Violência

Apreensão de armas brancas sobe nas duas primeiras semanas do ano

Ocorrências criminosas envolvendo facas, facões, peixeiras e similares são recorrentes, principalmente em roubos e crimes contra a vida. Até 19 de janeiro, a Polícia Militar apreendeu 157 objetos desse tipo em abordagens

Cibele Moreira
Júlia Eleutério
postado em 04/02/2022 06:00 / atualizado em 04/02/2022 06:09
Facão usado por Marcos Fernando Domingos no assassinato da ex-sogra Ana Cristina Farias, na terça-feira (1º/2) -  (crédito: ED ALVES/CB/D.A.Press)
Facão usado por Marcos Fernando Domingos no assassinato da ex-sogra Ana Cristina Farias, na terça-feira (1º/2) - (crédito: ED ALVES/CB/D.A.Press)

Faca, facão, peixeira são alguns dos itens domésticos que têm aparecido cada vez mais em crimes no Distrito Federal. De acordo com a Polícia Militar (PMDF), o uso de armas brancas é recorrente, principalmente, em assaltos a pedestres. Porém há registros significativos em ocorrências de homicídio e latrocínio. Segundo dados recentes da corporação, houve um aumento de 18% nas apreensões desses utensílios nas abordagens policiais nas primeiras duas semanas de 2022 em relação ao mesmo período do ano passado. Até 19 de janeiro, foram 157 contra 133, em 2021.

O capitão Broocke, da PMDF, ressalta que esse tipo de arma é muito utilizado pelo fácil acesso. "Em qualquer mercado, dá para comprar uma faca, enquanto que uma arma de fogo é cara, e a fiscalização pelas armas ilegais tem aumentado. A arma branca é o objeto que a gente mais apreende durante as abordagens. Uma peixeira não é algo para ficar andando na rua", explica o militar. No início de janeiro, a Central de Ocorrências Policiais (Copom) recebeu 292 chamados pelo 190 de denúncias envolvendo suspeitas ou ações criminosas com o uso de faca.

A vendedora Amanda (nome fictício), 27 anos, ainda está assustada após ser assaltada no Plano Piloto em 24 de janeiro. A jovem conta que saiu do trabalho por volta das 17h e, depois de atravessar a passarela subterrânea do Eixão, foi abordada por um homem com um facão, que anunciou o roubo. "Fui para a parada de ônibus como faço todos os dias. Chegando do outro lado da passarela, vi um homem e já fiquei preocupada, mas não quis voltar porque seria pior. Então, ele passou por mim, puxou um facão e disse para passar tudo", lembra.

Amanda diz que não pensou direito na hora e saiu correndo. No entanto, o criminoso foi atrás dela e a puxou pela mochila. Por sorte, um motociclista que passava pelo local gritou, e o homem a soltou. "Eu me virei, puxei o celular da bolsa e joguei no chão. Ele saiu correndo para pegar o telefone. Então, o motoboy desceu da moto e pediu para eu esperar que ele ia atrás do assaltante", relata a moradora do Riacho Fundo 1.

Amanda não sofreu ferimento, mesmo o criminoso estando com uma faca. A vítima recebeu a ajuda do motociclista que chamou os policiais. Os agentes encontraram o assaltante e recuperaram o celular da jovem. A vendedora foi à delegacia registrar a ocorrência e fazer o reconhecimento do criminoso. "Eu ainda estou com bastante medo. Quando estou na parada de ônibus, ficam as memórias do que aconteceu", lamenta Amanda. "Foi de dia, e havia pessoas por perto, mesmo assim, ele não ligou para isso e estava com um facão enorme. Graças a Deus, não aconteceu nada de grave", detalha a vendedora.

Na última terça-feira, um homem assassinou a ex-sogra com três golpes de facão. Ana Cristina, 51, foi atingida na cabeça, na axila e teve uma das mãos e dedos decepados. O enterro da vítima ocorreu ontem, em Águas Lindas de Goiás. O acusado do crime foi preso e pode pegar uma pena de 12 a 30 anos de reclusão (leia mais na página 16).

Políticas públicas

Com tantos casos sendo noticiados, o reflexo é o medo da população e a sensação de insegurança. O especialista em segurança pública Wellinton Caixeta destaca que há diferença entre a sensação de segurança por parte da população e a segurança de fato, envolvendo as políticas públicas capazes de proporcioná-la. "A confiança que a população tem ou não no trabalho das polícias é outro importante fator, além da confiança que esta deposita nas demais instituições e organizações do setor segurança (pública e privada). Sem dúvida, é outro aspecto que implica diretamente no 'se sentir protegida' e devidamente atendida, ou não", pondera.

Wellinton avalia que a criminalidade sempre vai existir e, em relação ao DF, segue características bastante específicas que demandam respostas imediatas, planejamento, atuação interinstitucional articulada e comprometida no sentido de contenção, prevenção e enfrentamento. "Desse modo, não podemos analisar casos, delitos e infrações como isolados de uma realidade local e social mais ampla, recortando-os e descontextualizando-os como exclusivos, ainda que alguns possam ser vistos como mais complexos, emblemáticos ou paradigmáticos que outros", destaca.

Em relação aos crimes com uso de facas e objetos similares, o delegado aposentado e advogado criminal Moisés Martins frisa que há falhas na legislação ao não tipificar o porte de arma branca como crime. "Atualmente, quem é pego portando uma arma branca fora do ambiente de uso do utensílio, é encaminhado para a delegacia onde assina um termo circunstancial. Não fica preso, pois, na legislação, é uma contravenção penal. E isso preocupa bastante, pois as pessoas perdem o medo. Sabem que não serão presos por estarem com uma faca na rua", argumenta Moisés.

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  • Herbert Silva Miguel,  professor vítima de latrocínio  esfaqueado em parada de ônibus de Taguatinga.
    Herbert Silva Miguel, professor vítima de latrocínio esfaqueado em parada de ônibus de Taguatinga. Foto: Reprodução/Facebook
  • Cinegrafista do SBT Magno Lúcio, 52 anos, vítima de arma branca, durante um assalto, no início da manhã desta segunda-feira (4/10)
    Cinegrafista do SBT Magno Lúcio, 52 anos, vítima de arma branca, durante um assalto, no início da manhã desta segunda-feira (4/10) Foto: Reprodução/Facebook
  • Cenas foram registradas pela câmera de segurança
    Cenas foram registradas pela câmera de segurança Foto: PCDF/Divulgação

Cuidados!

Polícia Militar do Distrito Federal enumera algumas dicas para a população

>> Sempre ficar atento a qualquer ação suspeita em ambientes de muito e pouco movimento.

>> Não deixar amostra objetos de valor. Colocar bolsa ou mochila para a parte da frente do corpo.

>> Caso sofra assalto, mantenha a calma. Nunca reagir, e observar as características do autor do crime. Em seguida, ligue no 190 com o máximo de informações possíveis, roupa do acusado, se tem tatuagem ou marca física.

>> É importante que a pessoa registre a ocorrência na delegacia. Dessa forma, é possível mapear os locais com maior incidência de crimes.

 

Memória

Atacado com golpes de foice

Um homem, de 56 anos, foi atacado com quatro golpes de foice em um bar de Sobradinho. O crime aconteceu em 18 de janeiro. De acordo com a delegada-adjunta da 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho), que estava à frente da investigação do caso à época, a motivação do crime ocorreu devido uma dívida de mais de 10 anos da vítima com o suspeito de cometer as agressões.

Cinegrafista esfaqueado

O cinegrafista do SBT Magno Lúcio, 52 anos, foi vítima de uma tentativa de latrocínio no ano passado. O crime aconteceu na madrugada de 4 de outubro, em uma parada de ônibus no P Sul, em Ceilândia. Magno estava a caminho do trabalho quando um carro com dois homens parou e abordou as pessoas que estavam na parada de ônibus, pedindo seus pertences. Ele foi esfaqueado no abdômen. Os golpes atingiram o intestino.

Professor assassinado

O professor Hebert Silva Miguel, 26 anos, foi morto com seis facadas durante um assalto em uma parada de ônibus próxima ao Taguatinga Shopping. Morador de Samambaia, ele precisava pegar dois coletivos para chegar ao trabalho, em uma escola no Novo Gama (GO). O crime aconteceu em 2 de março de 2020. O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal socorreu a vítima e a encaminhou para o Hospital de Taguatinga. Ele passou por cirurgia, mas não resistiu aos ferimentos e morreu cinco dias depois do ocorrido.

 

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