Com o início da vacinação das crianças de 6 e 7 anos, no sábado (22/1), muitas famílias brasilienses comemoraram o alívio de ver o novo público-alvo mais protegido contra a covid-19. A aplicação do imunizante para essa faixa etária ocorreu com doses da CoronaVac em quatro unidades básicas de saúde (UBS). No entanto, dois endereços só funcionaram pela manhã. Neste domingo (23/1), serão sete pontos abertos para imunização de meninos e meninas, em seis regiões administrativas.
Na UBS nº 2 da Asa Norte, havia três salas de vacinação para crianças e duas para adultos. Supervisor da unidade, Rodrigo Castro informou que a separação ocorreu para melhor atendimento da população. O endereço teve intensa movimentação durante todo o dia, com longas filas. Por volta das 16h, os portões se fecharam. Márcia Parreira Chaves, 44 anos, sentiu alívio depois de ver a caçula, Isadora Chaves, 6, receber a primeira dose. "Aguardávamos ansiosamente a hora dela. A Laura (irmã de Isadora) se vacinou no domingo passado. Agora, a família toda está com vacina no braço", celebrou a relações públicas.
Atendido nesse sábado (22/1), Henrique França, 6, inovou ao visitar o posto de saúde. Fantasiado de Harry Potter, carregava um cartaz com frase em referência à série de livros e filmes: "Trouxa é quem não acredita na vacina". Na obra literária, o termo "trouxa" é usado em referência a pessoas sem poderes mágicos. O pai dele, Thiago França, 37, contou que a escolha da fantasia partiu do próprio filho. "Ele acredita muito na magia. E o Harry Potter se torna um herói, assim como a vacina, que tem salvado vidas", comentou o publicitário. "Para nós, ela é muito importante, e recebemos com alívio a notícia de poder imunizá-lo."
A reportagem do Correio acompanhou, durante toda a semana, a campanha de imunização de pessoas com menos de 12 anos em diversas regiões administrativas. E a consciência sobre a importância da vacinação não partiu só de pais e responsáveis por elas: com apenas 11 anos, Luigi aguardava empolgado na fila da UBS nº 2 de Sobradinho 2. "Queria me vacinar antes, mas não tinha muitos estudos (sobre a aplicação em crianças). Tive de esperar até liberarem. Isso é importante porque, assim, evitará que as pessoas morram", argumentou o menino.
Acompanhado do avô Elmar Torres, 59, e da mãe, Vitória Torres, 29, Luigi não escondeu a alegria de receber a primeira dose. Professora, Vitória contou que o filho era o único que faltava para receber a dose. "Meu pai tomou o reforço da vacina, assim como minha mãe, de 51 anos, e minha avó, de 81. Desde o começo da pandemia, respeitamos as restrições e temos tomado todos os cuidados. Evitamos sair (de casa) se não for realmente necessário", enfatizou a moradora de Sobradinho 1.
Prevenção
A infectologista Ana Helena Germoglio enfatizou que, no atual momento da pandemia, não se vacinar é um risco. "Com a taxa de transmissão que temos e a alta circulação viral, não se imunizar é apostar no desconhecido. Uma pessoa assim tem mais chances de desenvolver formas graves da doença", afirmou. A médica destaca, ainda, que as formas de prevenção contra o Sars-CoV-2 não mudaram desde o começo da crise sanitária. "As máscaras são nossas melhores amigas. São um método barato e simples de proteção. E, claro, agora, existe a vacina. Essa é a dupla de segurança", completou.
Outra família que deixou o posto de vacinação mais tranquila esta semana foi a de Diego Macedo, 8. Apesar da injeção, um temor para algumas crianças, ele garantiu: "Já fui picado três vezes por abelhas. A vacina nem doeu tanto". Pai do menino, o servidor público João Macedo, 56, confessou que teve momentos de preocupação. "Foi difícil (esperar as doses). Mas acreditamos em Deus, na ciência e, consequentemente, no poder da vacina. Nossa obrigação é usar o recurso que temos (para nos proteger)", comentou. "É um alívio ver todos seguros", reforçou.
Com 8 anos cada, Rafaella e Yazmim, combinaram de se vacinar contra a covid-19 na última quinta-feira (20/1), na UBS nº 1 do Cruzeiro. As duas amigas estavam ansiosas para receber a primeira dose e, também, para proteger os mais próximos. "Isso vai ajudar todo mundo da minha família e meus amigos a ficarem muito bem", reconheceu Rafaella. "Eu vim pela nossa amizade", completou a colega. As duas estiveram na unidade de saúde acompanhadas das respectivas mães, Paula Barros e Daniela Valentim, que não esconderam a emoção.
Exposição
Ciente da importância de completar o ciclo da imunização, Carlos Rogério Ribeiro, 57, receberá a terceira dose até o fim deste mês. "As pessoas devem se vacinar. Graças a Deus, não perdi familiares para a covid-19, mas amigos meus acabaram não resistindo à doença. Por isso, a vacinação das crianças também é um alívio, pois sabemos que nossos filhos estão protegidos. Lá em casa, faltava só meu filho João Pedro, de 9 anos. Agora, todos tomamos as doses", comemorou o professor.
A vacinação de Nicole Sabino, 11, foi acompanhada de perto pela família. A mãe dela, Beatriz Cruz, 33, não deixou de registrar o momento especial. "Estamos bem felizes. Meus pais são idosos, e só faltava ela para estarmos protegidos. Principalmente agora, com a volta às aulas. Eu me sinto mais segura por saber que ela está vacinada", disse a servidora pública, que viu uma tia ficar internada devido a complicações provocadas pela covid-19.
O médico infectologista Werciley Júnior pontuou que a vacina exerce papel importante ao evitar a gravidade das infecções pelo Sars-CoV-2. "A imunização também evita que as crianças sejam 'reservatórios' da covid-19. Isso porque, quando alguém não está vacinado, a carga viral no corpo é mais alta, e o vírus fica por mais tempo no organismo. Ou seja: a transmissão ocorre por um período mais longo. Outro fator é que populações vacinadas diminuem a formação de variantes e produzem cepas menos virulentas", acrescentou.
Artigo
Faça sua parte. Vacine-se
Por Joana D'Arc Gonçalves, infectologista
Por meio das vacinas, conseguimos erradicar e controlar doenças graves e de alta transmissibilidade. A longevidade alcançada por muitos países se deve ao controle de doenças infectocontagiosas. No cenário atual, em que buscamos estratégias de combate ao vírus Sars-CoV-2, sabemos que os desafios são grandes e que o caminho mais curto para vencermos essa batalha é por meio dos imunizantes.
Além de todos os desafios enfrentados no início da pandemia — como identificação do vírus, sequenciamento genético, descoberta das formas de transmissão e de medidas não farmacológicas de controle, além do desenvolvimento de vacinas e tratamentos eficazes —, hoje, temos o desafio de sensibilizar a população de que a imunidade coletiva por meio da vacinação é a solução mais factível para voltarmos ao estado de normalidade das nossas atividades. Quanto mais pessoas imunizadas, menor a circulação viral, menor a possibilidade de seleção de variantes, menos doentes e menor mortalidade.
As vacinas continuam como a nossa melhor linha de defesa, e todos aqueles que não receberam a primeira ou a segunda dose, bem como os elegíveis para a dose de reforço, devem ser encorajados a se vacinar, para ajudar a proteger a si próprios e ao coletivo. A variante ômicron apresenta muitas mutações da proteína spike, bem como em outras partes do genoma viral, e tem alta transmissibilidade. Isso ocorre devido aos bolsões de não imunizados, responsáveis pela manutenção do ciclo viral. Não permita que essa pandemia continue. Faça sua parte. Vacine-se.