Agronegócio

Apesar do atraso na colheita, produtores de soja estão otimistas com a safra

Atualmente, Brasília possui cerca de 80 mil hectares do grão plantado. As chuvas atrasaram a colheita, mas agricultores acreditam em bons lucros e produtividade. Em 2020, na capital do país, essa commodity gerou R$ 406 milhões

Samara Schwingel
postado em 12/02/2022 06:00 / atualizado em 14/02/2022 15:14
Fábio Koch, produtor de soja faz o uso de tecnologias para a colheita e o plantio -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Fábio Koch, produtor de soja faz o uso de tecnologias para a colheita e o plantio - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A produção de soja do Distrito Federal aumenta a cada ano. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam que, atualmente, a capital do país tem cerca de 80 mil hectares do grão plantado — em 2018, eram 73 mil. Apesar de possuir uma das menores áreas disponíveis para o agronegócio no Brasil, o cultivo local se destaca pela produtividade e pela qualidade, características ampliadas pelo clima seco — favorável ao plantio da soja — uso sistemático de tecnologias de produção e boas práticas conservacionistas de solo. Outro fator importante é o acesso ao melhoramento genético, proporcionado, principalmente, pela proximidade com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Este ano, a colheita atrasou para alguns, por causa das chuvas, mas a expectativa é de que a produção siga os padrões de 2020.

Em termos de comparação, a safra de São Paulo, em 2020, rendeu 3.484 quilos de soja por hectare, totalizando 3,8 milhões de toneladas colhidas em 1,1 milhão de hectares. No DF, em 2020, foram produzidos 3.581 quilos do cereal por hectare — com colheita de 279,3 mil toneladas em uma área de 78 mil hectares. Ano em que a messe de grãos dessa commodity gerou R$ 406.897.292,25, segundo a Emater.

  • Na fazenda de José Guilherme Brenner, a colheita atrasou por causa das chuvas, mas conseguiu ser iniciada
    Na fazenda de José Guilherme Brenner, a colheita começou depois do período de chuvas mais fortes Arquivo Pessoal

Fábio Koch, 31 anos, é produtor de soja há 10 anos. Em Planaltina, ele aguarda o momento certo para começar a colher os grãos e afirma que o rendimento deve seguir o padrão dos anos anteriores. "Tanto estiagem quanto excesso de chuvas atrapalham um pouco. Por isso, apesar da área plantada, não sei se teremos uma safra maior", prevê. Fábio explica que os lucros não devem, necessariamente, cair. "Depende de cada produtor. Há negócios no mercado interno que são vantajosos. Tem que ver como é o custo de produção de cada fazenda e ver o que fica melhor", avalia.

Com a pandemia, Fábio precisou adequar a rotina dos trabalhadores na área rural e reclama da despesa de produção, que aumentou cerca de 50% quando comparado com o período anterior à crise sanitária. "A gente usa tecnologia em aplicação de defensivos para diminuir as perdas e o custo e fazer uma agricultura mais sustentável", relata. Em contrapartida, as negociações de venda não foram prejudicadas. "A comercialização a distância se intensificou nesses últimos anos", afirma.

André Ferreira Pereira, pesquisador da Embrapa Cerrados, ressalta que, para diminuir os custos de produção, é interessante que os agricultores invistam no uso de tecnologias que beneficiem o ambiente de cultivo. "Na Embrapa, a gente vem trabalhando com remineralizadores de soros. É rocha moída utilizada como fonte de nutrientes para o solo. Alguns produtores já têm utilizado e se beneficiado, aumentando a eficiência das plantas", garante.

O pesquisador considera que o uso de tecnologias é capaz de elevar a rentabilidade do produtor. "É o somatório de técnicas e manejo. É fundamental para que o produtor consiga ter um retorno maior", frisa. André pondera que a proximidade da sede da Embrapa com os agricultores do DF é um benefício que deve ser aproveitado. "Temos um contato constante. Eles aparecem com demandas para nós, e vamos buscar soluções. É uma via de mão dupla. Temos vários especialistas em diversas áreas que fazem, em algum momento, interações com os produtores", detalha. Ele lembra que a Embrapa está sempre de portas abertas e é possível fazer contato por meio do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC).

Mercado

Produtor de soja há 30 anos, José Guilherme Brenner, 56, considera que as chuvas deste ano apenas atrasaram a colheita em alguns dias, mas não é algo preocupante. Otimista, ele acredita que o nível de produtividade deste ano será satisfatório e relata que o mercado favorece o aumento da área plantada na capital. "O plantio de soja é bastante estimulado pelo mercado, porque tem tido bons preços. Além disso, temos um avanço muito grande de materiais para plantar", diz.

No DF, por hectare, foram recolhidas 3,5 toneladas do grão
No DF, por hectare, foram recolhidas 3,5 toneladas do grão (foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Ele afirma que os valores de venda do grão estão satisfatórios. "A soja é uma commodity internacional, e o preço dela está vinculado ao dólar. De acordo com o preço da saca em dólar, convertemos para real, seja para venda interna ou externa", resume. José explica que a própria soja atrai os agricultores. "Logo que o produtor colhe o grão, ele pode plantar uma outra safra. É o que chamamos de safrinha, que pode ser de milho ou feijão, por exemplo. A soja possibilita essa rotatividade. Então, isso chama os produtores", completa.

Gilmar Batistella, técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), registra que o preço do saco de soja atingiu níveis históricos durante a pandemia. "É totalmente atrelado ao dólar e à demanda externa. A China vem elevando o consumo ano após ano, por exemplo", exemplifica. Atualmente, a saca de soja custa cerca de R$ 190.

Além disso, ele considera que o aumento da área plantada é uma tendência que deve se manter nos próximos anos. "O que vemos é que estão substituindo áreas de pastagem para produção de grãos porque é o que está sendo mais rentável neste momento. O DF é pequeno, mas tem detalhes que dão muita vantagem para produtores rurais. Aqui, eles conseguem evoluir", considera Gilmar. O especialista defende que a capital federal, apesar de ter a menor área plantada, tem os melhores recursos para fazer uma boa colheita. "As chuvas deste ano atrasam um ou dois dias, nada muito preocupante", frisa.

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Cenário produtivo

Área de soja plantada no DF nos últimos quatro anos (grãos e sementes)

2018: 73 mil hectares
2019: 74 mil hectares
2020: 78 mil hectares
2021: 80 mil hectares

Colheita (grãos e sementes)

2018: 122.116,89 toneladas
2019: 259.054,68 toneladas
2020: 279.324,30 toneladas

Preço médio da saca de soja (grãos e sementes)

2018: R$ 81
2019: R$ 73,20
2020: R$ 112,80

Número de produtores de soja no DF

Grão: 425
Semente: 49

Valor Bruto de Produção (VBP)

2018

Grão: R$ 310.824.391,50
Semente: R$ 17.749.550,00

2019

Grão: R$ 242.302.687,20
Semente: R$ 96.109.012,80

2020

Grão: R$ 406.897.292,25
Semente: R$ 148.630.792,05


Fonte: Conab e Emater

SAC Embrapa


O SAC da Embrapa pode ser acessado por meio do site www.embrapa.br/fale-conosco/sac/ ou pelo telefone 3448-4433. No SAC, é possível fazer perguntas técnicas, tirar dúvidas, pedir informações sobre soluções tecnológicas e entrar em contato com um dos centros de pesquisa.

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