Responsável por abastecer todos os hospitais da rede pública e os conveniados da rede privada, a Fundação Hemocentro de Brasília (FHB) sofre com a redução de doações de sangue no Distrito Federal. O problema é sazonal e ocorre no período de férias. Com os estoques diminuindo, procedimentos de rotina e cirurgias eletivas, que dependem de transfusões, ficam comprometidas e podem até mesmo não acontecer.
De acordo com a chefe da Seção do Ciclo do Doador da Fundação Hemocentro de Brasília, Kelly Barbi, toda doação é importante e há uma diretriz para minimizar o impacto nesses momentos de desabastecimento. "Como sabemos que haverá uma redução, adotamos estratégias preventivas. Entramos em contato com os doadores por telefone e e-mail para lembrá-los de voltar ao Hemocentro, de colocar esse gesto na agenda antes da viagem de férias", afirma.
O advogado Flávio Benedito de Lima, 55 anos, morador de Luziânia (GO), reservou a manhã de ontem para fazer a sua parte. Após ter recebido a informação sobre a situação das doações, não perdeu tempo. "Eu doo com frequência e aí eles me ligaram para fazer o agendamento. Falaram que o estoque está baixo e que necessitavam de doação de sangue", disse. "A gente doa por conta do bem-estar que causa na pessoa e para poder salvar vidas, ajudar o próximo", destacou Flávio.
A estudante Milena Gabriela, 21, moradora de Samambaia, também resolveu se antecipar quando soube, por meio do Correio Braziliense, que o Hemocentro precisava de seus voluntários. "Já tenho o costume de doar sangue e vi na reportagem que o nível está crítico e resolvi vir hoje", contou. Para Milena, as pessoas precisam perceber que a doação é fundamental para a saúde de todos.
Necessidade
Entretanto, nem sempre a mobilização é suficiente. "Atualmente, os grupos sanguíneos negativos estão em níveis baixos, especialmente os grupos O e B negativo", alerta a chefe da Seção.
Além da redução típica, ela acredita que o número crescente de contaminações por covid-19 — variante ômicron — tem desestimulado as pessoas a fazerem as doações. Na primeira metade de 2022, o fluxo de doadores caiu mais de 20%, cenário que ela afirma se repetir em outros estados. Felizmente, o DF ainda não enfrentou um aumento na demanda por hemocomponentes, o que dá tempo para a recuperação das reservas. "Até quarta-feira, nossa média diária de doações melhorou um pouco, está em 156 coletas por dia, mas na primeira semana de 2022 foi de 125 coletas por dia. O ideal é que o Hemocentro de Brasília colha entre 160 e 180 doações diárias", explica.
Ela enumera que o material doado pode servir para diferentes procedimentos: "cirurgias de grande porte e transplantes, tratamentos de pacientes com câncer e pessoas com anemias crônicas e doenças falciformes, vítimas de traumas e hemorragias". Embora em alguns casos seja possível tentar outras alternativas, quando a transfusão é necessária não há medicamento capaz de substituí-la. Além disso, alguns dos hemocomponentes que integram o sangue possuem tempo de estocagem mais curto, o que justifica a necessidade frequente de novas contribuições.
"Quando os níveis permanecem em níveis críticos por muito tempo, há risco de adiamento de cirurgias e outros procedimentos eletivos para que não falte o sangue e os seus derivados para casos de urgência e emergência", salienta Barbi.
*Estagiária sob a supervisão de Juliana Oliveira