A alta no número de infecções pelo novo coronavírus que o Distrito Federal registra há, pelo menos, um mês reflete na ocupação dos hospitais públicos e dos particulares da capital federal, levando profissionais de saúde à exaustão. Segundo a Secretaria de Saúde, em um intervalo de dois meses, o afastamento de servidores por síndromes gripais aumentou 268,72%. A maioria das ausências é de pessoas que atuam no atendimento direto à população. Até 20 de janeiro, 4,44% dos 35 mil servidores entraram de licença. A média é de 77 pessoas a menos a cada dia. O Governo do Distrito Federal (GDF) garante que haverá novas contratações.
Síndromes gripais podem envolver tanto covid-19 quanto influenza e outras doenças respiratórias. Os dados foram passados pela secretaria durante coletiva realizada, nessa quinta-feira (27/1), na sede da pasta. Em novembro de 2021, houve 422 afastamentos por doenças respiratórias; em dezembro, 863; em 20 de janeiro, havia 1.556 registros. Segundo Paula Lawall, subsecretária de Atenção Integral à Saúde, a maioria dos afastamentos do primeiro mês do ano é de profissionais que atuam diretamente no atendimento primário. "A Secretaria de Saúde vem tomando todos os cuidados de atenção à saúde dessas pessoas e prevenção dessa situação de adoecimento", garantiu.
O secretário Manoel Pafiadache afirmou que a pasta trabalha para repor a mão de obra. "Eles são humanos. É natural que alguns se contaminem e precisem ser afastados. Nosso esforço é para repor esse recurso humano na linha de frente", destacou. Segundo ele, o GDF fará mais contratações. "A Secretaria de Economia vai liberar R$ 32 milhões para contratação emergencial de 62 médicos e 362 técnicos", adiantou. A intenção é realizar essas contratações "o mais rápido possível."
Demanda crescente
Além de síndromes gripais, os profissionais de saúde relatam cansaço extremo. Uma médica da rede pública, que preferiu ter a identidade resguardada, conta que era mais respeitada pelos pacientes e acompanhantes antes da crise sanitária. Há, também, o trabalho intenso. "Não pude tirar férias durante o auge da pandemia, e tivemos de trabalhar triplicado. Isso fez com que os profissionais ficassem muito cansados. Fora quem pegou a doença e tinha que trabalhar com a mesma disposição. É uma profissão como qualquer outra, ninguém consegue ajudar as pessoas quando está doente", desabafa. Com 23 anos de profissão, ela não vê possibilidade de mudança.
Uma técnica em enfermagem, também da rede pública, avalia que a demanda de atendimento aumentou, enquanto há menos profissionais disponíveis. "O hospital voltou a atender outras patologias que não covid-19, então está muito cheio. Para o pronto-socorro, está muito pesado, também por conta do número de afastamentos, porque muitos colegas estão adoecendo, com covid, e o número de pacientes não diminui — pelo contrário, aumenta. Estamos atendendo por hora extra, cobrindo os colegas, para fechar a escala", detalha a servidora, que preferiu não se identificar.
O Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Brasília (SindSaúde) afirma que, em algumas unidades básicas de saúde (UBSs), mais de 50% do efetivo está afastado. Para a presidente Marli Rodrigues, a situação é desesperadora. "O servidor que cuida das pessoas também fica doente e precisa se afastar, mas é preciso substitui-los. É urgente que se façam contratos emergenciais para suprir os afastamentos. Neste momento, salvar vidas é a missão mais importante", frisa.
Ômicron
Um médico, também sem se identificar, ressalta que a alta transmissibilidade da variante ômicron, predominante no DF, atrapalha os atendimentos na rede pública. "Estamos no terceiro ano de pandemia, e as ondas de novas variantes deixam os profissionais e o sistema estressados. Muitos colegas, de todas as áreas, estão adquirindo covid-19. Temos de ampliar todas as medidas, como a vacinação, para evitar a disseminação da variante ômicron", alerta.
Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Dalcy Albuquerque explica que, para frear a nova cepa, as práticas são as mesmas indicadas desde o início da pandemia. "Usar máscaras, usar álcool em gel, lavar as mãos com frequência e evitar aglomerações", enumera o médico. Mesmo que a variante ômicron seja menos letal do que outras cepas do vírus, o infectologista não indica contaminação como forma de combate à pandemia. "A ômicron provoca uma doença e precisa ser evitada. Não podemos ficar contentes por ficar doentes, porque o que pode acontecer é imprevisível", aconselha.
Por consequência do pico nos casos e no contágio, o sistema de saúde do DF tem mostrado sinais de lotação. Até a última atualização da Secretaria de Saúde do DF, os leitos públicos separados para o tratamento de adultos com a doença estavam 97,10% tomados, enquanto a taxa na rede particular atingia 58,20%. Na terça-feira, a ocupação nos hospitais públicos da capital chegou a 100%.