Apesar do índice de abastecimento de 100% dos reservatórios de água do Distrito Federal e das chuvas do mês de janeiro, especialistas alertam que a população precisa fazer uso consciente da água na capital federal para garantir a segurança hídrica no período de seca.
Nas últimas semanas, o reservatório do Descoberto atingiu sua plenitude, com 100%, e segue mantendo o volume útil. O de Santa Maria, por sua vez, está com praticamente 97%. "Apesar de uma condição bastante satisfatória, é bom lembrar que essa reserva é estratégica para garantir um bom abastecimento durante o período de seca que se aproxima. A população continua crescendo e demandando água. Por isso é fundamental continuar com as boas práticas de uso racional e eficiente. Seja no uso doméstico como no comercial ou industrial", orienta o Superintendente de Recursos Hídricos da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa), Gustavo Carneiro.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), ainda é cedo para saber como vai ser o período da seca deste ano. Entretanto, a estiagem deve chegar a partir de 20 de junho, início do inverno, com a redução das precipitações de água. "A previsão climática é de que no verão, que vai até 29 de março, os dias continuem chuvosos, com tendência de ficar acima da média para o período. Na estação de Água Emendadas, por exemplo, tivemos um acúmulo de mais de 100 mm", explica Andrea Ramos, meteorologista do Inmet.
Consciência
Apesar de jovem, Letícia Pádua, 23 anos, é consciente da importância de economizar água em casa. Uma das principais medidas que ela adota é o reaproveitamento da água da máquina de lavar, que ela e os pais usam para limpar o quintal e a garagem que, por serem grandes, demandam muita água. "Quando chove muito, eu tento coletar um pouco da água por meio da calha com a mesma finalidade: limpar o chão", conta.
A iniciativa começou após a crise hídrica enfrentada pelo DF entre 2017 e 2018, quando muitas famílias foram obrigadas a se adequar às novas normas de racionamento de água. "Naquele momento, percebemos a importância de aproveitar ao máximo a água que nos era disponibilizada e passamos a ter um olhar mais consciente também a respeito de outras formas de desperdício. Hoje, estamos sempre atentos a isso, para evitar ao máximo desperdícios, no geral", explica.
Para o professor Lindomar Bonfim de Carvalho, 51, a economia alivia o bolso e a consciência. Na casa dele, sempre foi hábito da família procurar soluções para economizar água, como por exemplo, um tempo estipulado para tomar banho. "Como temos duas crianças, falamos que o tempo máximo em baixo do chuveiro é de 10 minutos. Não é algo cronometrado, é mais para elas terem consciência e não ficarem muito tempo no chuveiro. Tentamos sempre explicar também o que elas gastam toda vez que usam a descarga, por exemplo", relata o educador.
Além disso, ele desenvolveu um sistema de captação para reutilizar a água da chuva. Toda a água que cai nas manilhas de concreto vão para a caixa d'água e pode ser reutilizada nas tarefas do dia a dia da família. "A gente nunca deixou de economizar água, sempre fizemos, enquanto muitas pessoas esperaram faltar para terem consciência disso", critica.
Economia
O hábito de economizar água apenas no período de seca não é a melhor prática, como destaca o superintendente de Gestão Operacional da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), Luiz Carlos Itonaga. "Neste momento de abundância é preciso compreender as implicações do bom uso da água, não é apenas o desperdício. Fazer uso de forma econômica e racional faz bem pra natureza e para o bolso do cidadão. É um sistema, não é uma coisa só. Durante todo o ano o desperdício tem impacto. Quanto mais água é consumida, além do desperdício, mais consumo de energia, custo de manutenção e custo de bomba, por exemplo", acrescenta Itonaga.
De acordo com o gestor, a atividade de saneamento é um sistema e a natureza — chuva — é apenas um dos componentes. Até chegar às torneiras para consumo, há toda uma infraestrutura e gastos para construir a barragem e fazer tratamento até chegar às casas dos consumidores.
Segundo cálculos da Caesb, cada morador precisa, em média, de 110 litros diários de água. No DF, o consumo médio está em torno de 150 litros por dia. De acordo com Luiz Carlos Itonaga, esse consumo varia por região, onde a renda per capita é maior, o consumo pode chegar a 300 litros. Enquanto em outras regiões não chega a 100 litros.
Em Águas Claras, o síndico Fabiano dos Santos, 44 anos, implementou medidas para o reaproveitamento da água no prédio. As mudanças geraram uma economia de R$5 mil por mês. "Há 4 anos começamos a fazer esse reuso da água. Tudo que é usado nas máquinas de lavar é reutilizado para outros serviços. A vantagem, economicamente falando, foi tanta que investimos em outros recursos para economizar não apenas água, mas energia e também reutilização do lixo e estamos sempre de olho no que podemos melhorar", conta.