Festa das Águas

Brasilienses pediram a benção de Iemanjá na Praça dos Orixás, na orla do Lago

Dezenas de pessoas celebraram o Dois de fevereiro, dia de Iemanjá, mãe das águas. Muitos aproveitaram o momento para agradecer a divindade ou renovar pedidos; evento simbólico foi marcado por muita música e oferendas de flores, essências e alimentos

Cibele Moreira
postado em 03/02/2022 06:00 / atualizado em 21/02/2022 20:54
Maria Carolina Antonieto apresenta a filha caçula, Clara,  a Iemanjá e recebem a bênção da orixá -  (crédito:  Carlos Vieira/CB)
Maria Carolina Antonieto apresenta a filha caçula, Clara, a Iemanjá e recebem a bênção da orixá - (crédito: Carlos Vieira/CB)

Uma quarta-feira (2/2) de festa, de bênçãos, de cura e agradecimento. Foi assim a celebração a Iemanjá que ocorreu, na Praça dos Orixás, na orla do Lago Paranoá. A Festa das Águas reuniu dezenas de pessoas ao longo do dia em um momento de prece à divindade que representa a união, a saúde e o amor fraterno. Quem chegava ao local parava em frente a escultura da orixá, muitas vezes com uma vela acesa, outras com flores, incensos, perfumes, cidra e demais oferendas e presentes.

O gramado da orla foi, aos poucos, sendo ocupado por famílias, amigos e representantes de terreiros que foram saudar a orixá considerada mãe das águas. Apesar de Brasília não ter um mar — simbologia de Iemanjá —, os brasilienses contaram com o grande espelho d'água para depositar as flores, essência de perfumes e algumas barcas de madeira com oferendas que, neste ano, foram reduzidas para diminuir o impacto ao meio ambiente. Os presentes, em sua maioria, eram biodegradáveis em respeito à natureza.

A psicóloga Maria Carolina Antonieto, 42 anos, aproveitou a data para pedir a benção da mãe Iemanjá e apresentar a filha caçula, Clara, de 7 meses. "A gente veio aqui, não só receber a benção, mas apresentar a Iemanjá a Clara. E isso representa muito para nós. Eu tinha um diagnóstico de infertilidade, meus filhos gêmeos foram frutos de uma fertilização in vitro e, depois de quatro anos sem fazer nenhum método, ela veio. Foi um presente de Iemanjá para nós", relata a moradora da Asa Sul, que estava acompanhada dos pais, marido e sobrinha. Ela e a família receberam a bênção da divindade em um rito dentro do lago feito pelo Pai de Santo que ela segue JB de Oxóssi da Casa de São Jorge. Ele atende os fiéis em Salvador e no Distrito Federal.

Espiritualidade

Orlando Alves, 50, também aproveitou o dia para homenagear a orixá. Acompanhado da esposa, Gláucia dos Santos, 36, e da filha Eloá dos Santos, 1 ano e 6 meses, ele agradeceu a divindade e pediu mais amor, carinho e saúde. "É um dia de reflexão interior também, uma busca por espiritualidade. É bom estar aqui nesse cantinho do lago, traz uma energia boa da natureza, os orixás são forças da natureza", afirma o servidor público.

O cozinheiro André da Costa Rocha, 34, agradece a Iemanjá pelo lar que ela proporcionou a ele e ao marido Tiago Costa. "Ela representa muito para o nosso lar. Nós somos casados e ela vem abençoando esse relacionamento há muito tempo", conta.

Para Stéffanie Oliveira, presidente do Instituto Rosa dos Ventos e uma das organizadoras do evento, a celebração ultrapassou as expectativas. Depois de um ano sem poder fazer o festejo presencial por causa da pandemia, ela relata que foi lindo e gratificante ver o povo ocupar a Praça dos Orixás em plena quarta-feira. "Essa é uma data muito importante para as culturas de matrizes africanas. Iemanjá tem essa força de mãe, força da mulher", ressalta.

Saudação

O cortejo saudando Iemanjá, um dos momentos mais esperados da Festa das Águas, ocorreu com a praça cheia. O rito sagrado foi comandado pela Yalorixá do Ilê Axé Oyá Bagan mãe Baiana de Oyá, que cantou e guiou os presentes até o lago para uma reza em conjunto, feita em iorubá, na beira da água. A orla foi completamente ocupada e mais de 100 pessoas acompanharam o momento feito ao entardecer.

Além do momento sagrado, a celebração contou com feira afro e apresentações musicais com a cultura do maracatu e samba de coco que colocou todo mundo para dançar. A expositora Clarissa Lins, 39, ressalta que o evento também tem um lado político e de resistência. "A realidade que a gente vive hoje no Brasil é de muita intolerância cultural e religiosa e eu sinto que esse evento vem para justamente fortalecer e resgatar não só o sentimento e a religiosidade de matriz africana que as pessoas têm. Mas, para abrir os horizontes daquelas pessoas que ainda não conseguiram enxergar a força, a energia e a importância de todo esse movimento", afirma. 

 

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  • A orla da Praça dos Orixás foi ocupada por devotos a Iemanjá ao longo do dia de ontem
    A orla da Praça dos Orixás foi ocupada por devotos a Iemanjá ao longo do dia de ontem Foto: Carlos Vieira/CB
  • Coletivo das Yás saúda a mãe das águas e une forças a energia feminina
    Coletivo das Yás saúda a mãe das águas e une forças a energia feminina Foto: Carlos Vieira/CB
  • Dois de fevereiro foi marcado por momentos de prece na Praça dos Orixás
    Dois de fevereiro foi marcado por momentos de prece na Praça dos Orixás Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Brasilienses pedem as bênçãos da rainha das águas
    Brasilienses pedem as bênçãos da rainha das águas Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • André Costa Rocha com Tiago Costa: momento para agradecer
    André Costa Rocha com Tiago Costa: momento para agradecer Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
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