Ele tem nome de centroavante norueguês, mas é muito brasileiro e muito brasiliense: Endrick. É o atacante do Palmeiras, de 15 anos, sensação da Copa São Paulo, que desponta como novo craque e desperta a atenção nacional e internacional. A cada golaço, os jornais espanhóis repercutem e especulam sobre o interesse dos grandes clubes europeus. Estão levando nossos craques cada vez mais cedo, daqui a pouco passarão a contratar ainda em embrião.
Os olheiros do Barcelona vieram acompanhar, ao vivo, os jogos do garoto brasiliense. O futebol mudou muito nas últimas décadas, e o Brasil ficou para trás. Tornou-se um jogo mais científico, mas que depende, ainda, muito do talento. Faz tempo que o Brasil não revela uma geração com quatro ou cinco craques. Foi o que garantiu as conquistas das Copas de 1958, 1962, 1970 e 1994 e 2002.
Sempre me lembro da linda canção do peladeiro Moraes Moreira, na esperança de que surja uma nova geração de craques: "Escola aqui é de samba E bola é arte do povo/Sua alegria Deus manda/Nasce um Garrincha de novo/Quem sabe tem mais de um/Quebrando a casca do ovo". Talvez, a chegada de Endrick seja um sinal de Brasil.
Ouço os comentaristas dizerem que o Gabigol finaliza bem. O que vejo nos jogos não bate com o que ouço. Para cada gol que faz, Gabriel Pereira perde, em média, três chances reais. Embora seja um bom atacante, seria mais justo apelidá-lo de Gabiquasegol. É cedo para cravar, mas o Endrick parece ser da linhagem dos grandes craques brasileiros.
Como se sabe, torço para o Corinthians, mas, antes de tudo, torço para o bom futebol. Bati palmas e tirei o chapéu imaginário para o Botafogo de Gérson, o Santos de Pelé e Neymar, o Barcelona de Messi, o Palmeiras de Rivaldo e o Flamengo de Jorge Jesus. Assisti a alguns jogos do Palmeiras somente para ver Endrick.
E, realmente, o garoto tem as qualidades dos grandes craques brasileiros. Revela uma maturidade incomum para um jogador de apenas 15 anos. Ostenta um repertório muito rico de recursos. É forte, habilidoso, veloz, pensa rápido, se coloca bem, dribla e finaliza bem. Entrou no segundo tempo e fez dois gols em 20 minutos contra o Real Ariquemes, de Roraima. Jogou 171 vezes e fez 170 gols. No anos passado, foi, a um só tempo, campeão sub-15, vice-campeão sub-17 e campeão sub-20 pelo Palmeiras.
Ele tem a precocidade e o instinto do gol. Naquele átimo de segundo crucial, quase sempre, ele toma a decisão mais lúcida e fulmina as redes adversárias. No jogo contra o Oeste, Endrick observou o rebote da bola, se posicionou e deu uma meia-bicicleta, de fora da grande área, que foi morrer no ninho da coruja da rede do time adversário.
Tite jamais faria isso porque é cauteloso e conservador, prefere convocar Daniel Alves ou Felipe Coutinho. Mas eu queria ver o Endrick com a camisa da Seleção Brasileira na próxima Copa, na reserva, para entrar em alguns jogos. Não levaram Ronaldo Nazario para a Copa quando tinha 17 anos? Endrick passou muita necessidade, tem fome de bola e tem estrela. Quem sabe aparece mais de um craque quebrando a casca do ovo.
É muito bom quando, em meio ao grande aparato dos megaespetáculos, tem algum menino ou alguma menina para levar a inocência e a audácia brasileiras de brincar, como fez Raissa, a fadinha maranhense no skate. Estou com saudades do Brasil. É muito bom quando o Brasil é Brasil.