Entrevista

Uso de eletrônicos aumenta miopia

Em entrevista ao CB.Saúde, a médica destaca que 35% dos pacientes não retornaram aos médicos para exames de rotina. Ela questiona também o exagero no manuseio de celulares, computadores e tablets

Paulo Martins*
postado em 04/02/2022 00:01
 (crédito: ED ALVES/CB/D.A.Press)
(crédito: ED ALVES/CB/D.A.Press)

A pandemia de covid-19 causou impactos negativos também na saúde dos olhos dos brasileiros. Em entrevista ao CB.Saúde — programa do Correio Braziliense em parceria com a TV Brasília — a oftalmologista do CBV-Hospital de Olhos Núbia Vanessa afirmou que, com a crise sanitária, 35% dos pacientes não fizeram exames de rotina. À jornalista Carmen Souza, a médica alertou sobre o aumento do uso de eletrônicos durante a pandemia, o que provocou uma maior incidência de miopia na população. Ela ressaltou a importância de criar o hábito de realizar exames preventivos, ou seja, ir ao médico antes de sentir problemas na visão.

Como está a saúde ocular
do brasileiro, hoje?

O brasileiro teve várias áreas da medicina negligenciadas com a pandemia, inclusive a oftalmologia. O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), quando fez o levantamento, apontou que 35% dos pacientes não retornaram aos seus médicos para fazerem as avaliações normais, de rotina. Muitas das vezes, o brasileiro só vai ao médico para trocar os óculos. Então, enquanto estávamos em casa, sem dirigir e sem fazer muita movimentação, algumas doenças não foram bem diagnosticadas pela falta de uma rotina de consultas. O brasileiro não tem o hábito de fazer uma medicina preventiva. O fato de ir ao médico e ver que está bem é ótimo, mas é necessário um hábito anual, no mínimo. As consultas oftalmológicas não podem ocorrer somente a partir dos 40 anos ou em um exame para obter a Carteira de Habilitação, geralmente aos 18 anos. As consultas devem ser feitas desde o nascimento e para toda a vida, não só quando eu sinto algo diferente nos olhos.

Outro levantamento do
CBO apontou que 70% dos
médicos observaram um
aumento de casos de miopia entre as crianças durante o
período. Isso também foi
observado no seu consultório?

Sim, não só nas crianças, mas também nos adultos. Antigamente as crianças saíam mais para a rua, brincavam em ambientes externos. Hoje, não é mais assim: elas estão em computadores, celulares e tablets. E, às vezes, adolescentes e adultos também. As pessoas tinham um hábito maior de sair e isso foi se perdendo, mais ainda na pandemia, por motivos de força maior. Com isso, há muita estimulação visual para o que está perto, e pouco estímulo para o que está longe. O ideal seria olhar 20 minutos para perto e 20 minutos olhar para longe: só que isso é inviável na nossa rotina atual. Então, o recomendável são pausas menores, de dois minutos, para tomar água, olhar pela janela, para depois voltar ao computador. Às vezes, a sensação de ardência ou irritação vem em decorrência da falta de lubrificação dos olhos, por estarmos tão concentrados a uma tela o tempo todo. Até isso precisa ser avaliado.

Quais as complicações mais comuns entre as crianças?

O desenvolvimento da visão ocorre até os 7 anos, aproximadamente. Depois dessa idade, o estímulo não vai ser total, pois já houve a maturação do nervo óptico. Então, com isso você pode ter um deficit visual em um dos olhos, que pode ser para a vida toda. Às vezes, um adulto procura um médico e é pego de surpresa, por não ter tratado isso na infância, e que não vai ter mais como ser corrigido. Além das infecções congênitas, também podem ocorrer erros refracionais, a conjuntivite (viral, bacteriana ou alérgica) que podem ser descobertas em uma consulta geral, que vai exigir um acompanhamento seriado.

O teste do olhinho é obrigatório, assim como
o teste do pezinho?

Sim, e deve ser feito na sala de parto, após o nascimento, por um pediatra. Serve para analisar se há alguma alteração ou anomalia nos olhos do recém-nascido: uma vez detectado, o bebê é encaminhado para a análise de um oftalmologista, pois, além do retinoblastoma, pode ser uma catarata congênita, um glaucoma congênito, uma miopia prematura ou mesmo alguma infecção congênita, como a toxoplasmose ou a sífilis, que podem ser tratadas precocemente. E tem que repetir o teste durante o primeiro ano de vida. Mas, mesmo com a criança sadia, ela deve frequentar o oftalmologista para conferir outras questões como um estrabismo latente, ou mesmo para conferir o paralelismo ocular. O retinoblastoma, em si, é um câncer raro: em média, cerca de 200 casos anuais são registrados na população brasileira. Apesar da baixa incidência, ela exige um acompanhamento precoce para conferir a forma de tratamento: seja por cirurgia, quimioterapia ou braquiterapia, por exemplo. Por isso é necessário ir ao oftalmologista regularmente, mesmo sem sentir nada nos olhos.

Com a retomada das aulas presenciais, quais cuidados os pais precisam tomar depois de as crianças terem passado praticamente dois anos apenas em aulas remotas?

A princípio, crianças que têm pais com miopia, possuem tendência a desenvolver a doença. É necessário observar se a criança senta mais próxima ao quadro, se aperta os olhos para enxergar o que está sendo escrito, se ela reclama de dor perto dos olhos ou com dor de cabeça, se o olho não está vermelho ao final da aula.

*Estagiário sob a supervisão
de José Carlos Vieira

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