Covid-19

'Eu não sou negacionista, não sou antivacina', diz ex-coordenadora de medicina da UnB

Selma Kuckelhaus deixou o cargo após a universidade instituir obrigatoriedade da vacina para acessar prédios dos campi

A coordenadora do curso de graduação em Medicina da Universidade de Brasília (UnB), Selma Kuckelhaus, pediu o desligamento do cargo, ontem, por estar em discordância com o entendimento do Conselho de Administração (CAD) da UnB sobre a instituição da exigência do comprovante da vacinação contra a covid-19 para acessar as dependências da instituição. A professora, que é formada em Ciências Biológicas, que dá aulas e coordena pesquisas na área de morfologia, enviou um comunicado aos integrantes do curso explicando a decisão e disse não ter tomado nenhuma dose do imunizante.

“Torno pública a minha decisão de me desligar da coordenação da graduação do curso de medicina. Tal decisão foi motivada pela recente implantação do passaporte sanitário na Faculdade de Medicina. Assim, e considerando que componho o grupo de servidores não vacinados, a minha posição como coordenadora ficou em desacordo com a gestão da faculdade”, escreveu no texto. Ao Correio, ela afirmou que não tomou o imunizante por não se sentir segura. “Eu não sou negacionista. Só não me vacinei porque não me senti segura em tomar uma vacina que está em fase experimental. Sou pesquisadora, não sou antivacina”, disse.

Ela sustentou, ainda, que não é a favor da decisão da universidade de excluir aqueles que não querem tomar a vacina e se intitulou árdua defensora das liberdades individuais. “E as que não podem tomar a vacina por motivos médicos? Tem funcionários com doenças autoimunes, vão trancar essas pessoas em casa pelo resto da vida? Sou totalmente contra essa política segregacionista. Mesmo se eu tivesse tomado a vacina, faria a mesma coisa. Ter saído da coordenação foi minha postura ética”, completou.

A reitora da UnB justificou a medida como uma forma de contribuir para aumentar a cobertura vacinal no país, uma vez que a maioria das internações por covid-19 são de pessoas não vacinadas ou com o esquema vacinal incompleto. “Nós temos responsabilidades perante a sociedade e precisamos aumentar a cobertura vacinal”, disse Márcia Abrahão Moura, reitora da UnB.

Contradição

Embora a ex-coordenadora destaque sua atuação como pesquisadora, em nota, ele rejeita dados e informações divulgadas pelos principais órgãos de saúde e vigilância epidemiológica que têm dado diretrizes para a condução da maior crise sanitária contemporânea. No texto divulgado, a professora afirmou que “é sabido que as vacinas estão em desenvolvimento e, nessa fase, tanto a segurança quanto a eficácia suscitam inúmeros questionamentos.” No entanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que foram tomadas medidas de proteção rigorosas para garantir a segurança de todas as vacinas contra a covid-19. Antes de serem autorizadas pela OMS e pelas principais agências reguladoras nacionais e internacionais, os imunizantes foram submetidos a testes rigorosos no âmbito de ensaios clínicos para comprovar que cumprem as normas internacionais de segurança e eficácia.

Ela argumentou também que as vacinas disponíveis “não impedem a infecção e tampouco o contágio, como demonstrado pelos inúmeros casos de infecção de indivíduos vacinados.” Porém, a OMS garante que estudos clínicos mostram que as vacinas são altamente eficazes, assegurando uma proteção contra formas agudas da covid-19, precavendo a morte causada pelo vírus. A agência afirma que garantir a segurança e a qualidade de todas as vacinas é uma das maiores prioridades da OMS.

Contra a fala da professora que diz que mesmo com a vacina as pessoas podem adoecer, a organização esclarece que nenhuma vacina é 100% eficaz na prevenção de doenças em pessoas vacinadas, porém os sintomas provavelmente serão leves ou ausentes nos casos vacinados. A OMS reafirma que as vacinas são uma ferramenta essencial para controlar a pandemia.