão. "A justiça divina vai fazer com que aquela pessoa pague por cada gota de sangue derramada pelo meu filho", completou.
Vidas perdidas
De acordo com balanço do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), o ano de 2021 teve o menor índice de mortes de ciclistas em 21 anos. Oito ciclistas perderam a vida no trânsito no ano passado, enquanto em 2020, 19 óbitos foram registrados. O maior número registrado no levantamento é de 2003, quando 65 ciclistas morreram nas vias da capital.
Apesar do saldo positivo, quem está com a bicicleta nas ruas não se sente seguro. "É muito triste falar sobre o assunto, porque está se tornando uma situação corriqueira", pontua o ciclista Igor Saraiva, que não tinha relação com a família, mas acompanhou o grupo que subiu a Estrutural em homenagem à trajetória de Joelson. Ele afirmou ao Correio que utilizar o meio de transporte com frequência pelas ruas é sinônimo de medo. "É um misto de insegurança com raiva pela impunidade nestes tipos de casos, muito difícil", completa.
Conforme apurado pela reportagem, nos dois primeiros meses do ano, pelo menos três casos de atropelamento aconteceram. No dia 16 de janeiro, o jovem Matheus Menezes, 23, foi encontrado morto uma semana após o acidente. O criminoso fugiu do local sem prestar socorro, no Guará.
Crime
O Instituto Médico Legal (IML) demorou dois dias para liberar o corpo do esportista para os procedimentos do enterro. Um dos motivos foi a detecção de que Joelson estava positivo para covid-19. Segundo a família, Joelson estava assintomático.
Identificado como Genival Pereira, o criminoso que roubou um carro do modelo T Cross, fugia após ter sido abordado pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). Na fuga, o criminoso mudou de faixa por diversas vezes, colocando em risco a vida de outros condutores.
De acordo com a PMDF, o trânsito ficou lento e engarrafado, momento em que Genival jogou o carro para o acostamento, atingindo em cheio o ciclista. Joelson foi arremessado da bicicleta a uma distância de cerca de quatro metros. Um casal que estava em outro carro também foi atingido com o impacto, e os dois precisaram ser encaminhados ao Hospital de Base.
Genival cumpria regime semiaberto no Centro de Progressão Penitenciária (CPP) e respondia por um homicídio consumado, um tentado e roubo. Aos policiais, ele confessou que recebeu R$ 500 para roubar o carro e levá-lo à Ceilândia. Segundo a Polícia Civil, ele foi encaminhado para o presídio da Papuda.
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