Saúde mental

Rede pública fez 48 mil atendimentos psicossociais a crianças e adolescentes em 2021

Secretaria de Saúde registrou 48 mil atendimentos psicossociais de crianças e adolescentes em 2021. Em 2020, foram 28 mil. Crescimento de 50%

Diante do janeiro branco, campanha do Ministério da Saúde que chama a atenção para as questões relacionadas à saúde mental e emocional, um levantamento da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), obtido com exclusividade pelo Correio, mostra que crianças e adolescentes têm estado mais vulneráveis. O número de atendimentos psicossociais aumentou 50% de 2020 a 2021, passando de 28 mil para 42 mil. Comparado ao período pré-pandemia, em 2019, o crescimento foi de 0,3%, com 41,8 mil consultas.

Thiago Fagundes - pri-2901-sessõespandemia Pandemia atendimento psicológico

Maitê (nome fictício), 15 anos, é uma das 17 mil pacientes do Adolescentro, na Asa Sul, que começaram tratamento psicológico em 2020, especificamente em dezembro. Com diagnóstico psiquiátrico para depressão, a moradora do Gama usa medicamentos para transtorno de ansiedade. Em julho de 2017, a jovem perdeu o avô materno, o qual considerava como um pai. "Ela ficou uns 20 dias calada, e, depois, colocou tudo para fora, chorou e se desesperou", lembra a mãe de Maitê, 40.

O psicólogo Roberto Soares Bugarin, 49, atende mensalmente no Adolescentro. Segundo o especialista, o início da pandemia expôs problemas de relacionamento em muitos lares. "A gente via o quanto era importante esses tempos de pausa na rotina, em que a falta de diálogo ficou nítida na família", analisa.

Roberto avalia que a pandemia piorou a qualidade do sono dos jovens. "Toda essa falta de rotina foi trazendo problemas para os adolescentes, principalmente de ansiedade, humor, tristeza, isolamento social e depressão", enumera. O psicólogo incentiva os pais a terem mais convívio com os filhos. "Normalmente os pais trabalham o dia inteiro, mas precisam dar essa atenção", orienta o profissional.

Atenção é o que a mãe de Kelly Freitas Borge, 17, a professora infantil Lucinéia Ferreira de Freitas, 47, buscou dar à filha com o atendimento psicológico, iniciado em julho de 2021. Moradoras de Valparaíso (GO), no Entorno do DF, ela percebeu que a adolescente não se abria com ela para expor os problemas. "Ela fazia tratamento aqui em Goiás com 4 anos porque era hiperativa, e parou aos 6, mas voltou só agora aos 16 no Adolescentro", relata a mãe.

Lucinéia detalha que a filha tinha o costume de cortar algumas partes do corpo. "Teve uma vez que estava um dia quente e peguei ela com um casaco, mas quando vi dentro, ela estava com vários machucados", recorda. Após o tratamento, ela começou a ficar mais tranquila com a mãe. "Ela se abriu mais comigo, ficou menos respondona", finaliza a progenitora.

Família e escola

Maitê é um exemplo de que a maior procura por atendimento nos últimos três anos foi do público feminino. Entre 2020 e 2021, as sessões mais que triplicaram, indo de 4,2 mil para 14,5 mil. Ao total, foram 22,8 mil atendimentos para esse grupo no triênio. Em 2019, a Secretaria de Saúde registrou 4 mil sessões.

Psicóloga formada pela Universidade de Brasília (UnB), com mestrado em educação infantil e doutorado em Bullying, Raquel Manzini comenta que os jovens apresentam queixas como solidão e dificuldade de relacionamento interpessoal na escola. "Falam frases como 'eu não sei me relacionar mais, ou ainda a percepção de que as redes sociais em excesso fazem mal a autoimagem e autoestima", argumenta.

Raquel acredita que a psicoterapia ajuda os jovens a organizarem a rotina em prol dos valores que eles têm ou descobrem. "Por exemplo, o valor é ter amigos, e a rotina envolve melhorar a relação com a família, se aproximar dos colegas da turma e entrar em grupo de estudos", sugere. Nesse sentido, a rotina tem que fazer sentido para esta geração, desfocada de temas como empatia, ética, solidariedade e equidade. "As crianças e adolescentes pedem ajuda de muitas formas e nem sempre são acolhidos", completa a especialista.

Com um número de consultas duas vezes maior nos últimos dois anos, a Secretaria de Saúde registrou uma procura dos meninos de 5,3 mil, em 2020, para 14,4 mil no ano passado. Há três anos, apenas 845 garotos fizeram terapia em uma unidade de saúde do DF. No total, 22,8 mil jovens do sexo masculino tiveram atendimento psicossocial no período completo.

Entre os jovens de sexo não informado, houve baixa de aproximadamente 29% de 2020 para 2021, com redução de 18,3 mil para 13 mil atendimentos. Em 2019, foram 34,6 mil, quase três vezes menor do que a quantidade de terapias do ano passado. Ao total, foram feitas 66 mil sessões no triênio. 

Carlos Vieira/CB - Mãe e filha no Adolescentro, da Asa Sul. Local de acolhimento
Carlos Vieira/CB - 25/01/2022 Crédito: Carlos Vieira/CB. Cidades. Aumento dos atendimentos psicossociais no DF 2019 a 2021. Mãe e filha no Adolescentro na 605 Sul.
Carlos Vieira/CB - 25/01/2022 Crédito: Carlos Vieira/CB. Cidades. Aumento dos atendimentos psicossociais no DF 2019 a 2021. Mãe e filha no Adolescentro na 605 Sul.
Carlos Vieira/CB - 25/01/2022 Crédito: Carlos Vieira/CB. Cidades. Aumento dos atendimentos psicossociais no DF 2019 a 2021. Mãe e filha no Adolescentro na 605 Sul.

 

Onde receber tratamento

Asa Norte

Caps 1 (Infanto-juvenil). Telefone: (61) 2017-1990. E-mail: capsi.asanorte@yahoo.com.br

Recanto das Emas

Caps 1— Centro de Atenção Psicossocial Infantil. Telefone: 2017-1145 (ramal 6001). E-mail: capsi.cgsre@gmail.com

Sobradinho

Caps 1— Centro de Atenção Psicossocial Infantil Telefone: 2017-1145 (ramal 1238)

E-mail: capsisobradinho@gmail.com

Taguatinga

CAPS 1 Centro de Atenção Psicossocial Infantil
Telefones: 2017.1145 (Ramal 4260) / 9 9124-2067. E-mail: capsitaguatinga@gmail.com

Centro de Orientação Médico-Psicopedagógica (Compp)

Atende crianças de 6 a 12 anos. Telefone: 2017-1992

Adolescentro

Atende jovens de 12 a 17 anos.Telefone: (61) 2017-1991. E-mail: adolescentro.df@gmail.com